O
SEGREDO PARA SEU BARCO VALER MAIS
Quem acha que existe
algum baú de David Jones para ser
aberto, de onde sairão segredos e encantos para fazer seu barco valer mais,
está enganado. A única pratica a ser religiosamente cumprida é a Manutenção
Preventiva, um investimento de longo-prazo, contínuo em tempo e capital.
Dito assim, a
manutenção parece ser uma atividade meio enfadonha. Pode ser que seja mesmo, porque
é rotineira e assim como obra de infraestrutura pública, não aparece para o
eleitorado. A única maneira de saber se ela funciona, é deixar de faze-la e
controlar o aumento dos reparos corretivos, as trocas de equipamentos
condenados e os finais de semana perdidos por quebras e problemas,
consequentemente o barco entrará em declínio, assim como seu futuro valor de
revenda.
Se existe uma máxima
em relação a manutenção de um barco é que BARCO PARADO É BARCO QUEBRADO. A
falta de uso regular, traz mais problemas do que o uso regular.
Como exemplo, tomemos
o inverno da Região Sudeste, época do ano em que a temperatura média diminui e
as frentes frias conseguem chegar com maior regularidade e efeito, as pessoas
tendem a utilizar menos os seus barcos, e algumas simplesmente esquecem de sua
existência, largando seus companheiros de verão numa gaveta de marina por meses
a fio, lembrando deles apenas após as primeiras lufadas de vento quente da
Primavera.
Nesta hora, o motor
já está engripado, a linha de combustível esta entupida de uma gelatina formada
pela gasolina velha, e seu passeio já azedou. Saibam que qualquer combustível
dura apenas algumas semanas de forma saudável em seu tanque, depois nem para
Coquetel Molotov! Lembremos que no Brasil, a gente mistura álcool hidratado com
tudo: gasolina, diesel e até com limão e açúcar.
O álcool é
higroscópico, ou seja, absorve agua que com o calor e o frio alternados, condensa
nos tanques, depois se acumula no fundo dos mesmos, seguindo então para os
filtros, bombas e bicos injetores. Não tem defesa para isto, a não ser utilizar
o combustível da melhor procedência possível e, como já mencionado, utilizar o
barco.
Além dos problemas
com o combustível, as baterias já estão a meio caminho para a reciclagem (sem
carga regular, elas morrem), seus estofados estão mofados, os eletrônicos com
mau contato e o tanque da água pode servir até para criar girinos, juntando
tudo... vai ter um baita de um prejuízo.
A bem da verdade, o nosso
Inverno não é lá estas coisas. Durante os nada raros dias de sol, a temperatura
pode ficar muito agradável. Sabemos de enseadas abrigadas que permitem um
mergulho quase o ano todo. Outra vantagem é que com menos barco circulando,
diminui a turma da marola para perturbar sua paz e é muito mais fácil arrumar
um bom local para ancorar.
A cerveja não irá
ferver na lata e a fuligem do churrasco não vai grudar em seu corpo suado.
Portanto, use seu
barco sempre que as condições permitirem, mantendo a atividade. Os equipamentos
lhe darão menos problemas, e ainda irá considerar quebras, como dentro de uma
relação custo/benefício favorável a seu lazer e prazer.
Pergunto agora, qual
a diferença entre barco velho e barco antigo? Simples, tudo depende do estado
de conservação. Conheço barcos com mais de cinquenta anos de uso que continuam
circulando em grande forma, enquanto outros com apenas uns poucos anos já estão
decadentes e na boca do mercado.
Comprar um barco com
motores e casco de boa qualidade já é um bom começo, mas não é tudo. Tenha
atenção ao receber os manuais de uso e manutenção dos motores e outros
equipamentos, que precisam vir com o barco. Tê-los e lê-los, colocando em
prática suas rotinas é um bom caminho. Para isto, ao analisar vários manuais,
monte uma Planilha e controle pelas horas de uso dos motores e geradores, ou
mesmo crie uma programação de verificações semanais, mensais e anuais. Force
seu marinheiro a segui-la, caso tenha um barco tripulado.
Tenha oficinas de
confiança para lhe prestar serviços. Na beira do cais, sabemos que isto não é
muito fácil de se encontrar, pois a recente crise causou uma pulverização do
mercado e a falta de bons clientes fez com que surgissem oficinas de fundo de
quintal, algumas tocadas por aventureiros e picaretas. Procure saber com os
profissionais da área de apoio, como gerentes de marinas, donos de lojas de material
náutico e outros, quem atende de forma responsável e que poderia lhe atender
sem as dores de cabeça tão comuns em nossa área, ou melhor, em nosso pais.
Se sua embarcação
roda sempre, ou se você mora em um barco de cruzeiro, sem paradeiro, seja no Brasil
ou mesmo no Exterior, você sempre poderá recorrer a sua oficina “matriz”, para
conseguir uma indicação de alguém de confiança para lhe atender. Autorizadas e
bons profissionais estão sempre em contato com os outros representantes em
diferentes portos.
Se comentamos que
Barco Parado é Barco Quebrado, também é fato que um barco que é utilizado
sempre, precisa de um período de parada para manutenção, quando equipamentos
podem ser desmontados e revisados da forma apropriada. Considero a romântica
Primavera, como a melhor época de fazê-lo na região Sudeste do pais, pois o
tempo costuma estar bem pior do que durante o inverno, com chuvas e ventanias a
todo momento.
Manter a pintura de
fundo e os anodos em dia, para barcos mantidos na água são atividades obrigatórias,
pois um descuido nesta parte pode permitir que a osmose se instale no casco, e
a falta de proteção elétrica vai consumir hélices e descargas, além de causar
problemas a bordo. Quando você roda com o casco sujo, força os motores, aumenta
o consumo e produz fumaça, diminuindo seu prazer de navegar.
O costado e a cabine
têm de ser tratados com carinho, no primeiro nada de abrasivos, não permita que
a buchinha verde-e-amarela da 3M entre em seu barco, assim como Sal Azedo, Jato
Royal, Solupan ou qualquer outro ácido deste nível. Na cabine, tolda, capa e
muita proteção. Até mesmo a cera com polimento mecânico, precisa ser utilizada
com muito cuidado, pois é abrasiva e com o tempo exige pintura.
E a tal da Teka? Mais
um produto cultural importado. Ela esquenta, queimando nossos pés, pede um
banho diário de água salgada e ouros cuidados que dificilmente temos tempo de
realizar. Quando vinho, fuligem, combustível ou outra substância entra em seus
veios e poros, o trabalho de limpeza se multiplica. Imagine então, um barco de
adeptos da pesca... aquele sangue misturado com escamas e outros fluídos. O
caos!
Voltemos aos
estofados, pois eles precisam ser conservados em local
seco e à sombra, trocas a cada ano significam falta de cuidado. Toldas e
capotas, se possível, devem ser conservadas sexcas, enroladas e encapadas, o
que aumenta bastante seu tempo de vida. Carpete no teto, foi moda e costume nos
anos 1980, agora nem no piso, pois junta umidade, sujeira e é quase impossível
de limpar, mesmo os 100% sintéticos.
Já os eletrônicos
precisar ser acionados periodicamente, mas seu uso estático, sem de fato serem
operados em condições reais, costumam resultar em mau funcionamento, e os
rádios serão os primeiros a dar problemas, assim como televisores e aparelhos
de som. Apesar de bastante caros, uma atualização com trocas de tempos em
tempos é quase inevitável, pois este tipo de equipamento tende a obsolescência,
mas nada que se compare aos nossos celulares, que viram sucata na velocidade da
luz!
Na parte elétrica, tenha
atenção especial com as baterias, elas devem ser mantidas presas em seus
suportes, carregadas e seus contatos bem ajustados e limpos, assim como é
necessário um reaperto regular de todos os parafusos dos quadros de
distribuição, assim como os contatos do aterramento. Lembre que barcos vibram,
e isto costuma afrouxar tudo a bordo.
Se você tiver ar
condicionado refrigerado a água do mar, limpe a rede de circulação dos
compressores, pois tendem a entupir com cracas e outros animais de corpo
calcáreo. Para este tipo de limpeza, se faz uso controlado de acido, que retira
as incrustações. Porém, realize esta limpeza em circuito fechado e neutralize o
produto com bicarbonato ou o que for indicado para o produto em questão, a fim
de neutralizá-lo, antes do descarte.
Há uma diferença
entre o barco que roda muito e o barco “rodado”, todo mundo na beira do cais
sabe que barco roda com frequência e que não costuma dar problemas. Assim como
sabem que barco roda com “gambiarras” e de qualquer maneira, com os manetes arriados
ao máximo e que já estourou as turbinas algumas vezes. A troca frequente de
tripulantes é outro sinal de que alguma coisa não vai bem a bordo, pois o
Marinheiro ou Capitão costuma zelar pelas boas condições do barco, e sua troca
faz sempre surgir alguma suspeita.
Portanto, se existe
algum segredo, é manter o barco regularmente em atividade, e isto vale também para
barcos tripulados. A falta de programação de trabalho, causa muitas vezes
desinteresse e falta de empenho da tripulação. Uma loja sem compradores, um
restaurante sem clientes e um barco sem passageiros são o retrato da tristeza.
Se você é seu próprio
tripulante, tenha um conjunto básico de ferramentas para manutenção. Ele deve
incluir alguns alicates como o universal, bico e de corte. Chave inglesa,
chaves de fenda e Philips variadas, algumas chaves de boca como a 11 e 13,
martelo de borracha, fitas adesivas, fita isolante, teflon, abraçadeiras de
inox e plástico, spray desengripante tipo WD, silicone e vaselina, além de
graxa náutica e um farto “cemitério”. Um pote com inúmeras porcas, arruelas,
parafusos, molas, pinos e tudo o mais que conseguir colecionar. Tome especial
atenção para que nada de ferroso entre em seu barco, a ferrugem é seu maior
inimigo.
Finalmente, sobre o
barco valer mais, fica o pensamento: O que é valer mais?
O que vale mais do
que um lindo dia passado a bordo com a família? O que vale mais do que explorar
uma nova enseada? O que vale encontrar os amigos e amarrar um barco no outro,
lado a lado, como se apenas uma âncora bastasse para segurar uma frota de
lanchas?
Certa vez, ao
retornar de uma grande viagem, ouvi meu patrão dizer:
- “Considero o barco
pago”
Ou seja, a partir
daquele momento ele considerava que o investimento e toda a despesa realizada em
melhorias e manutenção estavam quitados, que o barco havia sido pago com o
prazer de bem navegar, descobrir lugares, conviver com pessoas amigas, comer bem
e beber do melhor, absorvendo as boas experiências que a vida pode nos dar!
Espero que todos
tenham esta mesma oportunidade, e que seus barcos lhes deem muito prazer e que
realizem todos os seus sonhos, pois o valor – neste caso - é subjetivo.