A primeira vez que entrei no Saco
do Céu, fiquei totalmente embasbacado! Foi no inicio dos anos 1980 e era o
retrato mais próximo do paraiso em que alguém ainda vivo poderia admirar.
A mata virgem, fechada, sem quase
sinal da raça humana ao seu redor, apenas um ou dois telhados de casas de
pescadores. As aguas transparentes permitiam visualizar estrelas do mar a mais
de sete metros de profundidade, e durante a noite – e principal motivo de assim
ser batizado – podiamos ver o reflexo das estrelas na superficie vitrificada de
suas aguas, bons tempos aqueles.
Para quem conhece bem aquele
recanto, sabe que apesar do excelente abrigo, durante a primavera e o verão
podemos ser surpreendidos por tormentas violentas, precedidas de inúmeras
descargas elétricas, que culminam com chuvas torrenciais e rajadas muito fortes
de vento, e eu mesmo já registrei perto de cinquenta nós de vento e chuva quase
horizontal, numa noite tenebrosa perdida no tempo, mas ainda viva na memória. Amanhecemos
com quatro veleiros enganchados em nossa amarra, cujos comandantes
(sobreviventes de mais um encontro de pilotos da Varig) não conseguiam
assimilar direito os fatos, naquela manhã de aparente forte ressaca.
Porém, os anos se passaram, os “castores”
roeram varias árvores, pessoas depredaram algumas praias, surgiram inúmeros
telhados de caçadores de riquezas e o Saco do Céu acabou Nublado, quase
decadente, mas sem perder seu charme e seu poder de hipnotizar as pessoas que o
visitam.
Alguns anos atras, escrevi para a
Coluna Farol da Revista Nautica, um desabafo contra aqueles que não têm um
mínimo de consciencia em relação à natureza que precisa ser preservada, sem
querer cair em lugares comuns, alertava sobre o fato que aquele recanto em
particular não é protegido pela natureza, no sentido de que sua orla interna
não é formada por um enrocamento natural, como a maior parte daquela região, ou
seja, voces não encontram pedras no perímetro interno e sim um barranco de fragil
cobertura vegetal. O que acontece quando uma lancha entra ali em alta
velocidade, é a formação de uma marola que vai atingir a orla, destruindo a
borda do Saco, fazendo com que o barranco desmorone e o sedimento seja lançado
no mar. Depois, este sedimento se acumula no fundo da pequena enseada, turvando
suas águas e criando um fundo de lama mole, de péssima tensa. Este fundo não é
bom para as nossas âncoras, às vezes nos obrigando a rocegar o fundo, em busca
de uma pega melhor e isto faz com que os sedimentos levantem, mantendo as águas
turvas como já mencionado.
Nos Estados Unidos existem areas
sinalizadas com a seguinte expressão: NO
WAKE AREA, ou seja: É Proibido Fazer Marolas! Mas em nossas águas seria
impossivel, pois pessoas e até mesmo autoridades, entram até nas marinas em
alta velocidade. Fica dificil convencer as pessoas que naquele santuario seria
necessário entrar e sair em marcha lenta, sem marolas e sem bigode, e
sinceramente não da pra entender como perder apenas uns poucos minutos de baixa
velocidade poderiam fazer mal a alguem?!!
Não podemos também, deixar de
perceber a enorme quantidade de casas e luzes ao redor do Saco de Céu, que não
nos permitem mais observar as estrelas do firmamento refletidas da superficie.
Em relação a isto, é fato que a vila de Jericoaquara no Ceará, se orgulha de
não possuir iluminação pública, um de seus diferenciais e que ajudam a trazer
mais e mais turistas. Se não concordam comigo, tudo bem. Lembremos então que provavelmente
a totalidade das propriedades que se espalham pela orla não possuem tratamento
de esgoto algum, assim como a imensa maioria dos barcos que ali trafegam e
pernoitam, isto talvez lhes faça pensar um pouco.
Voltando a nossa campanha de
conscientização geo-ecologica, fica registrado nosso apelo para que estes
velozes pilotos reduzam a rotação de seus motores e controlem seus manetes para
que mais destruição não seja feita, unindo assim o útil ao agradável, eles diminuiem
a velocidade e em (boa) troca desfrutam do incrivel visual, acima ou abaixo da
linha d’água!