terça-feira, 12 de abril de 2016

Horizonte nebuloso para o Charter de Iates nas Olimpíadas brasileiras.

Considerada como a mais luxuosa forma de turismo sobre a superfície de nosso planeta, o aluguel de grandes embarcações, sempre foi considerado como algo distante da realidade de nossos proprietários de embarcações. Sabemos que o principal motivo desta atividade não ser considerada por muitos, é o inconfessável ciúme de suas embarcações, mas isto é outro assunto.

Tido como a atividade comercial que impulsionou o renascimento da construção de iates, principalmente na Europa, desde que os nobres árabes diminuíram suas compras na distante década de 1990. Os estaleiros europeus e norte-americanos passaram a se dedicar à construção de iates cada vez maiores e mais sofisticados, que geridos da maneira apropriada tem seu custo anual zerado, e em muitos casos passam mesmo a gerar uma enorme receita a seus proprietários, a ponto de muitas empresas hoje se dedicarem exclusivamente a operar grandes frotas de Super e Megayachts de aluguel.

Estes barcos, cujo valor unitário pode ultrapassar a cada dos Cem Milhões de Euros, operam nas águas do mundo todo, tendo o Mediterrâneo como principal área de navegação. O Caribe+Flórida seria o segundo local mais procurado e até mesmo a distante Indonésia é considerada como um mercado de atuação de tais empresas. Porém, quando olhamos para o nosso umbigo, vemos que o aluguel de barcos em nosso imenso (e inóspito) litoral é irrisório, se restringindo a pequenas lanchas de passeios diurnos e algumas companhias que alugam veleiros, notadamente no sistema bareboat (sem tripulação).

O Charter envolve grandes embarcações, grandes investimentos e despesas milionárias. O Annual Report 2012 da publicação inglesa The Superyacht, apontou que no ainda negativo ano de 2011, o faturamento global de todo o trade envolvendo os iates apenas a partir dos 30 metros de comprimento, ou cerca de cem pés, foi de €21.3 Bilhões (R$85 Bilhões). Nada mal para uma frota de estimadas 4.500 embarcações (igual ao nosso rombo das contas públicas em 2015).

Este surpreendente mercado envolvia então 33.000 tripulantes e outros 140.000 trabalhadores em terra. Cerca de 6.000 empresas se dedicavam a construir, reformar e dar manutenção a estas embarcações. Fornecedores de alimentos, bebidas, flores, combustível, lubrificantes, peças de reposição, uniformes, enxovais e acessórios de todos os tipos completavam o leque de participantes, sem falar no aluguel de aeronaves, veículos variados, despesas com restaurantes, compras e lazer em terra.

Enquanto isto, em nosso litoral o número de iates com mais de 30 metros não chega a uma dezena e muitos deles em precárias condições de uso, sempre no que diz respeito ao Charter de alto padrão, sendo que nenhum deles está oficialmente dedicado a esta atividade. Os motivos são vários e bem conhecidos de quem labuta o mundo empresarial brasileiro. Confusão e excesso de burocracia, falta de regulamentação específica, dificuldades com as Seguradoras, qualidade e falta de profissionalização das categorias envolvidas e total ignorância dos players, sejam proprietários, capitães, autoridades e até mesmo da clientela em potencial. Muitos proprietários brasileiros, só estudam alugar para clientes estrangeiros.

Com a aproximação das Olimpíadas, mesmo alguns dos mais ciumentos proprietários, como comentamos acima, acabou cedendo aos encantos das muito elevadas cifras envolvidas, e a possibilidade de alugar seus barcos numa época do ano em que os mesmos permanecem quase ociosos, passou a ser muito atrativa. O problema é que ninguém sabe como atender a este público requintado e exigente, e a possibilidade de sairmos com esta clientela insatisfeita, e o mercado fechado para os próximos anos ou décadas é enorme.
Recentemente, tive contato com alguns barcos que já estão reservados para mais de um pacote de sete dias, todos para o próximo mês de Agosto. Muitos serão utilizados apenas para lobby de patrocinadores, servindo de palco para festas e reuniões, porém outros serão utilizados para passeios em nossas águas e é ai que mora o perigo.

Num barco de charter, a relação entre passageiros e tripulantes é de um para um, mas às vezes existe bem mais do que um tripulante para cada conviva. Nossos barcos costumam ter tripulação bastante reduzida, utilizando tripulantes “multi-função”, algo não muito bem visto neste mercado. A qualidade dos cozinheiros (quando existem) não chega nem perto dos Chefs necessários a trabalhar com o padrão requintado destes hóspedes. Lembremos que a diária a bordo de um Iate de cem pés deve rodar em torno dos US$10mil! Portanto, foie gras, caviar, champagne e outros ingredientes sofisticados são uma regra e não uma curiosidade difícil de ser até mesmo comprada em nosso exótico pais.

Quanto aos comandantes, a imensa maioria não domina outro idioma, nem se considerarmos o “portunhol” como algo louvável. Não embarcamos hostess, uma tripulante que cuida das necessidades dos passageiros, gerando o mínimo de atendimento necessário. Em relação à manutenção, não há como prever o que irá acontecer, pois peças de reposição costumam demorar semanas e não horas para serem encontradas em nossos poucos fornecedores, portanto o risco de paradas técnicas é enorme.

Nós temos o vicio de acreditar que sorrindo resolvemos qualquer dificuldade, e que nossa natural simpatia tem o dom de aplacar qualquer estresse causado por falhas quaisquer, infelizmente quando falamos em clientes estrangeiros, acostumados a ser extremamente bem atendidos as coisas ficam mais complicadas, e pesadas ações de reparação poderão ocorrer.

Temo que, dependendo do resultado das dificuldades encontradas, o Brasil acabe saindo das Olimpíadas com o infeliz título de um pais sem condição de receber este tipo de cliente, e que nos reste permitir que as grandes empresas européias e norte-americanas consigam a já requerida e sonhada isenção de impostos, e que fiquemos à beira do cais, não “a ver navios”, mas a ver Megayachts lotados de tripulantes estrangeiros, restando aos nossos conterrâneos os trabalhos de menor remuneração, apenas para cumprir um perverso sistema de cotas, que nos limita a histórica situação de “colonizados”.




O Navegador Sem Noção I

Desregra Primeira: Não respeitar o RIPEAM 

O RIPEAM (Regulamento Internacional para Evitar Abalroamentos no Mar) parece não ser levado  muito em consideração em nossas águas. As pessoas são obrigadas a estudá-lo desde a prova de Arrais, mas parece que depois ele cai no esquecimento. Em sua páginas as ilustrações, explicam de forma prática, a maneira como cada embarcação deve se comportar ao cruzar com outra qualquer, e isto pra dizer pouco. 
Já passei por inúmeras situações de risco devido ao não cumprimento das regras. E olhe que elas são fixadas obrigatoriamente à vista de quem ocupa o posto de pilotagem e portanto não tem desculpa. Na Bahia, no Paraná, no Caribe, em Angra dos Reis e em quase todos os locais por onde já naveguei, vi gente trocando as bolas na hora de guinar. 

Em Angra (e Paranaguá) há um código secreto que é baseado no tamanho da marola do barco que você vai cruzar e sua velocidade em relação a ele. Levando estes importantes dados em consideração, o barco “opositor” guina a boreste ou a bombordo, de acordo com sua própria vontade. 

Como são emocionantes os finais de tarde nos corredores criados entre as ilhas da baia da Ilha Grande! É  barco de tudo que é lado, cada um fazendo o que bem entende e todos utilizando o máximo que seus motores permitem, pois depois de ficarem parados por horas a fio, bebendo, comendo, conversando, azarando e se divertindo, todos são tomados por uma pressa sem limites e decidem que precisam chegar em terra imediatamente. 


À noite a coisa piora! Bólidos irresponsáveis cruzam no breu em alta velocidade. Às vezes sob chuva e em condições de baixa visibilidade, e nestas ocasiões costumam haver os problemas, com colisões, encalhes, abalrroamentos e todo o tipo de acidente. Além de ser lamentável, devemos lembrar que tais acidentes poderiam (na imensa maioria das vezes) ser evitados. 

Concordo que somos obrigados a aprender algumas regras que praticamente não são utilizadas, como linguagem de apitos e outras coisas do gênero, como gongos e badalar de sinos, porém, manobra é segurança e deveria ser levada muito a serio! 

Sabemos que barcos muito grandes e igualmente rápidos geram marolas gigantescas, e que seus pilotos não se preocupam com a esteira que causam, mas para tudo tem limite. Isto me faz lembrar de outra regra que foi bagunçada pelos navegadores: 

- Veleiros tem prioridade sobre barcos a motor. 

Isto é quase um fato, mas apenas quando, de fato, o barco estiver velejando! 

Já passei por esta situação muitas e muitas vezes. Um veleiro vem pelo meu bombordo, belo e faceiro e cruza a minha proa como se fosse o dono do oceano. Porém, apesar de ser um veleiro, esta com as velas arriadas, bem atadas à sua retranca e acredita que apenas por ter um mastro, tem preferência na manobra, o que está bem longe da realidade. Caros velejadores, quando seu barco estiver sendo impulsionado pelo seu próprio motor, você é tão barco a motor como qualquer uma daquelas lanchas que você tanto odeia! A bem da verdade, veleiros não fazem quase marola, mas nem por isso tem “licença poética” para interpretar a regra a seu favor. Se acha que pode, tente fazê-lo com um navio em manobra de aproximação pelo canal. Vais tomar um "buzinaço" e ainda vai ser rebocado na marra pela lancha do prático! Se der tempo, é claro. 

Já tive vários problemas com barcos de todo o tamanho e procedência, já vi barbeiragem de navios, de práticos pilotando navios, de veleiros, de muitas lanchas e eu mesmo já devo ter cometido uma navalhada ou outra, mas evito sempre fazê-lo, ou não teria cabimento estar passando isto para vocês. 

Considero que o RIPEAM deveria ser exaustivamente rememorado, para o bem e a segurança de todos que tem no mar o seu lazer, o seu esporte ou mesmo seu meio de vida. Por fim, as autoridades navais e policiais também deveriam dar o exemplo, exigindo de seus comandados o cumprimento das mesmas regras mencionadas acima, afinal estamos em tempos de paz. 

quarta-feira, 6 de abril de 2016

PALESTRA NO HORIZONTE

No próximo dia 14 de abril, as 18h00, devo realizar uma Palestra no Rio Boat Show na Marina da Gloria. O assunto, como não poderia ser diferente, serão os vários aspectos que envolvem os raros IATES DE CRUZEIRO A MOTOR.

Pretendo falar um pouco sobre um livro que estou finalizando sobre este assunto e também um pouco sobre minha experiência a bordo do Gattina, e sobre as muitas milhas que cruzamos nestes últimos dez anos.

Comentar sobre este modo de vida alternativo, sem que se tenha de abrir mão do conforto, da segurança, dos prazeres da vida e do contato com as pessoas, é a finalidade deste encontro.

Conto com a sua presença.

Bons Ventos!
Alvaro Otranto