por Alvaro Otranto
Por incrivel que possa parecer, dentre os maiores sobreviventes
encontramos alguns dos maiores trapalhões e sortudos dos Sete e outros mares. Alguns deles
deveriam ter ficado 171 dias no mar, o que seria mais apropriado às suas
historias.
100 dias: Richard Van
Pham, o reincidente!
Richard Van Pham, natural de Long Beach, California, tinha 62 anos,
quando saiu para uma pequena travessia rumo a Ilha de Catalina. A viagem que
deveria durar três ou quatro horas foi radicalmente prolongada devido a uma
tempestade. O barco perdeu o mastro, as antenas de radio e depois o motor.
Impossibilitado de retornar, foi levado pela correnteza e permaneceu a deriva
por mais de três meses.
Conseguindo capturar uma tartaruga, utilizou-a como isca para aves que
tentavam pegar os pedaços de carne presos ao convés. Ele conseguiu destilar
agua com a luz do sol, bebendo o produto e ainda utilizando o sal para
conservar carne. Chegou mesmo a cozinhar gaivotas utilizando parte da madeira
do barco como combustivel numa fogueira improvisada.
Todos os dias ele vigiava o horizonte a procura de terra ou de outro
barco, mas sem sucesso, até que certo dia foi visto por um pequeno avião que
notificou as autoridades e algumas horas depois foi resgatado após quase quatro
meses no mar.
Devido à fama conseguida pelo seu admiravel feito de sobrevivência,
acabou recebendo em doação um barco novo, equipado com tudo o que havia de mais
moderno em equipamentos de comunicação e navegação.
Pasme, cerca de dois anos depois, foi encontrado novamente a deriva,
após apenas alguns dias de desaparecido, porém sem sinal dos caros equipamentos
que havia sido presenteado. Após o resgate, a US Coast Guard o multou por não
possuir nem ao menos o equipamento obrigatorio a bordo.
117 dias: Maurice e
Marilyn Baily
Marilyn e Maurice partiram de South Hampton num mês de Junho de 1972, em
seu veleiro de 31 pés, com o plano de emigrar para a Nova Zelândia. Em
fevereiro do ano seguinte passaram pelo Canal do Panamá e uma semana depois enquanto
navegavam pelo Pacifico, foram atingidos violentamente por uma baleia. Pelo
enorme rombo a água entrava com violência, e imediatamente inflaram sua balsa
de abandono e seu bote de apoio.
Rapidamente lançaram para os mesmos tudo o que puderam salvar, levando
algumas latas de comida, um fogareiro a gás, carta náutica, bussola, um
reservatório de água, passaportes e um estojo de reparo de bote. A bordo e com
os dois barcos amarrados entre si, acompanharam o naufrágio de seu veleiro, até
então sua casa.
Nos primeiros dias comeram os alimentos em conserva, porém depois se
alimentaram de aves marinhas, tartarugas e peixes que conseguiram pescar com
equipamento improvisado. As chuvas lhes forneceram água.
Durante o tempo em que estiveram a deriva, contaram sete navios passar
ao largo sem ve-los. Os dias se tornaram semanas e depois meses, que foram
sendo vencidos. Suas roupas se gastaram, seus infláveis de deterioraram e
esforços para mante-los inflados eram contínuos. Feridas se abriram em suas
peles ressecadas pelo sol e sal.
No dia 30 de Junho seu martírio chegou ao fim, quando um barco de pesca
Coreano viu o pequeno ponto escuro no vasto oceano e resolveu inspecionar de
mais perto. Ao se aproximar laçaram a balsa e encontraram em seu interior o
casal desmaiado, provavelmente em seus últimos minutos de vida. Cada um perdeu
mais de 20 quilos e se encontravam totalmente anêmicos, desidratados e em
confusão mental, eles haviam derivado mais de 1.300 milhas.
133 dias: Poon Lim
Poon Lim (25) foi o recordista de
sobrevivência no mar por quase sessenta anos. Embarcado em um navio mercante
britânico como taifeiro (um tipo de garçon), partiu de Cape Town no dia 23 de
novembro de 1942. Torpedeado por um submarino alemão apenas alguns dias após a
partida, viu seus 53 companheiros perderem a vida, no rápido naufrágio.
Tendo se atirado antes do afundamento, se manteve a superfície na
esperança de achar algum dos barcos salva-vidas. Após quase duas horas pode
localizar um, embarcando exausto.
A bordo encontrou um pequeno suprimento de água, biscoitos de ração,
alguns foguetes e uma lanterna. Ele resolveu manter seu consumo em apenas dois
biscoitos por dia e alguns goles de água, a fim de sobreviver por cerca de um
mês. No final do primeiro mês, e tendo avistado vários navios que não o viram,
concluiu que teria de sobreviver até que chegasse a algum ponto de terra.
Ele pescou utilizando um pedaço de fio e um pedaço de biscoito como
isca. Após pegar o primeiro peixe, começou a utilizar parte dele com isca, e
assim sucessivamente. Conseguiu pegar aves marinhas e tubarões, bebendo seu
sangue para complementar a pouca água de que dispunha. No melhor estilo
naufrago, fez marcas na borda da balsa, para controlar o tempo de sobrevivência
e nadava duas vezes ao dia, a fim de não perder a capacidade física (somente um
oriental iria tomar este cuidado).
No dia de numero 131, notou uma mudança na coloração da água, aves
marinhas e algas, indicando que estaria próximo de terra. No 133º dia ele viu
uma pequena vela no horizonte, que veio em seu auxilio. Ele esta nas
proximidades da “nossa” foz do Rio Amazonas, e havia derivado todo o Atlântico
Sul e já beirava outro hemisfério.
Neste enorme período, ele perdeu apenas 10 Kg e manteve sua saúde
inalterada, não necessitando de apoio para caminhar após seu resgate.
147 dias: Os
Sobreviventes da Caixa de Gelo
Foto tirada pelo Avião de resgate
Em um dia 23 de Agosto, um barco de pesca Tailandes de apenas dez
metros, com cerca de vinte tripulantes rompeu o fundo ao enfrentar mares revoltos
ao largo da costa australiana. Dezoito deles se perderam no mar e dois nativos
de Burma conseguiram se salvar, entrando em uma grande Caixa de Gelo.
A tormenda que atingiu a fragil embarcação foi o Ciclone Charlotte com
ventos de mais de 50 nós, e por muita sorte a caixa não emborcou nestas
condições de mar. Por ser a estação das monções conseguiram sobreviver devido à
chuva que caia diariamente, pois o único alimento que tiveram foram os peixes
que estavam no interior da geleira.
No dia 17 de Janeiro, um avião da Alfandega Australiana os localizou
durante um voo de rotina, enviando um helicoptero de resgate. Após serem
tratados de desidratação, anemia profunda e queimaduras de sol, foram enviados
de volta a suas familias.
300 dias: Pescadores
Mexicanos
Lucio Rendon, Salvador Ordonez e Jesus Eduardo Vivand, e mais dois
companheiros, partiram em uma baleeira de 25 pés para uma pescaria de três
dias, no inicio de outubro de 2005, do porto de San Blas Nayarit, México.
Após lançar seu equipamento de pesca, voltaram ao litoral e comemoraram
no aguardo de uma grande pescaria (coisa de latino). No dia seguinte,
retornaram para retirar o equipamento de pesca e nada encontraram. Rodaram
algumas horas atrás do caro equipamento, e acabaram ficando sem combustível.
Como estavam muito longe de terra, não puderam remar, e os ventos ajudados pela
correnteza levaram o barco para longe do litoral.
Eles tinham suprimentos para uns quarto dias, após este período
começaram a passar muita sede e fome, permanecendo sem comer e beber nada. No
terceiro dia após o fim dos víveres, começaram a beber água do mar, o que os
fez apenas piorar. No dia seguinte, começou a chover e com o auxilio dos
tambores de combustível que foram lavados com água do mar, puderam recolher
cerca de 200 litros de água. A fome continuava intensa e a primeira refeição
que conseguiram foi provida por uma tartaruga que passou ao lado do barco.
Ergueram o animal e cortaram-lhe a cabeça recolhendo e bebendo seu sangue, e
depois dividiram sua carne. Dois dos companheiros não conseguiram comer a carne
crua e acabaram morrendo de fome, antes do final de novembro.
Eles continuaram caçando tartarugas, somando 103 animais até a data do
resgate. Caçaram aves marinhas, e com o auxilio de uma ferramenta improvisada
rasparam as cracas que haviam aderido ao casco e as utilizaram como isca para
pequenos peixes, que foram utilizados de isca para peixes maiores completando a
cadeia alimentar em seu modo mais primitivo.
Por precaução salgaram a carne de peixes e tartarugas, guardando para
quando não pudessem pescar. Acreditasse que não morreram de escorbuto, pois
pequenas quantidades de Vitamina C podem ser encontradas na carne crua e
visceras de peixes e outros animais.
O barco derivou até 9 de Agosto de 2006, quando foram detectados pelo
radar de um pesqueiro de Taiwan. O resgate os encontrou bastante magros, mas
ainda saudáveis. Eles estavam a 200 milhas ao Norte do litoral da Austrália, e
singraram 5.500 milhas através do Pacifico.
No dia 25 do mesmo mês, os integrantes Jesus, Salvador e Lucio (que
significa Luz ou Iluminado) foram recebidos em sua terra natal, festejados como
um milagre divino.
390 dias: José
Salvador Albarengo, ganhou mas não levou!
Nosso recordista, um pescador salvadorenho de 37 anos foi encontrado nas
Ilhas Marshall em estado de confusão mental. O relato dele trouxe o fato que
havia passado cerca de 13 meses no mar, pois afirmou que seu barco quebrou no
litoral do México tendo derivado mais de 5 mil milhas. Durante este periodo ele
se alimentou de tartarugas, aves marinhas e peixes apanhados com as mãos,
bebendo até mesmo sua propria urina.
Ele havia saido em seu barco de apenas 23 pés para pescar com um jovem,
e foi arrastado de sua area habitual por ventos fortes. Com a quebra do motor
permaneceu sem conseguir chamar a atenção de outros barcos, até ser arrastado
pelas correntes. Cerca de um mês depois da quebra, o rapaz que o acompanhava
faleceu de fome e sede.
Sua historia, porém ainda não foi aceita pelas autoridades, que
desconfiam que ele na realidade foi utilizado como “mula” de drogas, entre o
México as Ilhas Marshall, onde o consumo de cocaina é liberado, mas o tráfico
não! Seu estado clínico foi considerado “irreal” pelos médicos, pois nem
queimaduras de sol ele tinha e gozava de boa saude ao ser encontrado (meio
gordinho como se vê na foto).
É pratica comum entre os traficantes, “absorver” alguns dos pequenos
barcos que levam as drogas do litoral do Mexico para a embarcação-mãe, que ira
fazer o transporte oceânico da droga. Muitas vezes os botes são embarcados e
transportados a fim de facilitar o desembarque em seu local de destino. Este
fato, aliado a complicações anteriores do sobrevivente com a justiça, deixam
ainda muitas dúvidas no ar e no mar...