Os estrangeiros estão chegando!
Na realidade, estão aqui faz um bom tempo, utilizando estaleiros brasileiros
como laboratorios, aprendendo nosso modo de se relacionar com as aguas, e se aprimorando
no sentido de tropicalizar seus barcos, adequando-os ao nosso mercado.
De uns tempos para cá, as
matrizes europeias e norte-americanas dos estaleiros, começaram a se
movimentar, e com a aparente abertura de nosso mercado, desovaram aqui não
somente os barcos acumulados no estoque (encalhados é uma expressão que não se
deve usar), pela crise financeira internacional, mas também projetos de plantas
industriais, que estão em fase de instalação e algumas até de funcionamento no
Rio, São Paulo e Santa Catarina, principalmente.
Por outro lado, alguns estaleiros
brasileiros – antes dedicados apenas aos barcos de recreio, resolveram atender
a demanda de um outro mercado, e estão “batendo quilhas” de barcos de serviço,
geralmente encomendados pela gigante estatal Petrobras ou por suas contratadas.
São barcos de transporte de tripulantes, rebocadores, lanchas de apoio, barcos
de mergulho e todo o tipo de embarcação de trabalho, geralmente de casco
metálico e acabamento espartano, o que não colabora muito para que ganhemos
conhecimento (Know-how) no competitivo
mercado da construção de Super e Mega Iates, dominado pelos estaleiros do
Hemisfério Norte, além de alguns poucos da Oceânia.
Esta situação não deve mudar nos
próximos tempos, pois o petroleo vem tomando todos os espaços sob e sobre as
aguas, visto que até algumas marinas tem tido a infeliz ideia de abrir espaço
em suas vagas, para receber Barcos de Serviço ou mesmo de Transporte de
Passageiros. A maioria de cascos metálicos, com defensas e balrroas de
borracha, manobras às vezes complexas, cabos de amarração desproporcionais e tripulações
não adaptadas ao novo ambiente.
Porém,
uma segunda leva de barcos deve aparecer por aqui, não demora muito. Os Super e Mega Yachts, dedicados à operação de Charter, algo ainda inexistente, mas que deixa avidos seus
operadores, visto que é um mercado quase virgem, e um destino ainda não
trabalhado. No passado, recente ou não, vimos varios barcos gigantescos
circulando em nossas baias, todos pertencentes a grandes empresarios das
comunicações, informática e petroleo estrangeiros, mas poucos se comparados a
pequenas ilhas do Caribe, onde marinas acotoveladas umas as outras, recebem
estes gigantes multimilionarios, dedicados a mais luxuosa (e talvez cara) forma
de turismo jamais criada, o Charter em Super e Megayachts!
Porém,
nosso mercado não se manteve virgem por tanto tempo de forma inocente. A
legislação brasileira criou uma serie de impecilios à operação deste tipo de
barco, e a burocracia praticamente bloqueia sua penetração em nossas aguas. Não
levando em consideração o aspecto de entrada, com finalidade comercial, o que
já seria um problema a mais relativo à vinda destes barcos, sabemos que o ideal
para os operadores, seria entrarem no Brasil como um inocente barco de passeio,
ficando por aqui o tempo permitido, e realizando o Charter Comercial clandestino
em nossas águas.
Porém,
a quilha é mais embaixo, para que possam operar no Brasil, precisam ter uma
empresa que os afrete por aqui, somente assim a Receita Federal vai permitir
que operem em nosso litoral. Seus tripulantes, sempre estrangeiros, tem de obedecer
às nossas regras de imigração e, como aquaviários estrangeiros, terão os
sindicatos locais em seu portaló, exigindo uma cota mínima de tripulação
brasileira, que infelizmente não tem a menor noção do que é tripular um iate de
luxo, e bota muito luxo nisto.
As
Marinas, as poucas que temos, não têm em sua maioria, a menor possibilidade de
atender a este tipo de embarcação, que demanda um cais seguro, para atracação
ao longo do costado (é assim que fazem na America do Norte), precisam de muita
água de qualidade e boa pressão, fornecimento de diesel de qualidade e
preferencialmente sem impostos. Quanto a energia, são necessarias ao menos duas
tomadas de 100 Amp, uma para o ar condicionado e outra para o restante do
barco, o que costuma bastar.
Como
se isto não fosse o bastante, faltam fornecedores de bebidas, comida, reparos e
tudo o mais que envolve uma logistica que precisa ser 100% à proa de falhas, pois
o valor pago pelo aluguel, não permite erros. Na Europa e America do Norte,
existem varias empresas que entregam em seu portaló todos os melhores rótulos
de bebidas, das melhores procedências. Queijos, carnes, trufas frescas,
pescados de todos os tipos, caviares, embutidos da melhor qualidade e conservas
como pesto de nozes, atum e botarga de Favignana, antepastos de berinjela, além
de frutas e verduras premium, que deixariam qualquer cozinheiro feliz.
Enquanto
isto não vem, continuaremos alugando (por preços exorbitantes) barcos mal
tratados, tripulados por pessoas mal vestidas, invariavelmente mal treinadas,
geralmente mal remuneradas e que não falam nenhum outro idioma.
Por
fim, esquecemos que estes barcos não irão nos contratar, pois nossos
tripulantes raramente possuem habilitações de nível internacional, o que os
impedirá de embarcar, restando lavar os barcos e realizar pequenos bicos. Assim,
manteremos nosso padrão de destino exótico, quase colonial, onde toda a
precariedade e natural simpatia são desculpas aceitas para nossa crônica falta de
profissionalismo!
Cabe a
Marinha do Brasil, reconhecer a existência do Iatismo Profissional no Brasil, adotando
as categorias já existentes no mundo desenvolvido, e nos dando a chance de
disputar com os estrangeiros, esta nova “abertura dos portos para as nações
amigas”!