Todo barco que já pode ser
considerado um pouco maior, passa a ter a necessidade de ser apoiado por um
bote, geralmente inflável. Hoje, varias categorias de botes e barcos de apoio
surgiram, de acordo com a necessidade das pessoas, o mercado e até o luxo
desmedido.
Os botes antigamente eram
utilizados de forma bastante extensiva. Levavam e traziam tripulantes e
passageiros, transportavam peças, ferramentas e utensilios de bordo para terra
e vice-versa, porém sempre sofreram uma restrição, que era o tamanho do
“barco-mãe” onde seria estivado. Para içá-lo a bordo, utilizávamos turcos fixos
e cabos com sistema de moitões, com o tempo passamos a utilizar turcos
eletro-hidráulicos e até plataformas basculantes, mas o comprimento destes
sempre foi obrigatoriamente menor do que a boca do barco-mãe.
Inicialmente, bem pequenos, leves
e muitas vezes movidos a remos ou pequenos motores, cresceram de potência e hoje
encontramos botes movidos a hidrojato e até mesmo com avançados motores de popa
eletricos.
De uns tempos para cá, vimos
surgir os Chase boats, mais do que
simples botes, passaram a ser verdadeiros Barcos-de-Apoio, pois são grandes
demais para serem estivados a bordo.
O termo em inglês “Chase” surgiu anos atras na indústria
naval de apoio a produção de petroleo. Estes barcos são, ainda hoje, utilizados
pelos navios de pesquisa e plataformas, para realizar serviços complementares,
como “limpar” o caminho dos barcos de pesquisa geodésica como exemplo, pois este
tipo de navio é obrigado a seguir uma derrota pré-estipulada e não pode desviar
de barcos de pesca ou quaisquer outros obstáculos, portanto os chase seguem à frente avisando e
retirando os problemas do caminho.
As plataformas os utilizam para
retirar peças, lançar cordões de boias de contenção e ainda realizar a
varredura ao redor das plataformas, onde pescadores costumam se posicionar
aproveitando os peixes que costumam se concentrar nestas areas, porém suas
linhas e anzois oferecem perigo aos mergulhadores e mesmo equipamentos móveis
como os ROV’s, sendo necessária sua ação.
No iatismo internacional, os Chase boats surgiram na forma de
pequenas lanchas ou não tão pequenas assim, que acompanham os barcos-mãe em
suas viagens utilizando cabos de reboque ou mesmo propulsão propria. Em alguns
casos, a tripulação é compartilhada e em outras tem organização propria, apesar
de atenderem ambas ao mesmo proprietario.
Alguns anos atras, este tipo de
barco de apoio se tornou uma verdadeira mania, e iates cruzavam do Caribe para
a Florida através das Bahamas rebocando seu Chase para lá e para cá, apesar da
condenação de suas companhias de seguro, visto que muitos se tratam de barcos
para uso apenas em aguas abrigadas, e não para realizar travessias.
Bastante comuns são os chase destinados a operação de mergulho
ou pesca oceânica, que acompanham o barco-mãe nos passeios, saindo para suas
atividades como uma opção extra de diversão para os passageiros.
Particularmente, tenho
experiência em rebocar um bote de 26 pés pelo litoral brasileiro, tendo
realizado mais de uma viagem de Angra a Bahia e outros portos nordestinos,
chegando mesmo a visitar Fernando de Noronha. Para tornar esta aventura
possivel, nosso bote é equipado com dois motores centro-diesel, possui uma
bateria a mais para serviço, pois utilizamos uma luz estrobo dia-e-noite ligada
durante os períodos de reboque e ainda um transponder AIS banda B. Para o reboque,
utilizamos um cabo de fibra sintética (Spectra™)
de alta resistência além de ter realizado algumas pequenas modificações
estruturais na proa do bote e na ventilação dos motores, que nos permitiram
realizar estas travessias em segurança. Porém, a preocupação é permanente, e
uma câmera de vigilância fica com o bote focado dia e noite, e quem esta no
serviço de navegação fica com um olho na proa e outro acompanhando o barco que
segue em nossa esteria. Lamentavelmente, devido ao reboque de quase três
toneladas, aumentamos sensívelmente nosso consumo e perdemos quase 10% de nossa
velocidade, além do que ficamos impedidos de soltar linhas de pesca durante as
travessias, mas tudo isto vale a pena.
O uso deste barco de apoio nos
permitiu realizar confortáveis passeios com todos os nossos passageiros de uma só
vez, enquanto que nosso bote original não permitia mais do que três ou quatro
pessoas mal acomodadas. Por possuir banheiro, cobertura, várias geleiras,
ducha, som, espaço de convivência e grande autonômia, permite passar varias
horas longe do barco mãe, aumentando (em muito) a qualidade dos passeios. Outra
vantagem é a possibilidade de realizar traslados mais distantes, como levar e
trazer passageiros de Angra para Paraty, sem ter de deslocar o barco-mãe, ou
realizar pequenas expedições em locais onde o calado não nos permitiria chegar
em segurança, como Cachoeira no alto do Rio Paraguaçu, no Oeste na Bahia de
Todos os Santos.
Os Chase, aqui chamados de Barcos-de-Apoio são uma excelente
ferramenta para aumentar o conforto e a qualidade dos passeios e do serviço de
bordo, porém o custo de mais um barco, com vaga a mais em uma marina,
equipamentos complexos e motores a serem revisados e abastecidos, um tripulante
a mais ou um que ficará sobrecarregado atendendo a dois barcos, são itens que
precisam da atenção de qualquer proprietario, antes de adotar esta ideia.
Lá fora, onde nem a imaginação e
nem o capital aparentemente tem limites, existem barcos de apoio especializados
em desembarcar veiculos em praias, como quadriciclos. Outros transportam
plataformas de onde partem pequenos submarinos, outros toboaguas gigantes,
cantos-gourmet flutuantes e até mesmo insólitas plataformas para jogar golf!
Não bastassem todas estas
excentricidades, um novo tipo de embarcação esta sendo adotada pelos Iates muito
grandes, mas não grandes o bastante para abrir mão de mais apoio, que são os
chamados YSV (Yacht Support Vessels), dos quais falaremos numa próxima
oportunidade.