terça-feira, 11 de abril de 2017

MANUTENÇÃO PREVENTIVA:

O SEGREDO PARA SEU BARCO VALER MAIS

Quem acha que existe algum baú de David Jones para ser aberto, de onde sairão segredos e encantos para fazer seu barco valer mais, está enganado. A única pratica a ser religiosamente cumprida é a Manutenção Preventiva, um investimento de longo-prazo, contínuo em tempo e capital.

Dito assim, a manutenção parece ser uma atividade meio enfadonha. Pode ser que seja mesmo, porque é rotineira e assim como obra de infraestrutura pública, não aparece para o eleitorado. A única maneira de saber se ela funciona, é deixar de faze-la e controlar o aumento dos reparos corretivos, as trocas de equipamentos condenados e os finais de semana perdidos por quebras e problemas, consequentemente o barco entrará em declínio, assim como seu futuro valor de revenda.

Se existe uma máxima em relação a manutenção de um barco é que BARCO PARADO É BARCO QUEBRADO. A falta de uso regular, traz mais problemas do que o uso regular.

Como exemplo, tomemos o inverno da Região Sudeste, época do ano em que a temperatura média diminui e as frentes frias conseguem chegar com maior regularidade e efeito, as pessoas tendem a utilizar menos os seus barcos, e algumas simplesmente esquecem de sua existência, largando seus companheiros de verão numa gaveta de marina por meses a fio, lembrando deles apenas após as primeiras lufadas de vento quente da Primavera.

Nesta hora, o motor já está engripado, a linha de combustível esta entupida de uma gelatina formada pela gasolina velha, e seu passeio já azedou. Saibam que qualquer combustível dura apenas algumas semanas de forma saudável em seu tanque, depois nem para Coquetel Molotov! Lembremos que no Brasil, a gente mistura álcool hidratado com tudo: gasolina, diesel e até com limão e açúcar.
O álcool é higroscópico, ou seja, absorve agua que com o calor e o frio alternados, condensa nos tanques, depois se acumula no fundo dos mesmos, seguindo então para os filtros, bombas e bicos injetores. Não tem defesa para isto, a não ser utilizar o combustível da melhor procedência possível e, como já mencionado, utilizar o barco.

Além dos problemas com o combustível, as baterias já estão a meio caminho para a reciclagem (sem carga regular, elas morrem), seus estofados estão mofados, os eletrônicos com mau contato e o tanque da água pode servir até para criar girinos, juntando tudo... vai ter um baita de um prejuízo.
A bem da verdade, o nosso Inverno não é lá estas coisas. Durante os nada raros dias de sol, a temperatura pode ficar muito agradável. Sabemos de enseadas abrigadas que permitem um mergulho quase o ano todo. Outra vantagem é que com menos barco circulando, diminui a turma da marola para perturbar sua paz e é muito mais fácil arrumar um bom local para ancorar.

A cerveja não irá ferver na lata e a fuligem do churrasco não vai grudar em seu corpo suado.
Portanto, use seu barco sempre que as condições permitirem, mantendo a atividade. Os equipamentos lhe darão menos problemas, e ainda irá considerar quebras, como dentro de uma relação custo/benefício favorável a seu lazer e prazer.

Pergunto agora, qual a diferença entre barco velho e barco antigo? Simples, tudo depende do estado de conservação. Conheço barcos com mais de cinquenta anos de uso que continuam circulando em grande forma, enquanto outros com apenas uns poucos anos já estão decadentes e na boca do mercado.
Comprar um barco com motores e casco de boa qualidade já é um bom começo, mas não é tudo. Tenha atenção ao receber os manuais de uso e manutenção dos motores e outros equipamentos, que precisam vir com o barco. Tê-los e lê-los, colocando em prática suas rotinas é um bom caminho. Para isto, ao analisar vários manuais, monte uma Planilha e controle pelas horas de uso dos motores e geradores, ou mesmo crie uma programação de verificações semanais, mensais e anuais. Force seu marinheiro a segui-la, caso tenha um barco tripulado.

Tenha oficinas de confiança para lhe prestar serviços. Na beira do cais, sabemos que isto não é muito fácil de se encontrar, pois a recente crise causou uma pulverização do mercado e a falta de bons clientes fez com que surgissem oficinas de fundo de quintal, algumas tocadas por aventureiros e picaretas. Procure saber com os profissionais da área de apoio, como gerentes de marinas, donos de lojas de material náutico e outros, quem atende de forma responsável e que poderia lhe atender sem as dores de cabeça tão comuns em nossa área, ou melhor, em nosso pais.

Se sua embarcação roda sempre, ou se você mora em um barco de cruzeiro, sem paradeiro, seja no Brasil ou mesmo no Exterior, você sempre poderá recorrer a sua oficina “matriz”, para conseguir uma indicação de alguém de confiança para lhe atender. Autorizadas e bons profissionais estão sempre em contato com os outros representantes em diferentes portos.

Se comentamos que Barco Parado é Barco Quebrado, também é fato que um barco que é utilizado sempre, precisa de um período de parada para manutenção, quando equipamentos podem ser desmontados e revisados da forma apropriada. Considero a romântica Primavera, como a melhor época de fazê-lo na região Sudeste do pais, pois o tempo costuma estar bem pior do que durante o inverno, com chuvas e ventanias a todo momento.

Manter a pintura de fundo e os anodos em dia, para barcos mantidos na água são atividades obrigatórias, pois um descuido nesta parte pode permitir que a osmose se instale no casco, e a falta de proteção elétrica vai consumir hélices e descargas, além de causar problemas a bordo. Quando você roda com o casco sujo, força os motores, aumenta o consumo e produz fumaça, diminuindo seu prazer de navegar.
O costado e a cabine têm de ser tratados com carinho, no primeiro nada de abrasivos, não permita que a buchinha verde-e-amarela da 3M entre em seu barco, assim como Sal Azedo, Jato Royal, Solupan ou qualquer outro ácido deste nível. Na cabine, tolda, capa e muita proteção. Até mesmo a cera com polimento mecânico, precisa ser utilizada com muito cuidado, pois é abrasiva e com o tempo exige pintura.
E a tal da Teka? Mais um produto cultural importado. Ela esquenta, queimando nossos pés, pede um banho diário de água salgada e ouros cuidados que dificilmente temos tempo de realizar. Quando vinho, fuligem, combustível ou outra substância entra em seus veios e poros, o trabalho de limpeza se multiplica. Imagine então, um barco de adeptos da pesca... aquele sangue misturado com escamas e outros fluídos. O caos!
Voltemos aos estofados, pois eles precisam ser conservados em local seco e à sombra, trocas a cada ano significam falta de cuidado. Toldas e capotas, se possível, devem ser conservadas sexcas, enroladas e encapadas, o que aumenta bastante seu tempo de vida. Carpete no teto, foi moda e costume nos anos 1980, agora nem no piso, pois junta umidade, sujeira e é quase impossível de limpar, mesmo os 100% sintéticos.

Já os eletrônicos precisar ser acionados periodicamente, mas seu uso estático, sem de fato serem operados em condições reais, costumam resultar em mau funcionamento, e os rádios serão os primeiros a dar problemas, assim como televisores e aparelhos de som. Apesar de bastante caros, uma atualização com trocas de tempos em tempos é quase inevitável, pois este tipo de equipamento tende a obsolescência, mas nada que se compare aos nossos celulares, que viram sucata na velocidade da luz!
Na parte elétrica, tenha atenção especial com as baterias, elas devem ser mantidas presas em seus suportes, carregadas e seus contatos bem ajustados e limpos, assim como é necessário um reaperto regular de todos os parafusos dos quadros de distribuição, assim como os contatos do aterramento. Lembre que barcos vibram, e isto costuma afrouxar tudo a bordo.

Se você tiver ar condicionado refrigerado a água do mar, limpe a rede de circulação dos compressores, pois tendem a entupir com cracas e outros animais de corpo calcáreo. Para este tipo de limpeza, se faz uso controlado de acido, que retira as incrustações. Porém, realize esta limpeza em circuito fechado e neutralize o produto com bicarbonato ou o que for indicado para o produto em questão, a fim de neutralizá-lo, antes do descarte.

Há uma diferença entre o barco que roda muito e o barco “rodado”, todo mundo na beira do cais sabe que barco roda com frequência e que não costuma dar problemas. Assim como sabem que barco roda com “gambiarras” e de qualquer maneira, com os manetes arriados ao máximo e que já estourou as turbinas algumas vezes. A troca frequente de tripulantes é outro sinal de que alguma coisa não vai bem a bordo, pois o Marinheiro ou Capitão costuma zelar pelas boas condições do barco, e sua troca faz sempre surgir alguma suspeita.

Portanto, se existe algum segredo, é manter o barco regularmente em atividade, e isto vale também para barcos tripulados. A falta de programação de trabalho, causa muitas vezes desinteresse e falta de empenho da tripulação. Uma loja sem compradores, um restaurante sem clientes e um barco sem passageiros são o retrato da tristeza.

Se você é seu próprio tripulante, tenha um conjunto básico de ferramentas para manutenção. Ele deve incluir alguns alicates como o universal, bico e de corte. Chave inglesa, chaves de fenda e Philips variadas, algumas chaves de boca como a 11 e 13, martelo de borracha, fitas adesivas, fita isolante, teflon, abraçadeiras de inox e plástico, spray desengripante tipo WD, silicone e vaselina, além de graxa náutica e um farto “cemitério”. Um pote com inúmeras porcas, arruelas, parafusos, molas, pinos e tudo o mais que conseguir colecionar. Tome especial atenção para que nada de ferroso entre em seu barco, a ferrugem é seu maior inimigo.

Finalmente, sobre o barco valer mais, fica o pensamento: O que é valer mais?
O que vale mais do que um lindo dia passado a bordo com a família? O que vale mais do que explorar uma nova enseada? O que vale encontrar os amigos e amarrar um barco no outro, lado a lado, como se apenas uma âncora bastasse para segurar uma frota de lanchas?

Certa vez, ao retornar de uma grande viagem, ouvi meu patrão dizer:
- “Considero o barco pago”
Ou seja, a partir daquele momento ele considerava que o investimento e toda a despesa realizada em melhorias e manutenção estavam quitados, que o barco havia sido pago com o prazer de bem navegar, descobrir lugares, conviver com pessoas amigas, comer bem e beber do melhor, absorvendo as boas experiências que a vida pode nos dar!

Espero que todos tenham esta mesma oportunidade, e que seus barcos lhes deem muito prazer e que realizem todos os seus sonhos, pois o valor – neste caso - é subjetivo.