quinta-feira, 16 de maio de 2013

Navegando do Rio de Janeiro a Salvador


Sábado, 26 de Janeiro de 2013.

Nesta curta estadia, tivemos de desmontar parte da cozinha a fim de sanar problemas no dreno de uma unidade de ar condicionado, e também nos trilhos de algumas gavetas, coisas que costumam acontecer sempre às vésperas de qualquer viagem... coisas do tal de Murph! Além disso, alguns reparos e configurações nos eletrônicos, estavam pendentes fazia algum tempo, e foram realizados pela Waypoint.

A cobertura de nuvens foi aumentando durante todo o dia e o barômetro indicou uma tendência de baixa. De madrugada, por volta das 03h00, entrou uma pré-frontal no Rio de Janeiro com muitos raios, muito vento e chuva pesada! O barômetro despencou de 1018 para 1010 milibares.

Pela manhã, caia uma chuva fina na Baia da Guanabara, e assim ficou durante o dia. As 16h00, com um vento de Noroeste fraco e céu ainda ameaçador largamos os cabos, seguindo viagem para Salvador, agora com tripulação completa. Adriano, nosso cozinheiro; Adenilson no convés; Veronesi nas máquinas, eu e Elton, nosso “quinto-elemento”, um reforço necessário para este tipo de cruzeiro, pois auxilia em todos os serviços de bordo.

As 16h50 montamos a Ilha do Pai, com vento Sudoeste de 12 nós e mar começando a tomar direção, mas ainda com pequenas vagas.

Após o anoitecer, o vento rondou para Sueste e aumentou de intensidade, chegando próximo dos 30 nós reais, fazendo nossa velocidade cair abaixo dos 8.0 nós.

Diferente da narrativa de uma viagem em barco à vela, onde o mar e o vento influência de forma contundente as manobras e os rumos, em um barco a motor nossa preocupação maior é com a singradura, ou seja o número de milhas que conseguimos vencer a cada dia, e a importante tarefa de vigilância externa, desviando de navios e outros alvos que constantemente surgem pelo nosso caminho.

No Iate/Motor Gattina, mantemos nosso Radar Banda S (mais confiável quando nos afastamos da costa) em funcionamento durante quase toda a viagem. Além dele, o plotador de cartas eletrônicas e outros equipamentos, como rádios VHF e SSB, além do AIS, um transponder que permite identificar as embarcações comerciais à nossa volta, e que também identifica nosso barco para todas as outras embarcações, o que trás muito mais segurança em nossa navegação. Fora os equipamentos, mantemos quartos de vigilância permanentes, onde os tripulantes se revezam dia e noite.
 

Domingo, 27 de Janeiro de 2013.

Eram 23h45 quando montamos o Cabo Frio e colocamos nossa proa rumo a um ponto ao largo do cabo de São Tomé, num rumo praticamente Nordeste. O vento continuou de Sudeste, e seguimos viagem, pouco abaixo dos dez nós e com muitos balanços, devido ao mar de través (de lado).

Pouco depois das 05h00 um rebocador de nome Norsul Crateús acabou passando muito próximo, a 0.4 de milha, entre nós e outro rebocador que descia a costa.

Após clarear, pudemos ver que o mar havia crescido e que tínhamos algo entre os mares de estado III e IV, quando os carneirinhos se tornam bastante freqüentes. Seguimos por toda a manhã com baixa visibilidade, na casa dos cinco a dez quilômetros e muito tráfego de apoio marítimo, com rebocadores indo e vindo entre as plataformas da Bacia de Campos e a base na cidade de Macaé. As 10h35 mudamos nosso rumo para os Abrolhos, deixando para trás um dos trechos mais complicados de nosso litoral.

As 19h00 cruzamos com o navio Blue Angel conseguindo conversar via radio, com meu grande amigo, o Comandante Pedro Podboy, que cruzou conosco em sua navegação rumo a uma plataforma mais ao Sul de nossa posição. Começou a chover fino, e o horizonte para os lados de terra, continuava muito carregado, como o foi durante todo o dia.

Por volta das 20h00 houve um problema de aquecimento no gerador de Boreste, e ficamos sem energia por alguns minutos, sendo logo restabelecida. Continuamos durante a noite, mantendo velocidades entre os 9 e os 10 nós e já no litoral Norte do Espírito Santo, deixando Vitória pela esteira.
 

Segunda-feira, 28 de Janeiro de 2013.

Durante parte da noite, desviamos de plataformas e rebocadores, mantendo nosso rumo para os Abrolhos.

O mar continuava um pouco encrespado, e o vento do quadrante Sul, permitia uma viagem um pouco mais confortável. Passamos pelos Abrolhos, as 14h00 e rumamos para um ponto mais ao Norte, ao largo de Belmonte.

A Bahia nos brindou com céu claro, e tivemos o primeiro por do sol descente, desde a saída do Rio. Uma brisa de Leste se manteve fraca, não impedindo o nosso bom andamento.
 

Terça-feira, 29 de Janeiro de 2013.

Amanheceu e encontramos mar liso e brisa suave de terra, nossa marcha se mantinha na casa dos 9 nós. Pirajás, as conhecidas nuvens de chuva de verão da Bahia nos cercavam por todos os lados, mas nenhuma ameaça que não fosse um pouco de chuva rápida.

A navegação correu tranqüila o dia todo, já com Salvador em nosso rumo direto. As 20h00 atrasamos os relógios em uma hora, acertando com o fuso da Bahia, que não adota o horário de verão.

Poucos minutos após as 23h00, largamos nossa âncora e trinta metros de corrente de amarra, em frente a entrada do molhe de proteção da Bahia Marina em Salvador, sob céu estrelado e os acordes dos trios elétricos que acertavam o som na Cidade Alta, alguns dias antes do Carnaval.

Nosso log registrava 810 milhas, desde Angra dos Reis.


Quarta-feira, 30 de janeiro de 2013.

Nas primeiras duas horas do dia, repusemos o diesel consumido na viagem de ida a Salvador, e após um golpe de sorte, conseguimos uma vaga na cabeceira C da Bahia Marina, atracando o Gattina, as 08h25 de uma manhã radiante.

Encontrar um cais com água doce é muito importante após qualquer travessia, pois o sal tem o poder de penetrar em toda e qualquer fresta de uma embarcação. Como, muito em breve iríamos receber convidados, era necessária uma faxina total do barco, interna e externa, além de abastecer as geladeiras com os víveres necessários às próximas semanas, quando serviríamos dezenas de refeições.

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário