quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

NÁUFRAGOS FAMOSOS II

Seguimos com nossa lista de sobreviventes, incluindo agora várias ocorrências da Segunda Grande Guerra, como as abaixo mencionadas. Sabemos, porém, que centenas de outras devem ter ocorrido, mas seus participantes não lograram exito e infelizmente não temos seus relatos salvos ou registrados.

20 dias. Sessenta e Sete Marinheiros Britânicos miraculosamente sobreviveram por 20 dias, durante a Segunda Grande Guerra quando seu navio foi torpedeado por um submarino alemão. Eles derivaram por 1.200 milhas em quarto barcos salva-vidas com apenas biscoitos, uvas passas e peixe cru pescado com as mãos. Com apenas três mortos, vieram dar na costa de Antigua, em fevereiro de 1943. Porém, para que esta conta feche, a corrente deveria manter a velocidade de 2,5 nós durante todo o tempo, o que é muito pouco provável. Outro naufrago, Steven Callahan precisou de 76 dias (veja na próxima postagem) para derivar 1.800 milhas nesta mesma região. O mais provável é que a posição do naufrágio do navio não tenha sido bem determinada, quer seja pelos recursos da época, quer seja por esta informação não ser de conhecimento geral da tripulação, ainda mais durante a guerra. A maior virtude foi o número de sobrevivêntes e as pouquissimas perdas. Coisas da disciplina britânica, já registrada em outras ocasiões, como na fantastia historia do Endurance.

20 dias: O piloto militar Eddie Rickenbacker e sua tripulação faziam um voo do Hawai para uma base no Pacifico Sul quando seu avião caiu no oceano. Os oito tripulantes sobreviveram por 20 dias em três balsas infláveis com apenas algumas barras de chocolate, um punhado de laranjas e uma linha com anzol. Durante o tempo à deriva, perderam apenas um membro do grupo devido à fome.

38 dias: Dougal Robertson
Os mais impressionantes sobreviventes dos “tempos modernos”


Com a esposa, três filhos (um de 18 e gemeos de 12 anos) e ainda um carona, perderam seu barco, a Lucette, após colidirem com um grupo de baleias proximos às Galapagos. Conseguiram lançar sua balsa e um pequeno barco de apoio, no pouco tempo que tiveram para abandonar seu barco de madeira.  Após a deterioração da balsa, acomodaram-se apenas no bote Ednamair e com uma armação de fortuna, e rumaram de volta para a America do Sul, utilizando conhecimentos bastante apurados de navegação.

Neste período se alimentaram de algumas aves, peixes voadores e de varias tartarugas, o que lhes salvou a vida. A pouca agua que salvaram do naufragio logo acabou, e as chuvas acabaram por lhes salvar a vida. Após 38 dias de um misto de deriva e navegação foram salvos por um atuneiro japones que após quatro dias de viagem os desembarcou em Balboa. Depois de recobrarem o mínimo de saude, embarcaram em um navio de volta a Inglaterra. O Sr. Robertson era Capitão de Longo Curso aposentado, e mesmo com uma navegação sem aparelhos, bussola ou sextante seria capaz de levar sua familia para o litoral da America Central em mais dez dias de navegação, se nada mais de errado acontecesse.

OBS: Autor de um livro extremamente valioso para quem pretende navegar em mar aberto. Sua leitura preparou e até mesmo salvou muitos de seus leitores-navegadores. Infelizmente, nunca foi publicado no Brasil, e apenas uma edição portuguesa foi comercializada por aqui cerca de vinte anos atras, com o titulo “Sobrevivendo ao Mar Cruel”.

40 dias: Tami Oldham Ashcraft



Ela com 23 anos e seu noivo Richard Sharp realizavam o transporte de um barco entre o Tahiti e San Diego, quando a meia distancia de seu destino foram apanhados por um furacão categoria quatro.

Devido às péssimas condições de tempo seu barco acabou emborcando, fazendo-a desmaiar. Quando voltou a consciência descobriu que o barco havia adriçado sózinho e também que seu companheiro havia desaparecido, devido ao rompimento de sua linha de vida.

Ela conseguiu montar uma vela de fortuna e navegou para o Hawaii, distante mais de 1.500 milhas de distância, completando sua jornada cerca de 40 dias depois do acidente.

OBS: tragedia pura e sobrevivência através de uma armação de fortuna, demonstrando organização e preparo da sobrevivente.

50 dias: Os garotos de Fiji




Quando Samu Perez (15), Filo-Filo (15) and Edward Nasau (14) decidiram remar do Atol de Atafu para casa, em um pequeno bote de metal, num dia 5 de outubro, eles não tinham ideia do que poderia acontecer.

Arrastados por uma forte correnteza desapareceram no oceano e após buscas numa área de mil quilômetros quadrados, foram dados como mortos, tendo reunido mais de quinhentos parentes a amigos em um serviço funeral.

Durante os cerca de cinquenta dias à deriva, comeram peixe cru e gaivotas, beberam água de chuva e do orvalho que se acumulava na tolda da pequena embarcação. A poucos dias de seu resgate, passaram a beber água do mar, pois nada mais havia para aplacar a sede dos três.

No final de novembro foram avistados e resgatados por um atuneiro nas proximidades de Fiji, haviam derivado mais de oitocentas milhas. Sem conseguir se manter sobre as pernas, foram levados a um hospital, onde foram tratados de desidratação, anemia profunda e seríssimas queimaduras de sol, antes de retornarem às suas familias.

76 Dias: Steven Callahan

Steven Callahan, um experiente navegador, arquiteto naval e habil inventor, partiu a bordo do veleiro que havia projetado e construido, o Napoleon Sollo de apenas 23 pés, das Ilhas Canarias rumo as Bahamas. Uma semana após sua partida, numa noite de ventos fortes seu barco atingiu algo, possivelmente uma baleia ou contentor e naufragou em poucos minutos. Ele conseguiu ainda reunir alguns suprimentos, antes que o barco desaparecesse da superficie, como um saco de dormir, dois destiladores portateis, um arpão de elastico, uma faca, alguma agua e uma copia do livro Sea Survival de Dougal Robertson.

Sabendo que ninguém daria falta dele por algumas semanas, passou a se dedicar a sobrevivência. Por 76 dias ele seguiu por 1.800 milhas na deriva, ao sabor dos ventos e das correntes atraves do Atlântico. Pescou doze dourados, doze cangulos, quatro peixes-voadores, capturou tres aves e algums quilos de cracas, além de caranguejos e outros pequenos seres coletados em algas do tipo sargaço. Sobreviveu com não mais do que meio litro de agua destilada por dia, devido a pouca chuva desta região do oceano.

Sua balsa começou a afundar após 33 dias de utilização e a luta para mante-la flutando foi diaria e muito penosa. Seu resgate se deu ao acaso, quando um barco de pesca de Guadeloupe se deparou com ele. Após uma rápida recuperação em um hospital local, partiu de carona num outro veleiro a fim de retirar sua correspondência, que o aguardava nas Ilhas Virgens.

OBS: Seu livro, A Deriva, é referência de procedimentos de sobrevivência.

76 dias: Willlian (60) e Simone Butler (52)



Sobreviveram ao Pacifico, em 1989, após serem atacados por Baleias Piloto e verem seu veleiro de 40 pés, o Sibanay mergulhar nas profundezas do oceano. Ao lançarem a balsa, acabaram por furá-la e a custa de muito trabalho e engenhosidade conseguiram tampar os três buracos sofridos pela mesma, logo no primeiro instante, além de varias mordidas de tubarões sofridas nos dias que se seguiram. Eles derivaram por 1.200 milhas a partir do litoral da Costa Rica.

No tempo que tiveram para abandonar o veleiro, embarcaram alguns equipamentos que foram de primordial importancia, como um dessalinizador portatil, que permitiu que produzissem agua potável a partir da agua salgada. Com o equipamento de pesca, e alguma habilidade, capturaram cerca de 250 Kg de peixes, permitindo sua sobrevivência.



OBS: bom preparo e equipamento de qualidade os fizeram sobreviver.

Arrastados por uma forte correnteza desapareceram no oceano e após buscas numa área de mil quilômetros quadrados, foram dados como mortos, tendo reunido mais de quinhentos parentes a amigos em um serviço funeral.

Durante os cerca de cinquenta dias à deriva, comeram peixe cru e gaivotas, beberam água de chuva e do orvalho que se acumulava na tolda da pequena embarcação. A poucos dias de seu resgate, passaram a beber água do mar, pois nada mais havia para aplacar a sede dos três.

No final de novembro foram avistados e resgatados por um atuneiro nas proximidades de Fiji, haviam derivado mais de oitocentas milhas. Sem conseguir se sustentar sobre as pernas, foram levados a um hospital, onde foram tratados de desidratação, anemia profunda e seríssimas queimaduras de sol, antes de retornarem às suas familias.

89 dias: O Naufragio do Essex
Em 1820 um grande cachalote pôs a pique um navio baleeiro norte-americano, o Essex, nas proximidades das Galapagos, lançando sua tripulação em três pequenas baleeiras, armadas com pequenas velas de fortuna. Com estes barcos circularam pelo Pacifico tentando chegar ao litoral da America do Sul, pois temiam que os nativos da Polinesia os devorassem (uma meia-verdade), um dos barcos desapareceu nesta luta contra ventos e correntes. Parte da tripulação sobrevivente morreu de fome e sede, e alguns poucos acabaram sendo devorados ou mesmo sacrificados para servir de alimento para seus proprios companheiros de infortunio. Uma historia mais do que tragica, e que trouxe fatos chocantes a sociedade da época e ainda a atual. Herman Melville se inspirou no ataque para escrever Moby Dick, poupando seus leitores dos fatos que se seguiram.


OBS: o canibalismo já foi bem mais comum na historia distante dos naufragos, porém durante a Segunda Grande Guerra muitos sobreviventes utilizaram partes de seus companheiros como isca para pegar tubarões ou acabaram por comê-los enquanto tentavam sobreviver em suas balsas. O mais racente caso, foi o dos “Sobreviventes dos Andes”, acontecimento que comoveu o mundo e a propria Igreja, nos anos 1980.



Na próxima postagem iremos derivar mais longe ainda, passando facil dos 100 dias de sobrevivência.

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

NÁUFRAGOS FAMOSOS - Parte I


Na historia da humanidade, não se tem ideia exata de quantas almas se perderam nos oceanos, rios e lagos do mundo. Milhares por certo, talvez milhões. Desde o primeiro homem pré-historico que se aventurou a atravessar um rio ou um braço de mar, muitas e muitas almas se perderam.

Reuni abaixo alguns naufragios que, apesar de grande sofrimento e algumas tragédias, trouxe de volta ao nosso convívio alguns de seus participantes, porém outros tantos se perderam, infelizmente. A ideia é analisar de forma mais “seca” cada evento, para que dele possamos tirar procedimentos e comportamentos que venham a nos auxiliar em alguma situação de perigo.

Vale pensar que um acidente raramente tem uma única causa. A maioria é um somatório de eventos, alguns causados pelo fator humano, outros pelo clima e alguns por falhas do material, mas muito raramente por um só motivo.

Com eles podemos aprender importantes lições e a melhor delas é que precisamos nos manter conscientes de nossas dificuldades e estar sempre preparados para o pior. Afinal, como alguém poderia sobreviver a uma situação tão extrema? Isto depende, sim depende de quão preparada para enfrentar esta situação uma pessoa pode estar.

Antes de iniciar sua leitura, lembre que uma regra básica levantada pelos estudiosos é que no mar, você sobrevive apenas três horas sem um abrigo flutuante (boia, colete, tambor, etc), três dias sem água e a no máximo três semanas sem comida. Alguém duvida?

4 dias: Brad Cavanagh and Deborah Kiley

Em um dia ensolarado no final do outono de 1982, um veleiro partiu numa rotineira viagem entre o Maine e a Florida. Eram cinco tripulantes, praticamente desconhecidos entre si. John Lippoth e sua namorada Meg Moony, Mark Adams, Brad Cavanagh e Deborah Scaling Kiley. Diferenças de carater e comportamento logo apareceram, devido ao abuso de alcool do Capitão e alguns tripulantes, além da falta de comprometimento quase que geral, com o trabalho de bordo.

No segundo dia de navegação o tempo começou a piorar e ao cair da tarde os ventos batiam nos 60 nós e as vagas alcançavam mais de cinco metros de altura. Brad e Debora enfrentaram o primeiro quarto da tempestade, permanecendo cerca de onze horas no cockpit enquanto os outros dois tripulantes e o Capitão bebiam na cabine. Quando John e Mark recobraram certa sobriedade, renderam os dois na vigilancia, e Debora e Brad finalmente puderam descer para algum descanço. No meio da noite foram acordados, enquanto vozes em panico alertavam que o barco estava afundando, foi quando perceberam que John e Mark haviam abandonado seu posto, e desceram para dormir, deixando o barco sem suporte.

Ao lançarem a balsa salva-vidas, a mesma foi carregada pelo forte vento deixando-os apenas com um bote zodiac de apoio como opção, este mesmo foi muito dificil de ser manobrado. Ao abandonar o Trashman, Meg ficou presa nas ferragens abrindo grandes e profundos ferimentos nos braços e pernas. Como o vento era muito frio e cortante, decidiram emborcar o bote, e ficaram todos por baixo dele, dentro da agua que estava ao menos 15 graus mais quente que o ar. Durante 18 horas permaneceram mergulhando para dentro e para fora do bote, para conseguir respirar, enquanto a tempestade continuava soprando com violencia.

No dia seguinte, a tempestade amainou e puderam colocar o bote em sua posição normal, subindo para o interior do mesmo. Ao fazê-lo, puderam identificar centenas de tubarões ao seu redor, percebendo que não eram chutes que haviam sentido durante o tempo dentro d’água, mas sim focinhadas de tubarões.

No terceiro dia, as lacerações de Meg tomaram conta de seu organismo, e ela ficou deitada em estado catatônico, sem reação por horas. Naquela noite Mark e John começaram a beber agua do mar, tornando-se cada vez menos coerentes e confusos mentalmente. John foi o primeiro a partir, ao dizer que podia ver terra e que iria buscar cigarros, escorregou pela lateral do bote e nadou uma pequena distancia desaparecendo na noite. Ouviu-se então um grito e depois apenas silencio. Por volta da mesma hora, o delirante Mark disse que precisava se refrescar e saltou para as aguas infestadas de tubarões. Ouve então uma forte movimentação ao redor do bote, e a agua se tornou vermelha de sangue, quando Mark desapareceu por completo.

Na quarta noite, Meg faleceu devido aos ferimentos, sendo lançada na agua. Pouco depois do amanhecer Brad e Deborah avistaram um barco vindo em sua direção, que realizou seu resgate.

OBS: Um período tão curto de deriva não poderia resultar em um fim tão tragico, o total despreparo das pessoas envolvidas e a falta de liderança do Capitão, foram os motivos que mais chamaram nossa atenção.

6 Dias: Troy e Josh

Em um dia 25 de Abril, Josh Long (17) e seu melhor amigo Troy Driascoll (15) decidiram sair para pescar em um bote. Ao se lançar, não levaram em consideração a as bandeiras de aviso de correnteza forte assinaladas na praia.

O bote foi puxado para longe, e em seu esforço para remar de volta, Troy acabou largando seu remo novinho em folha, irritado jogou suas iscas e material de pesca na agua em um desabafo.
Assim iniciaram sua dura jornada sem comida, agua e sem meios para consegui-las. Como o barco não possuia cobertura ou qualquer abrigo, tinham apenas as roupas para se proteger da forte insolação. A fim de reduzir o calor, passaram a dar alguns mergulhos, mas a aparição de um tubarão fez com que parassem.

Eles assim ficaram por seis dias inteiros, sem agua ou alimento. No sexto dia, quando já haviam escavado mensagens de adeus a seus familiares no interior do bote, avistaram um barco que os salvou. Após o resgate foram levados para um hospital, onde foram constatadas severas queimaduras e desidratação. Os medicos disseram que o estado de Troy era o pior, e que não viveria mais do que algumas horas.

OBS: adolescentes aprontando sem noção dos perigos. Sem mais comentarios.

12 dias: Amanda Thorns e Dennis White


Amanda Thorns (25), seu pai Willie (64) e o padrinho Dennis White (64), partiram de Cape Cod a bordo do veleiro Emma Goldman de 45 pés, no inicio de novembro de 2009. Mesmo já tendo velejado muitas vezes pela região, aquele seria o batismo dela em águas profundas, e planejavam singrar até a Ilha de Bermuda.

Ao meio dia, uma tempestade atingiu o barco obrigando-os a se esconder na cabine, enquanto aguardavam que o pior passasse. Na quarta noite com a tormenta ainda forte, o capitão Thorns ficou de vigília enquanto Amanda e White tentavam dormir na cabine. Enquanto enfrentavam ondas de 10 metros de altura, uma onda maior ainda envolveu o barco todo, fazendo-o capotar. O mastro, todo o estaiamento e o Capitão preso a linha de vida foram arrancados e lançados ao mar. Eles tentaram tudo para puxá-lo novamente para o barco, mas uma nova capotagem fez com que o cabo partisse e ele fosse levado pelas vagas.

Pelos tres dias seguintes tentaram se recuperar da enorme perda, e sem energia ou qualquer equipamento de comunicação passaram a utilizar os foguetes sinalizadores, na esperança de serem vistos por algum navio de passagem na área, porém sem sucesso.

Dez dias após a perda do capitão, conseguiram montar o mastro de apenas três metros do barco de apoio em um tipo de mastreação de fortuna e conseguiram velejar cerca de 50 milhas no primeiro dia, tentando chegar às rotas comerciais. No segundo dia conseguiram ser vistos por um navio petroleiro, que os salvou. No dia 21 de novembro chegaram a Bermuda, muito abalados pela perda do pai e melhor amigo, porém aliviados por estarem vivos.

OBS: novembro, pleno outono no Hemisferio Norte, costuma ser um mês extremamente instável no litoral norte-americano, e cuidados redobrados são indicados. Se propor a uma aventura nesta região e nesta época do ano foi sinal de excesso de confiança.


Daremos sequência a esta lista, esticando o prazo de mar pouco a pouco, até chegar ao nosso recordista atual e sua historia confusa.

quarta-feira, 24 de junho de 2015

Chase Boats, e os botes cresceram!

Todo barco que já pode ser considerado um pouco maior, passa a ter a necessidade de ser apoiado por um bote, geralmente inflável. Hoje, varias categorias de botes e barcos de apoio surgiram, de acordo com a necessidade das pessoas, o mercado e até o luxo desmedido.

Os botes antigamente eram utilizados de forma bastante extensiva. Levavam e traziam tripulantes e passageiros, transportavam peças, ferramentas e utensilios de bordo para terra e vice-versa, porém sempre sofreram uma restrição, que era o tamanho do “barco-mãe” onde seria estivado. Para içá-lo a bordo, utilizávamos turcos fixos e cabos com sistema de moitões, com o tempo passamos a utilizar turcos eletro-hidráulicos e até plataformas basculantes, mas o comprimento destes sempre foi obrigatoriamente menor do que a boca do barco-mãe.


Inicialmente, bem pequenos, leves e muitas vezes movidos a remos ou pequenos motores, cresceram de potência e hoje encontramos botes movidos a hidrojato e até mesmo com avançados motores de popa eletricos.

De uns tempos para cá, vimos surgir os Chase boats, mais do que simples botes, passaram a ser verdadeiros Barcos-de-Apoio, pois são grandes demais para serem estivados a bordo.
O termo em inglês “Chase” surgiu anos atras na indústria naval de apoio a produção de petroleo. Estes barcos são, ainda hoje, utilizados pelos navios de pesquisa e plataformas, para realizar serviços complementares, como “limpar” o caminho dos barcos de pesquisa geodésica como exemplo, pois este tipo de navio é obrigado a seguir uma derrota pré-estipulada e não pode desviar de barcos de pesca ou quaisquer outros obstáculos, portanto os chase seguem à frente avisando e retirando os problemas do caminho.

As plataformas os utilizam para retirar peças, lançar cordões de boias de contenção e ainda realizar a varredura ao redor das plataformas, onde pescadores costumam se posicionar aproveitando os peixes que costumam se concentrar nestas areas, porém suas linhas e anzois oferecem perigo aos mergulhadores e mesmo equipamentos móveis como os ROV’s, sendo necessária sua ação.
No iatismo internacional, os Chase boats surgiram na forma de pequenas lanchas ou não tão pequenas assim, que acompanham os barcos-mãe em suas viagens utilizando cabos de reboque ou mesmo propulsão propria. Em alguns casos, a tripulação é compartilhada e em outras tem organização propria, apesar de atenderem ambas ao mesmo proprietario.


Alguns anos atras, este tipo de barco de apoio se tornou uma verdadeira mania, e iates cruzavam do Caribe para a Florida através das Bahamas rebocando seu Chase para lá e para cá, apesar da condenação de suas companhias de seguro, visto que muitos se tratam de barcos para uso apenas em aguas abrigadas, e não para realizar travessias.

Bastante comuns são os chase destinados a operação de mergulho ou pesca oceânica, que acompanham o barco-mãe nos passeios, saindo para suas atividades como uma opção extra de diversão para os passageiros.

Particularmente, tenho experiência em rebocar um bote de 26 pés pelo litoral brasileiro, tendo realizado mais de uma viagem de Angra a Bahia e outros portos nordestinos, chegando mesmo a visitar Fernando de Noronha. Para tornar esta aventura possivel, nosso bote é equipado com dois motores centro-diesel, possui uma bateria a mais para serviço, pois utilizamos uma luz estrobo dia-e-noite ligada durante os períodos de reboque e ainda um transponder AIS banda B. Para o reboque, utilizamos um cabo de fibra sintética (Spectra™) de alta resistência além de ter realizado algumas pequenas modificações estruturais na proa do bote e na ventilação dos motores, que nos permitiram realizar estas travessias em segurança. Porém, a preocupação é permanente, e uma câmera de vigilância fica com o bote focado dia e noite, e quem esta no serviço de navegação fica com um olho na proa e outro acompanhando o barco que segue em nossa esteria. Lamentavelmente, devido ao reboque de quase três toneladas, aumentamos sensívelmente nosso consumo e perdemos quase 10% de nossa velocidade, além do que ficamos impedidos de soltar linhas de pesca durante as travessias, mas tudo isto vale a pena.

O uso deste barco de apoio nos permitiu realizar confortáveis passeios com todos os nossos passageiros de uma só vez, enquanto que nosso bote original não permitia mais do que três ou quatro pessoas mal acomodadas. Por possuir banheiro, cobertura, várias geleiras, ducha, som, espaço de convivência e grande autonômia, permite passar varias horas longe do barco mãe, aumentando (em muito) a qualidade dos passeios. Outra vantagem é a possibilidade de realizar traslados mais distantes, como levar e trazer passageiros de Angra para Paraty, sem ter de deslocar o barco-mãe, ou realizar pequenas expedições em locais onde o calado não nos permitiria chegar em segurança, como Cachoeira no alto do Rio Paraguaçu, no Oeste na Bahia de Todos os Santos.

Os Chase, aqui chamados de Barcos-de-Apoio são uma excelente ferramenta para aumentar o conforto e a qualidade dos passeios e do serviço de bordo, porém o custo de mais um barco, com vaga a mais em uma marina, equipamentos complexos e motores a serem revisados e abastecidos, um tripulante a mais ou um que ficará sobrecarregado atendendo a dois barcos, são itens que precisam da atenção de qualquer proprietario, antes de adotar esta ideia.


Lá fora, onde nem a imaginação e nem o capital aparentemente tem limites, existem barcos de apoio especializados em desembarcar veiculos em praias, como quadriciclos. Outros transportam plataformas de onde partem pequenos submarinos, outros toboaguas gigantes, cantos-gourmet flutuantes e até mesmo insólitas plataformas para jogar golf!

Não bastassem todas estas excentricidades, um novo tipo de embarcação esta sendo adotada pelos Iates muito grandes, mas não grandes o bastante para abrir mão de mais apoio, que são os chamados YSV (Yacht Support Vessels), dos quais falaremos numa próxima oportunidade.







terça-feira, 9 de junho de 2015

CICLONES TROPICAIS III

As maiores tormentas já registradas na historia da humanidade!

Abrimos aqui, a “Seção Tragedia” desta serie de textos, nomeando os campeões em varias categorias de destruição e letalidade, porém preciso registrar que é muito complicado levantar e organizar dados sobre tempestades, pois cientistas de diferentes paises têm metodologias diferentes na sua interpretação, e há uma eterna discusão sobre qual foi o mais forte, o mais intenso, o maior, mais mortal ou destruidor. Retirei os dados abaixo das melhores fontes que consegui, mas aviso que não se trata de uma unanimidade, e poderão achar outras informações que não corroboram as aqui relacionadas.

Neste ponto, preciso lembrá-los também que os temidos Furacões, apesar de nossa relativa proximidade com eles, quase não figuram entre as mais violentas tempestades ciclonicas ocorridas sobre a face da terra. Muitos dos piores (Tufões) ocorreram no Pacifico e Mar da China. Outro detalhe é que, enquanto no Caribe eles têm uma Temporada “Oficial”, em outros locais eles podem ocorrer em qualquer época do ano, tornando a vida das pessoas um pesadelo.

Tufão Nancy – 1961 – O mais potente do ano de 1961 no Pacifico e o de ventos mais fortes da historia, registrando o recorde de ventos sustentados por um minuto, de incriveis 186 nós (345 Km/h). Lembremos que as rajadas podem alcançar 50% a mais do que a velocidade sustentada do vento;

Tufão Haiyan (China) ou Yolanda (Filipinas) – 2013 – Foi considerado um dos mais letais. Alcançou 314 Km/h (170 nós), matando 11.801 pessoas nas Filipinas, Vietnan, China e outros paises da região;

Em 1966, o Tufão Kit alcançou a mesma velocidade sustentada de vento que o Nancy, mas felizmente não atingiu o litoral de pais algum;


Super-Tufão Tip – 1979 – o maior de todos, com um diametro de 2100 Km;

Ciclone Tracy – 1974 – foi o menor registrado, com um diametro de apenas 100 Km;

Furacão Katrina – 2005 – O mais caro. Atingiu 151 nós (280 Km/h) e custou a vida de 1.833 pessoas, gerando USD$113 Bilhões em prejuizos. Acredita-se, porém, que o Furacão Miami, ocorrido em 1926, tenha gerado prejuizos de $165 Bilhões, atualizados para valores de 2010;

Furacão Andrew – 1992 – um dos mais famosos no Caribe, devido à destruição que causou em locais como St. Maarten e outras ilhas procuradas por iatistas. Depois de aterrorizar as Bahamas, atingiu a Florida com ventos de 280 km/h (151 nós). Sendo um dos mais caros da historia, causando prejuizos de US$27Bi e matando 65 pessoas.

Tufão Nina – causou a maior inundação do século, destruindo 62 barragens e matando cerca de 100.000 pessoas;

O Grande Furacão de 1780 – atingiu as Antilhas e matou cerca de 22.000 pessoas, da já pequena população da época;

Furacão John – o mais longo e de maior trajetoria da historia. Permaneceu em atividade por longos 31 dias e cruzou 13.280 Km (7.171 milhas náuticas);

Ciclone Bhola – 1970 – o mais letal da historia da humanidade, matou direta ou indiretamente entre 500.000 e um milhão de pessoas no estuario do Ganges e Bangladesh. A maré anormal (surge) invadiu imensas areas costeiras, ceifando vidas e trazendo uma destruição sem precedentes. Devido à precariedade da estrutura formal destas regiões, não houve como contabilizar corretamente as vítimas, pois inumeros corpos foram arrastados pelas enchurradas e nunca mais retornaram ao litoral, cujo contorno foi modificado para sempre;



Catarina – 2004 – Nosso primeiro furacão, matou cerca de 10 pessoas e feriu outras 75. Destruiu 1.500 casas e avariou mais de 40.000, causando prejuizos de US$400 Milhões. Com ventos sustentados de 180 Km/h, cerca de 97 nós, algo nada desprezivel para um Oceano virgem de Furacões até aquela data!


Duração das Estações e Medias Anuais de Ocorrência:

Região
Inicio
Término
Temp. Tropicais
Furacões
Atlantico Norte
01/Juho
30/Novembro
12,1
6,4
Pacifico Leste
15/Maio
30/Novembro
16,6
8,9
Pacifico Oeste
01/Janeiro
31/Dezembro
27,0
17,0
Indico Norte
01/Janeiro
31/Dezembro
4,8
1,5
Indico Sudoeste
01/Julho
30/Junho
9,3
5,0
Região Australiana
01/Novembro
30/Abril
11,0
0
Pacifico Sul
01/Novembro
30/Abril
7,4
4,0
Global
01/Janeiro
31/Dezembro
86,0
46,9
Nota: Nosso litoral ainda não faz parte destas estatisticas, porque tivemos apenas um Furacão “oficial” em nossa historia, o Catarina em 2004. Porém outras tempestades de tendência ciclônica têm se formado, geralmente entre Janeiro e Março, sendo este último nosso mês mais propício.

Escala Saffir/Simpson de Classificação de Ciclones:

Leva em consideração não só a intensidade do vento, mas também a pressão no olho da tormenta:

Categorias
Pressão
Ventos sustentados
Aumento da Maré (Surge)
Categoria I
> 980 mb.
Ventos sustentados de 64 a 82 nós
4 a 5 pés (1,20 a 1,50 m)
Categoria II
980 ~ 965 mb.
Ventos sustentados de 83 a 95 nós
6 a 8 pés (1,80 a 2,40 m)
Categoria III
965 ~ 945 mb.
Ventos sustentados de 96 a 113 nós
9 a 12 pés (2,70 a 3,60 m)
Categoria IV
945 ~ 920 mb.
Ventos sustentados de 114 a 135 nós
13 a 18 pés (3,90 a 5,40 m)
Categoria V
<920 mb.
Ventos sustentados acima dos 136 nós
6 a 8 pés (1,80 a 2,40 m)

OBS: Ventos sustentados máximos são calculados pela media dos ventos em um determinado intervalo de tempo, porém rajadas de até 50% a mais de velocidade, podem ocorrer. Ou seja, num regime de ventos sustentados de 100 nós, rajadas de até 150 nós podem ser registradas.

 

Hurricane Watch: o National Hurricane Center emite um Boletim, informando se existe a possibilidade de desenvolvimento de um Furacão em determinada região num prazo de até 36 horas. Isto basta para que voce comece com os preparativos de proteção de sua “casa” e mantenha atenção no radio ou Navtex ou Inmarsat-C, que são receptores automáticos de avistos de mau tempo.

Hurricane Warning (Aviso de Furacão): o NHC emite um alerta de que ventos ciclonicos com ventos sustentados de, no mínimo, 63 nós (74 mph) estão previstos para uma determinada area que pode ou não lhe atingir diretamente. Voce precisa partir, se houver tempo, rumo a um Abrigo Seguro. Vigilância permanente e plotagem da posição em sua carta são necessárias.

Abaixo, reproduzo uma lista dos resultados e efeitos tidos como esperados numa região de litoral atingida pelas varias categorias de furacão, notadamente em terra ou proximidades. É necessaria certa analogia para imaginar seus possiveis efeitos à bordo:

Categoria
Pressão
Ventos
Aumento da Maré (Surge)
Categoria I
> 980 mb.
Ventos sustentados de 64 a 82 nós
4 a 5 pés (1,20 a 1,50 m)
Efeitos: não costumam ocorrer avarias nas edificações, apenas pequenas arvores sofrem com desfolhamento. Alguns piers mais precarios podem avariar com a maré anormal, assim como canais costeiros em terras baixas.

Categoria
Pressão
Ventos
Aumento da Maré (Surge)
Categoria II
980 ~ 965 mb.
Ventos sustentados de 83 a 95 nós
6 a 8 pés (1,80 a 2,40 m)
Efeitos: os telhados começam a sofrer avarias, assim como portas e janelas. A vegetação é atingida consideravelmente, assim como trailers e motor-homes. A maré anormal (surge) pode destruir pequenas estruturas como piers, causando avarias a barcos mal amarrados.

Categoria
Pressão
Ventos
Aumento da Maré (Surge)
Categoria III
965 ~ 945 mb.
Ventos sustentados de 96 a 113 nós
9 a 12 pés (2,70 a 3,60 m)
Efeitos: começam a ocorrer avarias em edificações e trailers podem ser destruidos. Grandes inundações podem ocorrer em areas próximas da costa e estruturas náuticas poderão ser destruidas por objetos flutuantes, arrastados pelo vento e correnteza. Barcos podem se soltar de suas amarras, avariando os outros à sua volta.

Categoria
Pressão
Ventos
Aumento da Maré (Surge)
Categoria IV
945 ~ 920 mb.
Ventos sustentados de 114 a 135 nós
13 a 18 pés (3,90 a 5,40 m)
Efeitos: casas e pequenas edificações podem ser totalmente destelhadas ou mesmo destruidas. Enchentes atingem enormes areas e deslizamentos de terra podem representar grandes perigos em estradas e região costeira. Veleiros perdem seus mastros, quaisquer objetos no convés são levados pelo vento, barcos de pequeno e medio porte são lançados como brinquedos.

Categoria
Pressão
Vento
Aumento da Maré (Surge)
Categoria V
<920 mb.
Ventos sustentados acima dos 136 nós
6 a 8 pés (1,80 a 2,40 m)
Efeitos: grandes avarias e destelhamento de edificações comerciais e mesmo industriais. Pequenas residencias e lojas de rua são destruidas. A cheia atinge as casas ao longo da costa e é necessário evacuar a população com urgência. Barcos são empilhados em obstaculos em terra, e não há chance de algo que flutue ser mantido a salvo. Reze.

Palavras antes da Tempestade:

Este texto foi preparado por um navegador, evitando dados tecnicos e ciêntificos mais aprofundados, e dando um enfoque mais prático, utilizando termos e comparações que físicos, meteorologistas e outros ciêntistas poderão não concordar. A intensão é dar uma visão ampla do fenômeno e os perigos que o envolvem.

De toda forma, as informações condensadas neste texto não devem ser consideradas como única fonte ou o bastante a quem pretende singrar as aguas do Caribe ou mesmo Pacifico. Aconselhamos que procure a literatura utilizada como bibliografia, assim como outras fontes, para melhores e mais aprofundados conhecimentos. A segurança de seu barco e tripulação pode depender de seu preparo e conhecimento.

Bons Ventos!

Bibliografia:
The Concise Guide to Caribbean Weather – David Jones
The Virgin Islands – Stephen J. Pavlidis
Cruising Guide to the Leeward Islands – Chris Doyle
Cruising Guide to the Windward Islands – Chris Doyle
World Cruising Routes – Jimmy Cornell
The Gentleman’s Guide to Passages South – Bruce Van Sant