quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Já dizia Júlio Verne!


Por Alvaro Otranto

Melhor beber um champanhe a 20 mil léguas submarinas que fundeado ou atracado à Marina de Portofino? Sem chance!

Recentemente, publiquei um texto sobre a última moda entre os milionários, que seria a armação de Shadow-boats. Porém, agora aparecem com mais uma boa ideia para tirar dinheiro de gente rica, diga-se muuuuito rica: Mega-iates Submarinos!


Um escritório de projetos está se propondo a realizar o sonho submarino de qualquer mega-multimilionário-excêntrico da face da terra, a construção de um submarino de recreio de até uns 300 metros de comprimento.

Por se tratar de um produto extremamente diferenciado, os detalhes operacionais não estão disponíveis aos meros fuçadores de internet, será necessário agendar uma data e local para um contato direto com os responsáveis desta façanha do design.

Me recordo algumas cenas do filme realizado pelo estúdio Disney na década de 1960, onde ahistória do Capitão Nemo a bordo do Nautilusse desenrolava, éramos levados a imaginar criaturas fantásticas e gigantescas à enormes profundidades, tudo sob a benção do autor e ficcionista Júlio Verne, um homem que quase adivinhou o mundo em que vivemos hoje. O Nautilus tinha um design bastante rebuscado, cheio de serrilhados e com muito conforto a bordo, me lembro de enormes cadeiras de espaldar alto, mobília cheia de rococós e tapetes vermelhos por toda parte do piso. A tripulação se vestia como em um iate de luxo e ao que parece, é este sonho que querem fazer renascer sob a égide da Migaloo, escritório austríaco que propõe este novo rumo para o iatismo... para baixo!

No que diz respeito a uma das finalidades do iatismo, que é o “ver e ser visto”, como ficaria? Montaríamos tendas sobre o convés, faríamos construir marinas de grande calado para receber estes torpedos gigantes? As mesmas passariam a ter rebocadores de grande torque. E o tráfego? As autoridades permitirão que submarinos entrem de suas aguas a qualquer momento e em qualquer local? A que profundidade deverão circular estes bólidos submarinos, que cruzam a mais de vinte nós em total silêncio, pelas profundezas dos oceanos.

O M2, seu menor projeto, possui apenas (como se fosse pouco) 72 metros, mas o M7 pode ter mais do que 283 metros, ou 930 pés; maior que qualquer iate convencional jamais construído.

Para não exagerar, peguemos o modelo intermediário M5. Ele dispõe de heliponto, garagem para todos os tipos de brinquedos incluindo uma comporta para operar dois mini submarinos de 11 metros de comprimento. Adega, sala de jogos e de cinema, spa, ginásio, banheira ao ar livre (quando na superfície, é claro). Já ia esquecendo da biblioteca (é bom ter algum livro à mão, pois abaixo dos dez metros de profundidade as coisas costumam ficar bem escuras). Entre as 32 pessoas que pode transportar, poderá levar o casal proprietário em sua cabine de 300 metros quadrados e mais seis outros casais em Suítes VIP de 65 metros quadrados cada uma.

A bem da verdade, com um calado de sete metros, vai ficar difícil arrumar local em alguma marina badalada, ainda mais com um comprimento de 443 pés! Fico imaginando a tripulação, alguns submarinistas russos aposentados, todos acostumados a ambientes claustrofóbicos.

Quanto a qualidade do produto a ser entregue, pode ficar tranquilo, pois a tecnologia é provida pela empresa Starkad Technologies, não confundir com a Stark Inc. do filme “Homem de Ferro”, pois esta não fica na Califórnia, mas na Estônia (Põhja-Ranna, Vääna-Jõesuuküla, Harkuvald, Harjumaa, 76909). Pode parecer brincadeira, mas a Estônia é considerada um “tigre-báltico”, vizinho da Suécia que vem se tornando um centro internacional no que diz respeito a eletrônica de telecomunicações, incluindo um polo bancado pela OTAN, de combate a invasões de redes, provavelmente devido à sua proximidade da Rússia.


Deixando a política de lado, considero que esta moda vai demorar muito a pegar, mas não descarto que alguém resolva fazer construir algo do gênero, apesar da pouca ou nenhuma praticidade deste tipo de embarcação. Particularmente, gastaria menos construindo um iate convencional, ou melhor, dois! Um para o Caribe e outro para o Mediterrâneo, como dezenas de milionários o fazem atualmente, e desde os anos 1980, quando um famoso milionário mexicano encomendou o Inca e o Asteca, dois iates iguais ao Highlander do empresário Malcolm Forbes, que estava em construção no estaleiro holandês De Vries, na época ele justificou que cada um ficaria de um lado do Atlântico, como comentado.

Agora, para quem prefere nem ver e nem ser visto, talvez algum traficante, pode dar uma olhada no site abaixo, procurando por algo que atenda às suas necessidades. Em tempo, eles também possuem outros projetos, como o de plataformas oceânicas de lazer. Aparentemente, eles transformam uma plataforma de petróleo em um resort de alto-mar, e podem construir sua ilha artificial particular, vale uma olhadela!


terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Sombra Chic

Por Alvaro Otranto

Alguns posts atrás, publiquei um texto sobre os “barcos de apoio” conhecidos lá fora por Chase Boats, agora volto ao assunto com algo que fica difícil de batizar em português, de uma forma que não seja “Iate ou Navio de Apoio”, conhecidos lá fora por Shadow Boats.

O chamado Shadow ou SupportVessel nada mais é do que um outro iate, que tem a função de complementar os espaços e a logística do barco-mãe (Motheryacht). Criado inicialmente para dar suporte a Iates que realizavam expedições, passou a ocupar um lugar de destaque no lazer de seus proprietários.

Shadow Yacht em operação

Tudo começa com a construção ou adaptação de um iate ou outra embarcação à nobre função de apoio de um iate-mãe. Dentre suas funções estaria transportar equipamentos e embarcações de menor porte, a fim de atender as necessidades do Iate onde o proprietário e convidados ficariam acomodados. Portanto, sem a necessidade de espaçosas cabines e salões, este volume passaria a ser dedicado a alojar uma quantidade enorme de brinquedos flutuantes, como botes de apoio, lanchas de pesca, motos-aquáticas, infláveis, hidroaviões,  submarinos, pranchas de todos os calibres além de oficinas de reparo, paióis para peças sobressalentes, câmaras frigorificas, despensas para alimentos, lavanderia, ambulatório,spa, academia, central de comunicação, oficina, alojamento para os tripulantes de ambos, mas principalmente algo complicado de se instalar e operar em um “barco-mãe” que seria um amplo heliponto, apto a receber e até estivar e transportar aeronaves de diversos tamanhos.

Os estaleiros europeus não perderam tempo e lançaram vários projetos de barcos de apoio, de 18 a mais de 100 metros de comprimento, com opções dedicadas a todos os tamanhos e necessidades. Porém, não se iluda, estes barcos não são rebocadores forrados de fórmica e cheirando a oficina, são iates diferenciados que possuem elevado padrão de conforto, mesmo não realizando o pernoite do proprietário, pois o mesmo o utiliza como extensão de seu Iate principal, contando com ele para diversões aquáticas, spa, acomodação de mais hóspedes e mesmo para embarque e desembarque através de seu já citado heliponto.

De forma pouco mais econômica, é possível transformar um pequeno navio de apoio e suprimento de plataformas de petróleo, que chamaremos genericamente de Supply Vessel, em um Superyacht Support Vessel. Vale dizer que esta transformação não é das mais baratas, além de herdar equipamentos de propulsão de necessidade duvidosa, como inúmeros motores destinados ao DP-Posicionamento Dinâmico e um consumo de combustível que costuma ser bastante elevado; como vantagem estes navios já nascem atendendo as mais duras regras de segurança e possuem enormes espaços, o que permite instalar o já comentado heliponto com toda a estrutura necessária, assim como garagens e sistemas de lançamento para todo tipo de veículo.

O Thunderbird 2 é utilizado para lançamento de um mini-submarino de passeio

Um fator importante é que o custo de construção de um Iate luxuoso tradicional é bastante elevado, e investir este capital em área construída dedicada exclusivamente ao proprietário e convidados, deixando as áreas técnicas a bordo do barco de apoio, seria o mais inteligente a se fazer. Com isto, sobra mais espaço para piscinas, áreas gourmet, restaurantes, bares, boates e salas de cinema, deixando a oficina, paióis e outros espaços menos cotados de fora.

Apesar de ser uma moda recente, anos atrás visitou a Marina da Gloria a pequena frota de um empresário norte-americano que por aqui passou algum tempo. O barco-mãe tinha algo como 120 pés, e se fazia acompanhar de um trawler de 90 pés, equipado com oficina e despensa, e ainda escoltava uma lancha de pesca esportiva de 70 pés, cuja tripulação se dedicava a pescar Marlins ao redor do mundo, no sistema tag-n-release (pesca-etiqueta e solta, em tradução livre). Assim como ele,hoje em dia vários outros Armadores adotaram este sistema de “flotilha” e o próprio Roman Abramovich encomendou dois SeaAxe’s de 50 metros cada, para apoiar seu Megayacht Eclipse de 162,5 metros (533 pés). Estas “pequenas” embarcações tem velocidade máxima de 28 metros e atendem, segundo consta, às necessidades do armador.

Um é bom, dois é melhor ainda!

A pratica é que o SupportVessel chegue ao local da diversão antes da chegada do Iate-mãe, assim os convidados já irão dispor dos brinquedos quando chegarem ao destino, e não terão de aguardar a tripulação “montar a praia” após terminada a manobra de fundeio.

No Brasil,que a bem da verdade não possui ainda muitos Superiates em suas águas, não se tem notícias que indiquem que algum SSV estará em operação nos próximos meses, mas certamente algo semelhante deverá aparecer por aqui em breve. Levando em consideração que os iates produzidos aqui costumam ter pouco ou nenhum espaço dedicado a manutenção, estocagem de peças e alimentos, sem falar na pobreacomodação de tripulantes, nada impede que possamos identificar lanchas mais antigas, modificadas e passando a servir de apoio para iates de maior porte. Nelas, poderiam ser guardados motos e pranchas, botes e peças, alimentos e bebidas além de permitir até o descanso de tripulantes que passaram a noite acompanhando turmas de jovens em baladas, e que de dia precisam se recuperar para a próxima noitada, enquanto seus pares atendem aos proprietários e convidados de outras gerações, durante o dia.

A bem da verdade, alguns anos atrás uma família de empresários brasileiros comprou e reformou uma grande escuna, que passou a operar uma enorme e muito bem equipada cozinha, apta a atender ao grande número de familiares e convidados dentro de sofisticados padrões gastronômicos. Ela se posiciona em algum lugar da Baia da Ilha Grande e a cada momento um dos barcos da família recorre a ela para consumir alimentos, bebidas e conforto, utilizando-a como um tipo de barco-restaurante privado, que presta apoio especializado a todos. No caso do SSV, eles viajam com o barco-mãe para outras regiões, prestando o suporte logístico necessário a frota, permitindo uma experiência única a seus proprietários.

Um transportador de Flotilha

Seria como enviar o barco de apoio a Fernando de Noronha e ao chegar, você teria um pequeno submarino à sua disposição, assim como uma lancha de pesca e um bote para operação de mergulho autônomo. Caso necessitasse, poderia utilizar o estoque de combustível e agua do barco de apoio e ainda desembarcar (com sorte) um quadriciclo na praia do Porto. Isto sem falar em SUP’s, bicicletas de trilha e até um Ultraleve, tudo para seu deleite.

Ao que parece, este mercado não tem mesmo limite. O que começou com um pequeno bote de apoio, depois virou um Chase e agora cresceu para um Navio de Apoio, também inclui enormes flutuantes rebocáveis, verdadeiras ilhas artificiais onde cantos-gourmet se misturam com piscinas e toboagua gigantes. Quem sabe, no futuro, um magnata deste não vai comprar e adaptar um Porta-aviões, a fim de poder pousar seu jato em seus giros ao redor do mundo.

Mesmo nascendo à sombra de um grande Iate, estes barcos já possuem luz própria e um lugar garantido no mercado, pois aliam mobilidade, estilo, segurança e permitem o acesso ao que há de mais moderno em termos de diversão. 

Tudo em nome de um Mar de muito prazer!