sábado, 31 de março de 2012

Décimo-dia, 16/02/12

Amanheceu com uma chuva rápida, que por volta das 10h00 deu lugar a um belo dia de sol.

Faxina, faxina e mais faxina. Aproveitamos que os passageiros se ausentaram para um longo passeio na região, e lavamos e aspiramos de proa a popa, visto que o barco não levava um bom banho de água doce e shampoo, desde Angra.

Com os tanques cheios de água e com suprimento garantido, a maquina de lavar passou o dia trabalhando, para colocar tudo em ordem, antes de mais uma semana de viagem.

Visto que as geladeiras esvaziaram, saimos para fazer compras, colocando de volta tudo o que havia acabado, ou seja, quase tudo!

Como durante o dia, almoçaram fora, de noite preparamos uma foccacia tradicional, com um torteloni italiano recheado de mozzarela de bufala ao molho pesto, e uma torta de maçã quente, com sorvete para sobremesa.

terça-feira, 27 de março de 2012

Nono-dia: Ao Largo de Camboriu

Mais uma vez, o sol nos achou deixando a barra do porto. Eram sete horas, do horario de verão, quando suspendemos nossa âncora. Com a maré vazando, fizemos o trecho até a barra, em boa velocidade, na casa dos 10 nós, porém o mar e o vento por lá eram contrarios e a saida não foi das mais confortáveis.

As 08h00 já haviamos mudado nosso rumo para a Porto Belo, e alcançado águas mais tranquilas, onde passamos a receber o vento pela alheta de bombordo, ajudando no deslocamento rumo ao Sul.
Como no dia anterior, alguns dos passageiros procuraram um lugar nos sofás, e foram controlando seu mareio, como puderam. Realmente, balançavamos bem mais do que no dia anterior... lamentável.

Cruzamos com uma duzia de barcos de pesca, arrastando ao Norte de Itajai, mas nada que se compare ao ano anterior, quando cruzamos e desviamos de pelo menos vinte e cinco barcos de grande porte, todos arrastando, seja em parelha, seja em solitario.

Ao meio-dia, mudamos nosso rumo para passar mais próximos de Camboriu, e sua enorme fachada de predios, logo depois voltamos com nosso rumo para Porto Belo, pois o balanço era grande, e a vontade de chegar, principalmente a de alguns dos passageiros, enorme!
Era perto das 14h30 quando nos aproximamos, e começamos a adiantar a manobra, primeiro reduzindo os motores, e depois colocando cabos e defensas em posição, já dentro da enseada liberamos nosso bote, o V&R. Aproximamo-nos, contra o vento e contra o odor de peixe que vinha da Pioneira, uma enorme empresa de beneficiamento de pescado ao lado do ICPB. Giramos de popa para o vento, e encostamos ao cais.

Após algum tempo, e já com o barco bem amarrado e protegido da madeira do trapiche, e já ligados a linha de abastecimento de água doce, servimos de almoço tardia um pernil de cordeiro uruguaio, preparado ao forno com abacaxi, arroz e farofa, acompanhados de molho demi-glace. A sobremesa foi uma salada de frutas, dos remanescentes salvos da viagem, desde o Paraná.

segunda-feira, 26 de março de 2012

Oitavo-dia, 14/02/12

Era dia de travessia. Suspendemos assim que clareou, e seguimos rumo a barra. Na nossa proa, seguia um navio de nome Yokohama, e mais nenhum. Acelerei um pouco, para não estar no canal, quando o pratico trocasse de navio, entrando com outro qualquer, como normalmente acontece.
As 07h50 passamos pelo frustrado fundeadouro do dia anterior, na Ilha do Mel, e seguimos sob um céu ainda bastante carregado. De Sudoeste vinha um ventinho chato, resultando num mar picado, desagradável. Lá fora, um enorme navio ro-ro, chamado Tasco, vinha se aproximando do canal, aguardando o pratico que iria desembarcar do navio japones, como previamos.

As 08h11 deixamos o canal, escapando entre o segundo e o terceiro par de bóias, e rumando para São Francisco do Sul, visto que o Tasco vinha a toda velocidade pelo canal. Lá fora não havia nem vento e nem mar, apenas uma garoa intermitente, que não chegou a atrapalhar.

Às dez horas, passamos pelas Ilhas Itacolomis e próximo do meio-dia, chegamos às imediações da barra do porto de São Chico, como é chamado na região. Pelo AIS identificamos mais um navio, o Cap Gilbert, estava manobrando para atracar no terminal de conteiners, que ainda não estava pronto, em nossa visita de 2011.

Percebemos alguns espinhéis em nossa proa, mas só nos demos conta que eram redes de superficie, boiadas,  quando faltam apenas alguns poucos metros para acerta-las. Demos um cavalo-de-pau e escapamos pelo Norte, voltando em nosso proprio rumo, até que apareceu uma brecha naquela verdadeira armadilha. Redes de superficie são coisa rara na região entre o Rio e Angra, mas em outros pontos de nosso litoral, não!
O fato é que possuimos facas protetoras nos estabilizadores, e corta-cabos nos dois eixos, mas não há necessidade de destruir o que é modo de sobrevivencia de outros à toa, estas proteções devem ser utilizadas quando isto acontece à noite, ou sob mal tempo.
Eram 13h45 quando fundeamos em frente à Delegacia dos Portos de São Francisco do Sul, numa tarde nublada e algo chuvosa.

Mais tarde, tentamos desembarcar os passageiros para um passeio, mas o cais onde estava escrito um grande “Bem Vindo a São Francisco do Sul”, estava fechado, e tivemos de desembarcar nossos turistas em outro local, pois aparentemente a prioridade são os navios de cruzeiro, e “o resto” que se vire!
O jantarado foi salada Caprese, arroz de polvo (nossa especialidade) com olivas tagiasche e petit-gateau com sorvete.

O fundeadouro permanceu quieto a noite toda, apesar da batucada pré-carnavalesca que veio de terra, até altas horas.

sexta-feira, 23 de março de 2012

Sétimo-dia, 13 de Fevereiro de 2012

No inicio da manhã, desta segunda-feira, nosso bote saiu mais cedo, para levar um dos passageiros em busca de um emergencial dentista, enquanto os outros iam levantando para tomar café. Às dez horas, com todos já a bordo, suspendemos sob um céu muito carregado, rumo a Ilha do Mel.
Choveu forte durante o percurso e um vento de Sudoeste já anunciava que não era uma boa ideia, fundear próximo a Ilha do Mel, onde hevia programação de passeios em terra. Ao chegar a pequena enseada, as rajadas vinham de sudoeste, porém a corrente de maré não nos permitia afilar no vento. Passamos mais de meia-hora em tentativas frustradas, para nos convencer que a soma daquele vento, com uma maré de vazante muto forte, não era uma boa mistura naquele local, e batemos em retirada.

Subimos o canal, em busca de abrigo; fundeando proximo da Marina da Ponta do Poço. Choveu bastante, e o almoço foi em clima de comer e dormir:  salada verde mista de entrada, medalhões de mignon suino caramelizados no run puch, e ainda polenta ao perfume da salvia. De sobremesa, e pra matar: Tiramissú.

Choveu o dia todo, porém como estavamos ao abrigo do vento e sem o estresse da correnteza, ficou tudo bem.

O jantar precisou ser mais leve, e ficamos com Pizza Margherita, de frigideira.

Com 35 metros de amarra em apenas sete de profundidade, passamos uma noite bastante tranquila.

terça-feira, 20 de março de 2012

Sexto-dia, 12 de Fevereiro de 2012.

Devido ao agito natural de Guaraqueçaba, não registramos nem um pio de corujá vindo da cidade, e, como diria um velho pirata: “A noite foi mais tranquila que o limbo!”

Próximo ao meio-dia, suspendemos rumo a Ponta da Ilha das Peças, onde o Ciro e a Ina já nos aguardavam. Passamos uma boa parte da tarde, entre camarões, peixes e carne de siri, além da simpatia dos proprietarios, porém diferente do ano anterior, quando chegamos no meio da semana, desta vez o local estava repleto! A nota ficou por conta das caipirinhas que são servidas em vidros, daqueles de palmito, com capacidade para meio litro!
Entre os clientes, havia muita gente curiosa para saber algo sobre nosso barco, visto que embarcações de maior porte são raramente vistas na região.

Marcamos com o Ciro, para que guiasse nosso bote até o local onde acontece a famosa revoada dos papagaios, mas chegando ao destino, havia apenas três urubus isolados, onde deveria haver centenas de maritacas.  Acabaram chegando de volta, bem tarde e partimos assim que todos embarcaram.
Largamos a âncora proximos da Ilha das Cobras, em fundo de lama. Eram 20h45, e logo atravessamos o barco no vento, devido a forte corrente de maré. Mais tarde, próximo da meia-noite, fomos atingidos por uma serie de violentas marolas, provavelmente originadas pela passagem de um par de rebocadores, causando um baita desconforto à bordo.

O jantar deste domingo foi um risoto arborio de cogumelos shimeji e salmon, no caldo de cordeiro e queijo de cabra.

sexta-feira, 16 de março de 2012

Quinto-dia de viagem, 11 de fevereiro de 2012

Amanheceu fechado, mas sem chuva ou vento.

Saimos para dois lados, o V&R foi fazer um pequeno tour em frente ao centro de Paranguá, com seus casarões e o cais do antigo porto, e depois seguiu para outro porto antigo, o de Antonina, onde ruinas e velhos armazens da Cia Matarazzo enfeitam a orla.

Ao mesmo tempo, suspendemos, e rumamos para um fundeadouro a Oeste da Ilha das Cobras, onde fica a Casa de Praia Oficial do Governador do Paraná, a fim de aguardá-los.

Mais tarde, quando retornaram, servimos um tira-gosto de lingüiça de pernil acebolada, e suspendemos para Guaraqueçaba, no Norte da baia, em area não hidrografada, pelo menos não nos últimos quarenta anos! É impressionante a lamina de água que se mantem intacta, sem uso ou serventia, não que prefira ver tudo iluminado por predios, mas sim com cercos de criação e engorda de peixes, e atividade econômica sustentável para a população costeira.

Como no ano anterior já haviamos realizado esta navegação, com o auxilio do Ciro, dono do Restaurante Ina II da Ilha das Peças, eu já tinha todos os pontos de passagem (waypoints) no meu plotador, e foi bastante tranquilo, sem registrar menos do que quatro metros de profundidade, abaixo de nossa quilha.

As 17h30 largamos a âncora em um fundo de lama, de oito metros de profundidade, passando uma noite bem tranquila. A cidade estava bastante quieta, apesar de estarmos próximos do Carnaval, e ser um sábado à noite.

O almoço tardio servido constou de uma salada colorida de entrada, escondidinho de camarão sob moranga e arroz. Neste prato, demos preferência a cortar a abobora em pedaços, descascando e assando a polpa, e depois fazendo o purê utilizado no escondidinho. Desta forma, aproveitamos 100% da massa, e não os 60% de quando preparavamos o prato diretamente nela, devido a dificuldade das pessoas se servirem. Concordo que fica mais bonito, mas não é tão prático.

quinta-feira, 15 de março de 2012

Quarto-dia, 10 de fevereiro de 2012.

A chuva fina e intermitente que caiu a manhã toda, mas não chegou a atrapalhar a preparação do barco.

Como os passageiros chegariam de noite, fomos fazer as compras de frutas, pães e verduras no excelente Hiper-Condor de Paranaguá, enquanto nosso homem de convés, o Adenilson foi para o Hospital, se consultar com o ortopedista, devido à pancada nas costelas sofrida no dia anterior. Como ele passou uma noite péssima, precisava ser diagnosticado.
Fizemos as compras, passamos em uma farmacia para comprar emplastros, e em um self-service para pegar comida para a tripulação. O taxistia “Mineiro”, que havia nos atendido da última vez, veio nos pegar no Clube e depois no mercado, onde embarcamos três carrinhos lotados.

Mais tarde, o Adenilson veio do Hospital, sem o resuldado da radiografia, que confirmasse o que o médico disse: “que não havia quebrado nada”. Teríamos de aguardar o laudo, que seria enviado por email, oportunamente.
Na parte da tarde, foi a vez do Adriano, nosso cozinheiro, ir ao Dentista, para um reparo de emergência. No ano anterior, estes mesmos dois tripulantes, foram parar no Hospital em Joinville, devido a uma infecção intestinal, causada por uma quantidade enorme de ostras de Cananéia. Caso para benzedeira!

O tempo continou pesado, e a chuva caiu o dia todo, de forma intermitente.
À noite, nossos passageiros chegaram do Rio, após mais de hora de atraso do vôo, e outro tanto perdido no transito de Curitiba para Paranaguá. O jantar foi servido por volta das 23h00.

Cardapio da Noite: focaccia tradicional (feita à bordo com farinha 00 e fermento fresco) e berinjela à parmegiana, com molho bolognesa, vinho tinto e sorvetes de sobremesa.


terça-feira, 13 de março de 2012

Chegada a Paranaguá, 09/02/2012

Terceiro-dia de Viagem

Durante a noite, cruzamos com alguns barcos de pesca, e por volta das 02h00 tivemos de desviar de uma area cheia de redes de superficie, sinalizadas por um barco pesqueiro com um facho de luz bastante forte, além de avisos pelo VHF e luzies do tipo estrobo, instaladas nas balizas da propria rede. Com isto, um navio estrangeiro que vinha na direção oposta, achou por bem mudar de rumo, a fim de se afastar daquela area, e acabou vindo para cima do nosso rumo, e tudo foi emoção por alguns minutos!
As 03h00 reduzimos em 200 RPM nossa rotação, a fim de chegarmos ao amanhecer, pois dividir um canal com grandes graneleiros, contra a maré e ainda no escuro, ficaria ruim, para o nosso lado. Com o mar totalmente liso, faziamos uma boa media.

Com horas de antecedência, pudemos acompanhar o movimento de navios nas proximidades da Barra de Paranaguá, através de um computador e do programa Nasareth, que acoplado ao AIS, permite observa-los em detalhes e a grande distância. Identificamos apenas dois navios descendo o Canal, mas nenhum em manobra para entrar.

Conforme nos aproximamos, mudei nosso ponto de entrada no Canal, para o intervalo entre o segundo e o terceiro par de boias do Canal, visto que nosso calado o permite.
As 06h38 estavamos no través das boias, e como já havia a claridade necessária a navegar com segurança, nos permitindo observar tudo a nossa volta, colocamos nossa proa para a Ilha do Mel, numa chegada mais do que pontual.

As 07h30 deixamos o canal Principal, e entramos pela Ponta do Poço. As 08h30 com a maré ainda vazando, fundeamos nas proximidades da Ponta da Cotinga, onde fica a sub-sede do Iate Clube de Paranaguá. Nossa pernada, de 209 MN foi realizada em 25,5 horas, numa media de 8.2 nós, contando as manobras de suspender e fundear, e ainda o período que navegamos em marcha reduzida, uma media mais do que excelente!
Logo que chegamos, fiz contato com o Iate Clube, que nos identificando como barco associado ao Iate Clube do Rio de Janeiro, franqueou-nos o acesso. Mais tarde, trouxemos nosso barco de apoio, o V&R para ser lavado no cais da Palangana, o posto de um amigo ao lado do clube. Porém ao amarrar o barco no canto do flutuante, o Adenilson nosso homem de convés, escorregou na lama formada pela mistura de sal, fuligem e agua que cobria o bote, e ao cair bateu as costelas, nos deixando em atenção, pois a pancada foi forte.

Durante o dia, tratamos de arrumar e preparar o barco para a chegada de nossos passageiros, deixando para descançar à noite.
Como previsto, o céu permaneceu carregado o dia todo, e no final da tarde caiu um verdadeiro diluvio, com uma grande quantidade de raios e ventos de até 25 nós, vindos de Sudoeste. O que não chegou a preocupar, pois a tensa (qualidade do fundo) naquele local é excelente, e permanecemos firmes em nossa âncora.

Choveu a noite toda, e aproveitamos para recuperar o sono perdido da noite anterior.

domingo, 11 de março de 2012

Vento Zero, Mar Zero

Segundo-dia de Viagem, Dia 08 de Fevereiro de 2012.

Durante a noite, um vento vindo do alto da ilha perturbou um pouco, mas quase não durou, foi apenas o bastante para tornar o sono uma sucessão de deita e levanta para checar a posição, visto que o fundeio não foi lá uma perfeição, ficando abaixo do nosso padrão.
As sete da manhã suspendemos a âncora e seguimos rumo Sul no canal, assim que passamos a linha de travessia das balsas, e não havendo manobra alguma de navios naquele momento, largamos nosso reboque e seguimos com a proa 234 graus verdadeiros, para 24 horas de travessia. Explico que, ao manobrar-mos próximo a outros barcos, levamos nosso bote com cabo curto, largando depois todo o sistema, quando temos mais segurança de manobra. Por se tratar de um canal muito movimentado, principalmente pelo cruzar das balsas, levo o barco do comando situado no Fly, que permite melhor visibilidade. Portanto, após largar o cabo de reboque, desci para o comando interno, devido a maior comodidade, equipamentos e segurança.
O vento e o mar estavam totalmente calmos, e a visibilidade só era prejudicada por uma bruma, normal das manhãs daquela região. No AIS (Automatic Identification System) localizei uma Fragata da Marinha, nas proximidades do Arquipelado dos Alcatrazes, e mais nada em toda a passagem, o que é raro.
Após quase três horas de navegação, só haviamos visto algumas poucas aves solitarias, um ou outro peixe saltando e mais nada, quer seja de trafego marítimo, ou comunicação pelos canais de VHF que fazemos escuta... nada.
Passamos bem próximos a Laje de Santos, um conjunto de pedras, localizado a uns 80 Km para fora do porto de mesmo nome. Confesso que nunca havia passado tão próximo dela, pois geralmente estamos indo e vindo do Guarujá, e a laje fica bem fora de mão para quem vai para terra.
As 16h40 um rebocador de nome Lugos, aparentemente em viagem inaugural, ou realizando provas de mar, veio navegando de terra e de forma inconstante, mudou de rumo varias vezes, realizando giros radicais, e só faltou mesmo é dar piruetas. Por fim, veio em nossa direção e sem dar importancia a nosso reboque, cruzou nossa proa para depois emparelhar com nosso rumo, e seguir com um pouco mais velocidade, também rumo ao Sul.
No final do dia, passamos pela Ilha da Queimada Grande, um imenso viveiro de cobras utilizado pelo Instituto Butantã de São Paulo, onde varias especies de cobra vivem em total liberdade... só faltou a macieira!
No AIS, identificamos pela nossa popa, um navio de nome Mercosul Santos, com mesmo destino e horario de chegada que o nosso, porém algo me chamou a atenção, o prefixo dele: PPUT, é o mesmo do navio que foi meu primeiro embarque, ainda em 1981, o graneleiro Frotargentina, da extinta Frota Oceânica Brasilieira, e que foi desmanchado e derretido em um alto forno chinês no ano passado... Rei morto... me senti um bocado velho!
Seguimos com nosso rumo e velocidade, prevendo chegar ao clarear do dia.


quinta-feira, 8 de março de 2012

Dia de Partir - VGM Angra - Paranaguá

Dia 07 de Fevereiro de 2012
Amanheceu por volta das 06h30 e largamos os cabos, para uma das etapas de nossa partida. Minutos depois, atracamos ao Posto Flutuante, iniciando um longo abastecimento. A bomba dita rapida do posto, antigamente embarcava mil litros em 20 minutos, e agora leva quase 30 para a mesma quantidade de diesel, portanto demoramos horas e mais horas para carregar os onze mil litros de que tinhamos necessidade, sem falar que a bomba lenta, que pegamos em conjunto, tem a vazão de apenas mil litros a cada 55 minutos, uma eternidade...
O dia se fez perfeito, sem vento, céu azul e mar calmo. Após o abastecimento, fundeamos em uma pequena enseada de aguas calmas e mergulhamos para limpar os hélices e eixos, a fim de nos livrarmos das cracas colecionadas nas últimas semanas de marina.
Perto da uma da tarde, suspendemos e nos colocamos em navegação, rumo a Ilhabela. Eram 13h10 quando passamos a Ponta da Pitangueira, na Ilha da Gipoia, com o log registrando 6800 MN.
O almoço foi frango cozido com batatas, arroz, farofa e salada. Carboidratos, para quem faz serviço pesado.
O tempo estava tão bom, que lembrei de uma celebre frase de Joshua Slocum, em seu relato da primeira volta ao mundo em solitario em um veleiro:
- “Estava um lindo dia, lindo demais para se perder em terra!”
O céu perfeito, horizonte limpo, mar calmo, temperatura alta e boa visibilidade, marcaram as primeiras milhas de nossa pequena travessia.
Logo depois de deixar as proximidades da Gipoia, apareceu um vento do quadrante Sul, que foi subindo até ultrapassar os 25 nós, porém durou pouco e nas proximidades da Ponta da Juatinga, ele já havia desaparecido, e assim foi o dia todo, apenas com aragens locais, sem grande folego.
Um pouco antes, próximo da primeira boia do canal de acesso dos navios, surgiram manchas avermelhadas no mar, em grandes faixas, mas não se tratava de vazamento de óleo, mas provavelmente de Maré Vermelha, uma grande massa de algas vermelhas, responsável pelo esgotamento do oxigenio das areas que atinge, e que costumam causar grandes prejuizos em fazendas de aquacultura, como ostras e mexilhões. Alguns cientistas associam-na ao aumento da temperatura de água do mar, em algumas regiões.
Seguimos rumo ao litoral de São Paulo, sob um dia perfeito, e apenas uma pequena ondulação de Leste, deixava claro que os dias anteriores, talvez não tenham sido tão tranquilos por ali. O vento Leste, quando firme, faz deste trecho do litoral um problema, para quem vai de Santos ao Cabo Frio, com muito vento, grandes vagas e forte corrente.
Anoiteceu pouco depois que passamos a Ilha do Mar Virado, e uma serie de espinhéis (boias sinalizam linhas de pesca de espera, ou redes de fundo, que são montadas entre duas ou mais destas balizas) começaram a aparecer no radar, felizmente todos estavam com uma pequena estrobo, o que facilitou desviar delas.
As 21h30 chegamos a Ponta das Canas, iluminada por uma enorme lua cheia, e a visibilidade de outros barcos ficou prejudicada com o navio de passageiros que estava fundeado no Canal, em frente a Ilhabela.
Já dentro do canal, ouvimos bumbos e surdos, de algum ensaio de Bloco de Carnaval, nas imediações, não havia luzes ou quaisquer sinais aparentes de aglomeração, mas o ritmo era forte.
Nos aproximamos do Iate Clube de Ilhabela (YCI) e fundeamos, após duas tentativas frustradas, devido a má tensa, e a uma brisa de popa, que atrapalhou nosso posicionamento. O bote no reboque e suas quase três toneladas pela popa, atrapalha nestas horas, pois não permite qualquer manobra, sem que haja o risco de uma avaria.
Nossa marcha media entre dois pontos, e medidas no intervalo de oito horas, foi de 8.5 nós, a 1.200 RPM e gastando 90 litros de diesel por hora, já incluido o consumo de um gerador. Esta media de consumo é um pouco acima do nosso ideal, mas foi o possivel devido ao pesado reboque. Para o ETA em Paranaguá, utilizamos 8.3 nós de marcha, que foi a media longe da influência de marés e correntes, na chegada e na partida.
Programamos nossa saida para os primeiros minutos de luz, da manhã seguinte.

segunda-feira, 5 de março de 2012

Às Vésperas da Partida

Nos próximos dias, e por cerca de duas semanas, devo publicar uma sequência de textos, relativa a um Cruzeiro de Angra dos Reis, a Florianópolis, com escalas em Paranaguá e outros portos do Sul.
É importante saber que, nossa programação de viagem foi confirmada com alguns poucos dias de prazo para seus preparativos finais, e que a autorização de partida, foi dada apenas um dia antes de largarmos os cabos, portanto nossa preparação é, por via de regra, permanente.
Com uma antecedência de quinze dias, sabendo que uma viagem estava por vir, conseguinos adquirir todos os filtros necessarios para as revisões dos geradores e dos motores principais. Com uma semana de antecedencia da provável (e depois confirmada) data de partida, conseguimos os lubrificantes necessarios, cerca de seis baldes de 20 litros de lubrificante para motores diesel, 15W40. Agendamos o abastecimento, que às vezes depende de encomenda antecipada no nosso caso, e tratamos o deposito para confirmá-lo.
Levantamos a lista de compras, que fizemos em três etapas: uma apenas de aguas minerais, refrigerantes e cervejas. Outra de material de limpeza, em um fornecedor mais distante e de melhor preço, e a terceira e última, de alimentos secos e congelados, pães e perecíveis, cuja complementação seria feita apenas no porto de Paranaguá, onde iriam embarcar os convidados, portanto teriamos de consegui-los bem frescos, e programar uma chegada com tempo habil para preparar o barco e a geladeira.
No dia anterior a partida, fizemos uma revisão antecipada do bote de apoio, um inflavel de 26 pés, com dois motores de centro-rabeta a diesel, e fizemos as compras. Como sempre, algo acontece de última hora e nosso tripulante-extra, chamado carinhosamente de “Quinto-Elemento”, deu cano e tivemos de tratar outro, em que já confiamos. Por fim, a Adega, recém abastecida apresentou mau funcionamento, e faltando uma hora para o fim do expediente, conseguimos que um tecnico fizesse uma recarga de gas, e tudo voltou ao normal.
O Gattina estava novamente pronto para partir, com mais de sete anos de operação e uma contagem de milhas superior a 34 mil, mais uma viagem estava por acontecer.
Verificamos a previsão do tempo em três fontes diferentes, a U-Grib, o CPETEC e a DHN, com todas favoraveis. Checamos a maré de partida, e baixamos a Tabua de Marés de Paranaguá, a fim de acertar nossa chegada. Decidimos realizar uma parada em Ilhabela, a fim de acertar o ETA.
Devido à distância, e o desejo de chegar com a luz do dia, teríamos de pernoitar em Ilhabela, partindo no dia seguinte, pela manhã, para singrar as 200 MN em 24 horas na nossa media, sem precisar mexer na marcha, estimada em 8.3 nós.