quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Do Composto a Madeira!

Comecei nesta vida faz um bocadinho de tempo, desde quando fibra de vidro era quase novidade... parece muito, mas até a década de 1970 quase barco algum era feito deste tipo de material.

Minhas primeiras experiências profissionais variaram da madeira tradicional ao Airex®, o precursor dos materiais compostos atuais. Assim que sai da Escola de Oficiais da marinha Mercante, fui trabalhar numa empresa (já fechada) chamada Frota Oceânica Brasileira, quando o Boom da construção naval do Brasil começava a dar sinais que iria declinar. Naquela época construíam navios em grande quantidade, quase que a esmo, foram muitos os casos de navios graneleiros entregues a empresas que somente operavam carga geral, e por ai adiante!

Fui convidado a Imediatar um iate, que estava sendo construído em Santa Catarina, o Fabíola, projeto do Norte-Americano, de origem grega, Tom Fexas. Era um barco extremamente revolucionário para a época, tanto que trinta anos depois, ressurgiu das cinzas e se tornou um dos barcos mais elegantes dos anos 2011!

O casco foi montado em um galpão, na beira do rio que liga Joinville a Baia da Babitonga, um local esquecido pelo tempo e ainda desconhecido dos ecologistas naquela época. A obra tocada por um descendente de alemães chamado Arno, teve momentos épicos, alguns felizes e outros nem tanto. O citado Arno, era uma pessoa muitíssimo capaz, obstinada, teimosa, meticulosa, detalhista e extremamente detalhista, com isto a construção do barco demorou o dobro do que deveria e custou umas três vezes além do esperado, ou viável para tornar aquele projeto comercialmente possível, pois a proposta (ou desculpa) era produzi-lo em serie.

Foi feito um plug, depois revestiram o mesmo de sarrafos de madeira e o recobriram de plástico. Feito isto modelaram a quente, as placas de Airex® e aplicaram sobre o casco já revestido um farta camada de resina plástica, depois laminando mantas e tecidos de fibra de vidro em quantidade. Feito isto, reforçaram a estrutura do galpão, criaram um enorme sistema de força e viraram o plug, para que o casco fosse colocado na forma que permitisse desmontar a estrutura interna de madeira, e laminassem tudo internamente, para só depois poderem montar o barco, propriamente dito.

Infelizmente, não há como contar uma historia de alguns anos em poucas linhas, mas fica uma idéia da saga de alguns homens, calcada no capital de outros mais bem nascidos, e que levaram a mais uma pagina inacabada na industria náutica de nosso pais.

Passei um ano na cidade, morando em hotéis e engordando com a farta comida catarinense, depois que deixei o Estaleiro Hansen, pertencente ao mesmo grupo da Tubos Tigre, embarquei na função de Navegador, em um veleiro de quase 40 anos, construído em madeira, que comentarei em minha próxima memória.