quarta-feira, 24 de junho de 2015

Chase Boats, e os botes cresceram!

Todo barco que já pode ser considerado um pouco maior, passa a ter a necessidade de ser apoiado por um bote, geralmente inflável. Hoje, varias categorias de botes e barcos de apoio surgiram, de acordo com a necessidade das pessoas, o mercado e até o luxo desmedido.

Os botes antigamente eram utilizados de forma bastante extensiva. Levavam e traziam tripulantes e passageiros, transportavam peças, ferramentas e utensilios de bordo para terra e vice-versa, porém sempre sofreram uma restrição, que era o tamanho do “barco-mãe” onde seria estivado. Para içá-lo a bordo, utilizávamos turcos fixos e cabos com sistema de moitões, com o tempo passamos a utilizar turcos eletro-hidráulicos e até plataformas basculantes, mas o comprimento destes sempre foi obrigatoriamente menor do que a boca do barco-mãe.


Inicialmente, bem pequenos, leves e muitas vezes movidos a remos ou pequenos motores, cresceram de potência e hoje encontramos botes movidos a hidrojato e até mesmo com avançados motores de popa eletricos.

De uns tempos para cá, vimos surgir os Chase boats, mais do que simples botes, passaram a ser verdadeiros Barcos-de-Apoio, pois são grandes demais para serem estivados a bordo.
O termo em inglês “Chase” surgiu anos atras na indústria naval de apoio a produção de petroleo. Estes barcos são, ainda hoje, utilizados pelos navios de pesquisa e plataformas, para realizar serviços complementares, como “limpar” o caminho dos barcos de pesquisa geodésica como exemplo, pois este tipo de navio é obrigado a seguir uma derrota pré-estipulada e não pode desviar de barcos de pesca ou quaisquer outros obstáculos, portanto os chase seguem à frente avisando e retirando os problemas do caminho.

As plataformas os utilizam para retirar peças, lançar cordões de boias de contenção e ainda realizar a varredura ao redor das plataformas, onde pescadores costumam se posicionar aproveitando os peixes que costumam se concentrar nestas areas, porém suas linhas e anzois oferecem perigo aos mergulhadores e mesmo equipamentos móveis como os ROV’s, sendo necessária sua ação.
No iatismo internacional, os Chase boats surgiram na forma de pequenas lanchas ou não tão pequenas assim, que acompanham os barcos-mãe em suas viagens utilizando cabos de reboque ou mesmo propulsão propria. Em alguns casos, a tripulação é compartilhada e em outras tem organização propria, apesar de atenderem ambas ao mesmo proprietario.


Alguns anos atras, este tipo de barco de apoio se tornou uma verdadeira mania, e iates cruzavam do Caribe para a Florida através das Bahamas rebocando seu Chase para lá e para cá, apesar da condenação de suas companhias de seguro, visto que muitos se tratam de barcos para uso apenas em aguas abrigadas, e não para realizar travessias.

Bastante comuns são os chase destinados a operação de mergulho ou pesca oceânica, que acompanham o barco-mãe nos passeios, saindo para suas atividades como uma opção extra de diversão para os passageiros.

Particularmente, tenho experiência em rebocar um bote de 26 pés pelo litoral brasileiro, tendo realizado mais de uma viagem de Angra a Bahia e outros portos nordestinos, chegando mesmo a visitar Fernando de Noronha. Para tornar esta aventura possivel, nosso bote é equipado com dois motores centro-diesel, possui uma bateria a mais para serviço, pois utilizamos uma luz estrobo dia-e-noite ligada durante os períodos de reboque e ainda um transponder AIS banda B. Para o reboque, utilizamos um cabo de fibra sintética (Spectra™) de alta resistência além de ter realizado algumas pequenas modificações estruturais na proa do bote e na ventilação dos motores, que nos permitiram realizar estas travessias em segurança. Porém, a preocupação é permanente, e uma câmera de vigilância fica com o bote focado dia e noite, e quem esta no serviço de navegação fica com um olho na proa e outro acompanhando o barco que segue em nossa esteria. Lamentavelmente, devido ao reboque de quase três toneladas, aumentamos sensívelmente nosso consumo e perdemos quase 10% de nossa velocidade, além do que ficamos impedidos de soltar linhas de pesca durante as travessias, mas tudo isto vale a pena.

O uso deste barco de apoio nos permitiu realizar confortáveis passeios com todos os nossos passageiros de uma só vez, enquanto que nosso bote original não permitia mais do que três ou quatro pessoas mal acomodadas. Por possuir banheiro, cobertura, várias geleiras, ducha, som, espaço de convivência e grande autonômia, permite passar varias horas longe do barco mãe, aumentando (em muito) a qualidade dos passeios. Outra vantagem é a possibilidade de realizar traslados mais distantes, como levar e trazer passageiros de Angra para Paraty, sem ter de deslocar o barco-mãe, ou realizar pequenas expedições em locais onde o calado não nos permitiria chegar em segurança, como Cachoeira no alto do Rio Paraguaçu, no Oeste na Bahia de Todos os Santos.

Os Chase, aqui chamados de Barcos-de-Apoio são uma excelente ferramenta para aumentar o conforto e a qualidade dos passeios e do serviço de bordo, porém o custo de mais um barco, com vaga a mais em uma marina, equipamentos complexos e motores a serem revisados e abastecidos, um tripulante a mais ou um que ficará sobrecarregado atendendo a dois barcos, são itens que precisam da atenção de qualquer proprietario, antes de adotar esta ideia.


Lá fora, onde nem a imaginação e nem o capital aparentemente tem limites, existem barcos de apoio especializados em desembarcar veiculos em praias, como quadriciclos. Outros transportam plataformas de onde partem pequenos submarinos, outros toboaguas gigantes, cantos-gourmet flutuantes e até mesmo insólitas plataformas para jogar golf!

Não bastassem todas estas excentricidades, um novo tipo de embarcação esta sendo adotada pelos Iates muito grandes, mas não grandes o bastante para abrir mão de mais apoio, que são os chamados YSV (Yacht Support Vessels), dos quais falaremos numa próxima oportunidade.







terça-feira, 9 de junho de 2015

CICLONES TROPICAIS III

As maiores tormentas já registradas na historia da humanidade!

Abrimos aqui, a “Seção Tragedia” desta serie de textos, nomeando os campeões em varias categorias de destruição e letalidade, porém preciso registrar que é muito complicado levantar e organizar dados sobre tempestades, pois cientistas de diferentes paises têm metodologias diferentes na sua interpretação, e há uma eterna discusão sobre qual foi o mais forte, o mais intenso, o maior, mais mortal ou destruidor. Retirei os dados abaixo das melhores fontes que consegui, mas aviso que não se trata de uma unanimidade, e poderão achar outras informações que não corroboram as aqui relacionadas.

Neste ponto, preciso lembrá-los também que os temidos Furacões, apesar de nossa relativa proximidade com eles, quase não figuram entre as mais violentas tempestades ciclonicas ocorridas sobre a face da terra. Muitos dos piores (Tufões) ocorreram no Pacifico e Mar da China. Outro detalhe é que, enquanto no Caribe eles têm uma Temporada “Oficial”, em outros locais eles podem ocorrer em qualquer época do ano, tornando a vida das pessoas um pesadelo.

Tufão Nancy – 1961 – O mais potente do ano de 1961 no Pacifico e o de ventos mais fortes da historia, registrando o recorde de ventos sustentados por um minuto, de incriveis 186 nós (345 Km/h). Lembremos que as rajadas podem alcançar 50% a mais do que a velocidade sustentada do vento;

Tufão Haiyan (China) ou Yolanda (Filipinas) – 2013 – Foi considerado um dos mais letais. Alcançou 314 Km/h (170 nós), matando 11.801 pessoas nas Filipinas, Vietnan, China e outros paises da região;

Em 1966, o Tufão Kit alcançou a mesma velocidade sustentada de vento que o Nancy, mas felizmente não atingiu o litoral de pais algum;


Super-Tufão Tip – 1979 – o maior de todos, com um diametro de 2100 Km;

Ciclone Tracy – 1974 – foi o menor registrado, com um diametro de apenas 100 Km;

Furacão Katrina – 2005 – O mais caro. Atingiu 151 nós (280 Km/h) e custou a vida de 1.833 pessoas, gerando USD$113 Bilhões em prejuizos. Acredita-se, porém, que o Furacão Miami, ocorrido em 1926, tenha gerado prejuizos de $165 Bilhões, atualizados para valores de 2010;

Furacão Andrew – 1992 – um dos mais famosos no Caribe, devido à destruição que causou em locais como St. Maarten e outras ilhas procuradas por iatistas. Depois de aterrorizar as Bahamas, atingiu a Florida com ventos de 280 km/h (151 nós). Sendo um dos mais caros da historia, causando prejuizos de US$27Bi e matando 65 pessoas.

Tufão Nina – causou a maior inundação do século, destruindo 62 barragens e matando cerca de 100.000 pessoas;

O Grande Furacão de 1780 – atingiu as Antilhas e matou cerca de 22.000 pessoas, da já pequena população da época;

Furacão John – o mais longo e de maior trajetoria da historia. Permaneceu em atividade por longos 31 dias e cruzou 13.280 Km (7.171 milhas náuticas);

Ciclone Bhola – 1970 – o mais letal da historia da humanidade, matou direta ou indiretamente entre 500.000 e um milhão de pessoas no estuario do Ganges e Bangladesh. A maré anormal (surge) invadiu imensas areas costeiras, ceifando vidas e trazendo uma destruição sem precedentes. Devido à precariedade da estrutura formal destas regiões, não houve como contabilizar corretamente as vítimas, pois inumeros corpos foram arrastados pelas enchurradas e nunca mais retornaram ao litoral, cujo contorno foi modificado para sempre;



Catarina – 2004 – Nosso primeiro furacão, matou cerca de 10 pessoas e feriu outras 75. Destruiu 1.500 casas e avariou mais de 40.000, causando prejuizos de US$400 Milhões. Com ventos sustentados de 180 Km/h, cerca de 97 nós, algo nada desprezivel para um Oceano virgem de Furacões até aquela data!


Duração das Estações e Medias Anuais de Ocorrência:

Região
Inicio
Término
Temp. Tropicais
Furacões
Atlantico Norte
01/Juho
30/Novembro
12,1
6,4
Pacifico Leste
15/Maio
30/Novembro
16,6
8,9
Pacifico Oeste
01/Janeiro
31/Dezembro
27,0
17,0
Indico Norte
01/Janeiro
31/Dezembro
4,8
1,5
Indico Sudoeste
01/Julho
30/Junho
9,3
5,0
Região Australiana
01/Novembro
30/Abril
11,0
0
Pacifico Sul
01/Novembro
30/Abril
7,4
4,0
Global
01/Janeiro
31/Dezembro
86,0
46,9
Nota: Nosso litoral ainda não faz parte destas estatisticas, porque tivemos apenas um Furacão “oficial” em nossa historia, o Catarina em 2004. Porém outras tempestades de tendência ciclônica têm se formado, geralmente entre Janeiro e Março, sendo este último nosso mês mais propício.

Escala Saffir/Simpson de Classificação de Ciclones:

Leva em consideração não só a intensidade do vento, mas também a pressão no olho da tormenta:

Categorias
Pressão
Ventos sustentados
Aumento da Maré (Surge)
Categoria I
> 980 mb.
Ventos sustentados de 64 a 82 nós
4 a 5 pés (1,20 a 1,50 m)
Categoria II
980 ~ 965 mb.
Ventos sustentados de 83 a 95 nós
6 a 8 pés (1,80 a 2,40 m)
Categoria III
965 ~ 945 mb.
Ventos sustentados de 96 a 113 nós
9 a 12 pés (2,70 a 3,60 m)
Categoria IV
945 ~ 920 mb.
Ventos sustentados de 114 a 135 nós
13 a 18 pés (3,90 a 5,40 m)
Categoria V
<920 mb.
Ventos sustentados acima dos 136 nós
6 a 8 pés (1,80 a 2,40 m)

OBS: Ventos sustentados máximos são calculados pela media dos ventos em um determinado intervalo de tempo, porém rajadas de até 50% a mais de velocidade, podem ocorrer. Ou seja, num regime de ventos sustentados de 100 nós, rajadas de até 150 nós podem ser registradas.

 

Hurricane Watch: o National Hurricane Center emite um Boletim, informando se existe a possibilidade de desenvolvimento de um Furacão em determinada região num prazo de até 36 horas. Isto basta para que voce comece com os preparativos de proteção de sua “casa” e mantenha atenção no radio ou Navtex ou Inmarsat-C, que são receptores automáticos de avistos de mau tempo.

Hurricane Warning (Aviso de Furacão): o NHC emite um alerta de que ventos ciclonicos com ventos sustentados de, no mínimo, 63 nós (74 mph) estão previstos para uma determinada area que pode ou não lhe atingir diretamente. Voce precisa partir, se houver tempo, rumo a um Abrigo Seguro. Vigilância permanente e plotagem da posição em sua carta são necessárias.

Abaixo, reproduzo uma lista dos resultados e efeitos tidos como esperados numa região de litoral atingida pelas varias categorias de furacão, notadamente em terra ou proximidades. É necessaria certa analogia para imaginar seus possiveis efeitos à bordo:

Categoria
Pressão
Ventos
Aumento da Maré (Surge)
Categoria I
> 980 mb.
Ventos sustentados de 64 a 82 nós
4 a 5 pés (1,20 a 1,50 m)
Efeitos: não costumam ocorrer avarias nas edificações, apenas pequenas arvores sofrem com desfolhamento. Alguns piers mais precarios podem avariar com a maré anormal, assim como canais costeiros em terras baixas.

Categoria
Pressão
Ventos
Aumento da Maré (Surge)
Categoria II
980 ~ 965 mb.
Ventos sustentados de 83 a 95 nós
6 a 8 pés (1,80 a 2,40 m)
Efeitos: os telhados começam a sofrer avarias, assim como portas e janelas. A vegetação é atingida consideravelmente, assim como trailers e motor-homes. A maré anormal (surge) pode destruir pequenas estruturas como piers, causando avarias a barcos mal amarrados.

Categoria
Pressão
Ventos
Aumento da Maré (Surge)
Categoria III
965 ~ 945 mb.
Ventos sustentados de 96 a 113 nós
9 a 12 pés (2,70 a 3,60 m)
Efeitos: começam a ocorrer avarias em edificações e trailers podem ser destruidos. Grandes inundações podem ocorrer em areas próximas da costa e estruturas náuticas poderão ser destruidas por objetos flutuantes, arrastados pelo vento e correnteza. Barcos podem se soltar de suas amarras, avariando os outros à sua volta.

Categoria
Pressão
Ventos
Aumento da Maré (Surge)
Categoria IV
945 ~ 920 mb.
Ventos sustentados de 114 a 135 nós
13 a 18 pés (3,90 a 5,40 m)
Efeitos: casas e pequenas edificações podem ser totalmente destelhadas ou mesmo destruidas. Enchentes atingem enormes areas e deslizamentos de terra podem representar grandes perigos em estradas e região costeira. Veleiros perdem seus mastros, quaisquer objetos no convés são levados pelo vento, barcos de pequeno e medio porte são lançados como brinquedos.

Categoria
Pressão
Vento
Aumento da Maré (Surge)
Categoria V
<920 mb.
Ventos sustentados acima dos 136 nós
6 a 8 pés (1,80 a 2,40 m)
Efeitos: grandes avarias e destelhamento de edificações comerciais e mesmo industriais. Pequenas residencias e lojas de rua são destruidas. A cheia atinge as casas ao longo da costa e é necessário evacuar a população com urgência. Barcos são empilhados em obstaculos em terra, e não há chance de algo que flutue ser mantido a salvo. Reze.

Palavras antes da Tempestade:

Este texto foi preparado por um navegador, evitando dados tecnicos e ciêntificos mais aprofundados, e dando um enfoque mais prático, utilizando termos e comparações que físicos, meteorologistas e outros ciêntistas poderão não concordar. A intensão é dar uma visão ampla do fenômeno e os perigos que o envolvem.

De toda forma, as informações condensadas neste texto não devem ser consideradas como única fonte ou o bastante a quem pretende singrar as aguas do Caribe ou mesmo Pacifico. Aconselhamos que procure a literatura utilizada como bibliografia, assim como outras fontes, para melhores e mais aprofundados conhecimentos. A segurança de seu barco e tripulação pode depender de seu preparo e conhecimento.

Bons Ventos!

Bibliografia:
The Concise Guide to Caribbean Weather – David Jones
The Virgin Islands – Stephen J. Pavlidis
Cruising Guide to the Leeward Islands – Chris Doyle
Cruising Guide to the Windward Islands – Chris Doyle
World Cruising Routes – Jimmy Cornell
The Gentleman’s Guide to Passages South – Bruce Van Sant