quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Ave Rara

Uma ótima notícia chegou da Austrália! Pode parecer estranho, mas o escritório de nosso maior Projetista Naval fica na distante Australia, onde o casal Astrid e Luis Gouvea mantém os endereços da B&G e Roberto Barros Yacht Design, filha e genro do “Cabinho” trabalham do outro lado do nosso hemisferio, projetando e comercializando copias de projetos de uma infinidade de barcos, em sua grande maioria de cruzeiro, sejam a vela (sua tradição) ou a motor, algo mais recente, mas não menos importante.

Ainda consideramos os Barcos de Cruzeiro a Motor, “aves raras” do mercado brasileiro, onde lançamentos anuais de barcos novos são contados em poucos dedos de uma única mão, enquanto que as lanchas abarrotam as marinas de nosso litoral. Uma grata notícia foi a entrega pelo Estaleiro Flab de Campinas, de um Trawler de 46 pés, o Rainha Jannota.

O proprietario publicou em um site de arquivos fotograficos (http://www.flickr.com/photos/rainha_jannota/ ), uma enorme quantidade de fotos, onde cada detalhe do barco aparece, em belas e completas imagens. Acredito que esta verdadeira exposição possa ajudar os afixionados a encontrar soluções para seus problemas, verificando as instalações e a ampla área de convivência. Acostumado a ver proprietários retirando seus barcos de estaleiros, quase na marra, foi muito legal verificar a alegria deste proprietário e a paixão explicita pelo barco. Devo dizer que a Flab esta de parabéns, quer seja pelo produto entregue, quer seja pela maneira que recebemos a noticia 

Este mesmo Estaleiro já lançou outros barcos, do tipo Trawler, entre os 25 e este 46, seu maior modelo produzido até o momento. Fora a linha de barcos a motor, eles produzem vários veleiros de cruzeiro e até mesmo uma lancha. Sinceramente, espero que possamos ver mais e mais lançamentos de barcos, tão bem documentados como este.


Permitam-me concluir que ainda não conheço o dono do barco, e nem o do estaleiro. Porém mantenho uma admiração pelo trabalho da “Familia Cabinho”, cujo histórico é mais do que um motivo de orgulho nacional, visto que mesmo exportados, continuam produzindo em nosso nome, o que muito nos orgulha.

sábado, 9 de agosto de 2014

SSB or not SSB…

Voltando vários anos atras em nossa dita “era eletrônica”, lembramos que no passado as comunicações não eram nada parecidas com o que tempos hoje, à nossa disposição. Como sempre falamos nos barcos, temos que o VHF era a principal ferramenta de comunicação, e que enfrentávamos filas de espera enormes, para conseguir uma mísera chamada a cobrar para um número fixo em terra. Além do nome do barco e do prefixo, as estações costeiras pediam o QRC, ou código de cobrança, para o caso da ligação ser paga pelo dono do barco. Após aguardar horas, conseguíamos realizar uma chamada, bastante clara por sinal, onde não somente nós participávamos da ligação, mas também quem quizesse ouvir pelo menos um dos interlocutores... sem comentários.

Outra opção, mais utilizada quando nos afastávamos da costa, era o SSB, do inglês Single Side Band, também conhecido por HF no Brasil, ou Radio de Alta Frequência, derivado do inglês Higth Frequency. Estes caros equipamentos eram extremamente restritos a uns poucos canais, visto que ainda utilizavam cristais para realizar a modulação de cada frequência, além de consumir uma barbaridade de energia. Com o tempo, criaram os radios sintetizados, que permitiam sintonizar qualquer frequência com apenas um cristal, e também foram criados canais padronizados no mundo todo. O Brasil, como não poderia deixar de ser, além de ter deixado de exportar os cristais que produzíamos, acabou adotando frequências que não fazem parte do que se tornou o padrão internacional de comunicação. Com isto, quando compramos um caro e moderno SSB novinho, descobrimos que os Iate Clubes não operam nas frequências padronizadas, e precisamos pagar também pelo “destravamento” das frequências, permitindo que passemos a operar em canais, digamos, até certo ponto irregulares.

Quem já teve a oportunidade de falar em um radio destes antigos, sabe que às vezes se consegue uma chamada muito boa, outras vezes é como se mantivesse um diálogo com o Pato Donald. Tenho lembranças boas e ruins destes tempos, quer seja quando tentei conversar com minha familia, na viagem de regresso de uma ida ao Japão em um navio da Petrobras, quer seja quando meus tripulantes falavam com o operador Flavio do ICRJ (PYE-21) todos os finais de tarde de uma travessia de veleiro do Rio a Flórida, para saber sobre o capítulo da novela do dia anterior, enquanto isto Salomão Hayala e Odete Roitmann tomavam chá em algum lugar da TV, pois sinceramente não me lembro que novela eles acompanham tão febrilmente.
Hoje, o SSB gera uma fonte de receita para os importadores e uma fonte de apurrinhão para os donos de barcos, pois seu uso é praticamente nulo a bordo. Proprietários de barcos mais abastados e modernos preferem investir em um equipamento de comunicação via satélite, como o Inmarsat-C do que em um radio de operação complicada e que sua eficiência depende da propagação de um sinal lançado a esmo na atmosfera. É bem verdade que no exterior, os cruzeiristas fazem um grande uso destes equipamentos, e que as chamadas “Rodas dos Navegadores”, onde estações terrestres prestam apoio (às vezes remunerado) a barcos que realizam longas travessias, e tem nessa rede de estações apoio para receber boletins e previsões meteorológicas, resolver problemas mecânicos simples, conseguir informações sobre portos e agendar possiveis reparos e peças com antecedência. Fora isto, existe provedores que enviam mapas meteorológicos e ainda operam caixas postais de internet via SSB, abrindo um enorme leque de opções.

Após o advento do GMDSS, que é o atual sistema de chamada de socorro, estes mesmos radios receberam acessórios ligados a segurança, como interface com o GPS e o botão de chamada de socorro (Distress), que infelizmente não foi adotado por nossas autoridades. Cabe aqui uma pequena observação, não se consegue entender o porquê do Brasil simplesmente não cumprir certos acordos internacionais dos quais é signatário, como o fato das estações costeiras do Brasil não possuírem equipamentos para operar este sistema, diga-se implementado mundialmente e negligenciado por nós, como Estado.
Voltando ao SSB, fica a dúvida, se deveríamos manter estes equipamentos como exigência para barcos que naveguem para o Alto Mar, como manda a Normam03, ou se deveríamos deixá-lo como opção para os mais aventureiros, permitindo que pudéssemos substituí-lo por uma tecnologia mais eficiente como a satelital. Não que o custo seja menor, ainda não o é, mas tem sim, maiores possibilidades que as ditas aleatórias frequências de radio.

O INMARSAT-C possui o tal botão Distress, mas a recepção de seu pedido de socorro, se faz por uma rede internacional de monitoramento, que rastreia os satélites Cospas-Sarsat e seu pedido será passado diretamente aos órgãos competentes, sem depender da boa vontade de uma multinacional de telecomunicações, que não vê sentido em atender assuntos de bem estar público, que não geram lucro para suas matrizes. Neste equipamento, é possivel receber boletins de tempo, avisos de segurança, avisos aos navegantes e ainda realizar o trekking do barco em travessias. As comunicações, através de email também são possíveis, mas seu custo proibitivo para qualquer mensagem que não seja realmente importante.

De certa forma, o Brasil já deixou de lado o NAVTEX, um serviço do qual (mais uma vez) fomos signatários, e que nunca fizemos funcionar; em troca do INMARSAT-C, pois nossas autoridades concluiram que é melhor ter um equipamento via satelite do que algo que utiliza estações costerias para transmissão, sendo o Brasil um dos poucos países do mundo onde as comunicações de segurança não são prestadas por um orgão público, seja civil ou militar. O NAVTEX traria grandes vantagens aos navegadores ditos de menor poder aquisitivo, pois tem quase o mesmo leque de serviços, menos o envio/recepção de mensagens, e tem um custo muito mais adequado a embarcações de menor porte, como a quase totalidade de nossa frota pesqueira profissional, além dos veleiros e lanchas que cruzam nosso imenso e quase inóspito litoral.


A Marinha do Brasil e a ANATEL caberia pressionar a operadora da Rede Radio Costeira, antigamente a EMBRATEL, para que atenda ao GMDSS, ou nos dispense de ter de adquirir equipamentos que, simplesmente não funcionam como deveriam em nosso proprio litoral. Numa grossa comparação, de nada adianta chamar pelo apito, se o vigilante é surdo!