Mesmo sabendo que nosso litoral tem dimensões continentais,
e que muitos nunca navegaram em locais como o Rio Amazonas e seus incontáveis
afluentes, ou mesmo na perigosa Lagoa dos Patos, nossos navegadores mantêm um
enorme fascínio por navegar por águas internacionais, como se isto fosse mais
complexo do que sobreviver aos lugares citados acima, o que às vezes não é bem
verdade.
Numa de nossas viagens, enfrentei uma dificuldade até certo
ponto cômica, se não fosse trágica. Foi ao dar entrada com os papéis do barco
em uma minúscula Capitaneria di Porto
na Itália. O Oficial de serviço quis ver a minha habilitação, e após entregá-la
recebi um sonoro “questo no vale niente” (em tradução para o italhanês). Eu
havia dado a ele a minha Habilitação de Capitão Amador brasileira, que por
sinal vem escrita até em inglês. Porém, ele me fez uma pergunta praticamente
sem resposta: Como voce pode ser o Capitão do barco, ou seja, está embarcado
profissionalmente e me apresenta uma Licença de Amador? Fica difícil de
responder...
Depois desta experiência, juntei um grupo de pessoas bem
intensionadas, e tentamos convencer alguns oficiais da DPC (Diretoria de Postos
e Costas), a reconhecer formalmente esta categoria profissional, que continua
ainda envolta num manto de indefinição, a que chamo de Categoria dos Iatistas
Profissionais. Nossa intensão era fazer com que a Marinha criasse o Sétimo
Grupo Profissional, como já são os Marítimos (profissionais que trabalham em
navios), os mergulhadores e vários outros.
Visto que nossa “força tarefa” não conseguiu sucesso,
recebemos agora com grande otimismo a chegada de uma Escola franqueada pela IYT – International Yacht Training (http://www.iytworld.com/) entidade reconhecida
pela MCA (British Maritime&Coastguard
Agency) assim como dezenas de outras prestigiadas Marinhas ao redor do
mundo, como a Norte Americana, Australiana, Canadense, Irlandesa, Ilhas Cayman,
Croacia e da influente Ilhas Marshal, segundo maior porto de registro de iates
do mundo.
O que isto siginifica, é que ao fazer um curso no Brasil,
podemos obter uma Licença reconhecida mundialmente, a de Yacht Master, e com ela poderemos depois galgar as licenças
Profissionais, a que chamam agora de Worldwilde
Master Of Yachts - MOY 200 gt Limited e MOY 200gt Unlimited – o que
permitiria embarcar nas mais diversas funções em iates de charter ou não, ao
redor do planeta. O sistema IYT possui mais de 150 escolas reconhecidas ao
redor do mundo, em 41 países e ministra cursos em seis idiomas (agora acho que
sete).
Estes cursos iniciais são praticamente obrigatorios para
quem almeja categorias profissionais, e no caso pedem experiência comprovada de
embarque e a Carteira de Capitão Amador,
No Brasil, a Escola Náutica Azimuth de Ilhabela (http://www.escolanauticaazimuth.com.br),
já esta ministrando cursos de Yachtmaster
até 200 toneladas (AB) e, na seqüência poderá emitir outras habilitações
destinadas a embarcações de maior tonelagem. Os cursos são ministrados em
Ilhabela, mas turmas no Guarujá e Angra dos Reis já estão acontecendo.
Com esta licença, é possivel alugar barcos sem tripulação no
exterior, e no caso de alguém vir a adquirir um Iate de bandeira estrangeira,
não deverá enfrentar problemas com sua seguradora, visto que estas licenças são
as mais bem aceitas ao redor do mundo.
Lamentavelmente, tinhamos a esperança de criar uma certificação
internacional sob nossa própria bandeira, onde a nossa DPC emitiria, como de
direito é, o Certificado Internacional de Competência para Iatistas
Profissionais, mas acreditamos (com fé) que ela passe a reconhecer as licenças
emitidas sob o padrão MCA, assim como várias outras autoridades marítimas ao
redor do mundo, como comentado acima.
O que importa é galgar um padrão de habilitação internacional,
e que ele permita que sejamos reconhecidos por nossa experiência e habilidades,
aumentando nossas chances de trabalhar em grandes iates por todos os mares do
mundo, sem sofrer restrições. Pesquisas publicadas recentemente, dizem que o
mercado de Superyachts deverá criar cerca
de 65.000 novos postos de trabalho ao redor do mundo, nos próximos anos.
Quem sabe, no futuro, possamos operar grandes barcos de
charter, com tripulações brasileiras bem treinadas para fazê-lo, visto que a
qualidade de serviços já temos, só falta treinamento, padronização e certificações
reconhecidas, o que irá representar a necessária valorização da mão de obra,
hoje marginalizada.