Sábado, 26 de Janeiro de
2013.
Nesta curta estadia, tivemos de
desmontar parte da cozinha a fim de sanar problemas no dreno de uma unidade de
ar condicionado, e também nos trilhos de algumas gavetas, coisas que costumam
acontecer sempre às vésperas de qualquer viagem... coisas do tal de Murph! Além disso, alguns reparos e
configurações nos eletrônicos, estavam pendentes fazia algum tempo, e foram
realizados pela Waypoint.
A cobertura de nuvens foi aumentando durante todo o dia e o barômetro indicou uma tendência de baixa. De madrugada, por volta das 03h00, entrou uma pré-frontal no Rio de Janeiro com muitos raios, muito vento e chuva pesada! O barômetro despencou de 1018 para 1010 milibares.
Pela manhã, caia uma chuva fina
na Baia da Guanabara, e assim ficou durante o dia. As 16h00, com um vento de
Noroeste fraco e céu ainda ameaçador largamos os cabos, seguindo viagem para
Salvador, agora com tripulação completa. Adriano, nosso cozinheiro; Adenilson
no convés; Veronesi nas máquinas, eu e Elton, nosso “quinto-elemento”, um
reforço necessário para este tipo de cruzeiro, pois auxilia em todos os
serviços de bordo.
As 16h50 montamos a Ilha do Pai,
com vento Sudoeste de 12 nós e mar começando a tomar direção, mas ainda com
pequenas vagas.
Após o anoitecer, o vento rondou
para Sueste e aumentou de intensidade, chegando próximo dos 30 nós reais,
fazendo nossa velocidade cair abaixo dos 8.0 nós.
Diferente da narrativa de uma
viagem em barco à vela, onde o mar e o vento influência de forma contundente as
manobras e os rumos, em um barco a motor nossa preocupação maior é com a
singradura, ou seja o número de milhas que conseguimos vencer a cada dia, e a
importante tarefa de vigilância externa, desviando de navios e outros alvos que
constantemente surgem pelo nosso caminho.
No Iate/Motor Gattina,
mantemos nosso Radar Banda S (mais confiável quando nos afastamos da costa) em
funcionamento durante quase toda a viagem. Além dele, o plotador de cartas
eletrônicas e outros equipamentos, como rádios VHF e SSB, além do AIS, um transponder que permite identificar as
embarcações comerciais à nossa volta, e que também identifica nosso barco para
todas as outras embarcações, o que trás muito mais segurança em nossa navegação. Fora os
equipamentos, mantemos quartos de vigilância permanentes, onde os tripulantes
se revezam dia e noite.
Domingo, 27 de Janeiro de 2013.
Eram 23h45 quando montamos o Cabo
Frio e colocamos nossa proa rumo a um ponto ao largo do cabo de São Tomé, num
rumo praticamente Nordeste. O vento continuou de Sudeste, e seguimos viagem,
pouco abaixo dos dez nós e com muitos balanços, devido ao mar de través (de
lado).
Pouco depois das 05h00 um
rebocador de nome Norsul Crateús
acabou passando muito próximo, a 0.4 de milha, entre nós e outro rebocador que
descia a costa.
Após clarear, pudemos ver que o
mar havia crescido e que tínhamos algo entre os mares de estado III e IV,
quando os carneirinhos se tornam bastante freqüentes. Seguimos por toda a manhã
com baixa visibilidade, na casa dos cinco a dez quilômetros e muito tráfego de
apoio marítimo, com rebocadores indo e vindo entre as plataformas da Bacia de
Campos e a base na cidade de Macaé. As 10h35 mudamos nosso rumo para os
Abrolhos, deixando para trás um dos trechos mais complicados de nosso litoral.
As 19h00 cruzamos com o navio Blue Angel conseguindo conversar via
radio, com meu grande amigo, o Comandante Pedro Podboy, que cruzou conosco em
sua navegação rumo a uma plataforma mais ao Sul de nossa posição. Começou a
chover fino, e o horizonte para os lados de terra, continuava muito carregado,
como o foi durante todo o dia.
Por volta das 20h00 houve um
problema de aquecimento no gerador de Boreste, e ficamos sem energia por alguns
minutos, sendo logo restabelecida. Continuamos durante a noite, mantendo
velocidades entre os 9 e os 10 nós e já no litoral Norte do Espírito Santo,
deixando Vitória pela esteira.
Segunda-feira, 28 de Janeiro de 2013.
Durante parte da noite, desviamos
de plataformas e rebocadores, mantendo nosso rumo para os Abrolhos.
O mar continuava um pouco
encrespado, e o vento do quadrante Sul, permitia uma viagem um pouco mais
confortável. Passamos pelos Abrolhos, as 14h00 e rumamos para um ponto mais ao
Norte, ao largo de Belmonte.
A Bahia nos brindou com céu
claro, e tivemos o primeiro por do sol descente, desde a saída do Rio. Uma
brisa de Leste se manteve fraca, não impedindo o nosso bom andamento.
Terça-feira, 29 de Janeiro de
2013.
Amanheceu e encontramos mar liso
e brisa suave de terra, nossa marcha se mantinha na casa dos 9 nós. Pirajás, as
conhecidas nuvens de chuva de verão da Bahia nos cercavam por todos os lados,
mas nenhuma ameaça que não fosse um pouco de chuva rápida.
A navegação correu tranqüila o
dia todo, já com Salvador em nosso rumo direto. As 20h00 atrasamos os relógios
em uma hora, acertando com o fuso da Bahia, que não adota o horário de verão.
Poucos minutos após as 23h00,
largamos nossa âncora e trinta metros de corrente de amarra, em frente a
entrada do molhe de proteção da Bahia Marina em Salvador, sob céu estrelado e
os acordes dos trios elétricos que acertavam o som na Cidade Alta, alguns dias
antes do Carnaval.
Nosso log registrava 810 milhas,
desde Angra dos Reis.
Quarta-feira, 30 de janeiro de 2013.
Nas primeiras duas horas do dia,
repusemos o diesel consumido na viagem de ida a Salvador, e após um golpe de
sorte, conseguimos uma vaga na cabeceira C da Bahia Marina, atracando o Gattina,
as 08h25 de uma manhã radiante.
Encontrar um cais com água doce é
muito importante após qualquer travessia, pois o sal tem o poder de penetrar em
toda e qualquer fresta de uma embarcação. Como, muito em breve iríamos receber
convidados, era necessária uma faxina total do barco, interna e externa, além
de abastecer as geladeiras com os víveres necessários às próximas semanas,
quando serviríamos dezenas de refeições.