quarta-feira, 8 de agosto de 2018

Tradição Adotada


Alguns anos atrás, meu grande amigo, estava se preparando para partir em solitário em seu veleiro Multichine 28, rumo a distante e gélida Cape Town. Na ocasião, resolvi presenteá-lo antecipadamente, pois iria passar seu aniversário em meio as enormes vagas do Atlântico Sul.

Conhecendo sua queda por um determinado doce, comprei duas latas de doce de coco, uma do branco e outra do queimado. Retirei os rótulos e embrulhei as duas como num cilindro, para que não pudesse identificar o conteúdo do embrulho. Anotei em letras grandes: Para ser aberto no seu Aniversário.

Dias atrás, assistindo um programa de vela na TV, acompanhei os preparativos da partida de um aventureiro celebridade da Nova Zelândia. O tal pop-sailor, provavelmente apadrinhado por um enorme patrocínio, embarcou em um veleiro de aproximadamente 70 pés, todo automatizado, cheirando a estaleiro e seguiu pelo Mar da Tasmânia ou outra passagem entre as ilhas do Pacifico.
Porém, o que me chamou a atenção, foi que na noite anterior à partida, os amigos se reuniram à bordo para a festa de despedida, levando consigo algumas latas sem rótulo, anotadas apenas com o nome do “presenteador” e a data de validade do produto. Mais ou menos como fiz, como acima comentado.

De agora em diante, quando alguém me convidar para o lançamento de um barco de cruzeiro, seja a vela ou motor, pretendo levar algumas latas de algo bem saboroso, para que a pessoa abra a mesma quando estiver em um lugar especial, seja numa linda baia ao entardecer, como nos primeiro momentos de relaxamento após uma baita tempestade.

Anote ai:
1.       Escolha uma lata de algo bem saboroso (o que as vezes pode ser difícil);
2.       Retire o rótulo;
3.       Anote o seu nome e a data de validade do produto;
4.       Leve para bordo acompanhado daquilo que for beber a bordo, no “Bota Fora” de seu amigo cruzeirista;

Tenha certeza que será bem lembrado, e por um longo tempo.

Retornando ao meu amigo, no dia do seu aniversário, em meio a uma baita tormenta, ele desembrulhou o pacote a após abrir a lata-surpresa foi apanhado por uma vaga e acabou deixando cair o precioso conteúdo sobre o piso salpicado de oceano do oscilante barco. Porém, naquela latitude e condições foi obrigado a recolher tudinho e comer de qualquer forma, não havia como abrir mão de tal delicia, mesmo temperada de sal. Certamente, ele irá se lembrar da surpresa e da experiência, para todo sempre!

Acredito que seja uma Tradição a ser adotada, não minha e nem dos Neozelandeses, mas simplesmente de gente do mar!

Bons Ventos!

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

SEU BARCO É SEGURO?

Estamos quase encerrando o verão 2018, e felizmente não registramos as tragédias de 2017, quando um número enorme de embarcações pegou fogo, e contabilizamos além das perdas materiais, algumas lamentáveis vítimas fatais. Afinal de contas, uma atividade de laser não deveria envolver riscos a seu patrimônio, e muito menos à sua família. Infelizmente, não é o que acontece.

Nestas horas, surge a pergunta: será que meu barco é seguro? Será que posso sair despreocupadamente para passear, sem ter de viver um pesadelo? A resposta está na atitude de cada proprietário de embarcação, algo que nem sempre é levado a serio.

Uma lancha a gasolina costuma custar bem menos do que uma a diesel, porém alguns cuidados precisam ser tomados, para que nada de mal aconteça. SEMPRE, antes de dar partida no ou nos motores, é mandatório abrir a tampa dos motores. Não confie na ventilação forçada, o blower, como solução para qualquer eventualidade. Sabemos que os gases da gasolina podem se acumular no fundo do barco, e uma fagulha pode causar uma enorme explosão. Mangueiras de combustível baratas, podem ressecar e vazar o combustível pelo porão, e o resultado pode ser o mesmo.

Imagine a situação: a família embarca e seus filhos de aboletam no solarium de popa. Você pensa e tenta abrir a tampa, sob os colchonetes, mas a choradeira é geral e você aciona a ignição, com as tampas fechadas. Se nada de errado acontecer, bem. Caso contrário, poderá perder sua vida com a economia de um momento de “chatice”. Em minha vida profissional, de quase quarenta anos, já fui chamado de “tio”, “chato” ou metódico inúmeras vezes, porém nunca perdi nenhum tripulante ou passageiro por seguir regras de segurança.

Vazamentos de combustível é apenas um dos problemas que podem acontecer, mas existem vários outros. Extintores vazios ou vencidos, é outra ocorrência bastante comum. Desde que as Capitanias deixaram de fazer as vistorias anuais, ninguém mais se preocupa com os extintores. Falha muito comum é deixá-los embrulhados em plástico transparente, esperando que isto evite a corrosão. Ledo engano, é desta forma que eles são corroídos mais rapidamente. Se quer conserva-los, melhor seria aplicar um leve borrifo de silicone ou vaselina líquida sobre toda a superfície, mas nunca deixar de realizar o controle e verificação de carga e estado do cilindro. Diferente dos automóveis, a possibilidade de evitar um incêndio a bordo é real.

Se imaginarmos uma explosão no compartimento dos motores, um pequeno extintor de dois quilos, pouco poderá fazer. Porém, quando algo começa a fazer fumaça na cabine, e se inicia um incêndio que pode trazer consequências enormes, o extintor pode realmente salvar a situação.

O ideal é sempre desligar as chaves de energia, cortando a alimentação do barco, e com isto evitando que o maior causador de incêndios, perca sua alimentação. Realmente, a parte elétrica de um barco é seu maior perigo. Contatos mal apertados, emendas sem isolamento, aquecimento devido a falhas no dimensionamento dos cabos, estão entre as principais causas. Não esqueça que barcos de fibra-de-vidro, são na realidade, barcos de plástico reforçado com fibra de vidro, onde não raramente, cerca de 70% do casco é resina plástica. Plástico inflama, e muito!
Por fim, e não menos importante é outro tipo de combustível, o álcool. Infelizmente, é muitíssimo comum as pessoas pilotarem sob efeito da embriaguez causada pela ingestão de álcool. Não há como passar uma jornada de domingo totalmente “careta”, afinal de contas os barcos são o melhor meio de relaxamento de que as pessoas dispõe. Calor, gente bonita, água morna, churrasco na popa, comidinhas fritas, frutos do mar e muita caipirinha, cerveja e espumante, dependendo do caixa de bordo! Agora, se você paga um tripulante para sair com você, é evidente que é para ele conduzir o barco “em segurança para o porto de regresso”. Esqueça que sabe pilotar, e faça de conta que está na cidade, e que o bloqueio da Lei Seca pode lhe pegar na primeira esquina. Deite no colchonete, desligue a macheza e relaxe.

Evidentemente, se for pernoitar fundeado e não oferecer riscos a terceiros, vai fundo! Apenas, esteja seguro que o tempo está firme, e que não vai ter de manobrar às pressas, no meio da noite, com um baita de um Sudoeste arrastando seu barco para perto das pedras. Certa vez, entrou uma porranca dentro do Saco do Céu, e amanheci com três veleiros enrolados no meu cabo de âncora. Eles foram arrastados pelo vento, e como a noite anterior havia sido da pesada, não tivemos como acordar as tripulações, esperando o dia raiar e que os mesmos voltassem a “funcionar”. Demoraram um pouco para compreender o que havia acontecido, mas aos poucos manobraram e partiram, sem avarias. Se não fosse nossa amarra, teriam arrastado até a margem.

Com estes poucos cuidados, poderemos evitar os maiores causadores de acidentes a bordo. Gases inflamáveis, negligência e direção perigosa. Simples assim.


Bons Ventos!