terça-feira, 20 de novembro de 2012

Saco do Céu Nublado


A primeira vez que entrei no Saco do Céu, fiquei totalmente embasbacado! Foi no inicio dos anos 1980 e era o retrato mais próximo do paraiso em que alguém ainda vivo poderia admirar.

A mata virgem, fechada, sem quase sinal da raça humana ao seu redor, apenas um ou dois telhados de casas de pescadores. As aguas transparentes permitiam visualizar estrelas do mar a mais de sete metros de profundidade, e durante a noite – e principal motivo de assim ser batizado – podiamos ver o reflexo das estrelas na superficie vitrificada de suas aguas, bons tempos aqueles.

Para quem conhece bem aquele recanto, sabe que apesar do excelente abrigo, durante a primavera e o verão podemos ser surpreendidos por tormentas violentas, precedidas de inúmeras descargas elétricas, que culminam com chuvas torrenciais e rajadas muito fortes de vento, e eu mesmo já registrei perto de cinquenta nós de vento e chuva quase horizontal, numa noite tenebrosa perdida no tempo, mas ainda viva na memória. Amanhecemos com quatro veleiros enganchados em nossa amarra, cujos comandantes (sobreviventes de mais um encontro de pilotos da Varig) não conseguiam assimilar direito os fatos, naquela manhã de aparente forte ressaca.

Porém, os anos se passaram, os “castores” roeram varias árvores, pessoas depredaram algumas praias, surgiram inúmeros telhados de caçadores de riquezas e o Saco do Céu acabou Nublado, quase decadente, mas sem perder seu charme e seu poder de hipnotizar as pessoas que o visitam.

Alguns anos atras, escrevi para a Coluna Farol da Revista Nautica, um desabafo contra aqueles que não têm um mínimo de consciencia em relação à natureza que precisa ser preservada, sem querer cair em lugares comuns, alertava sobre o fato que aquele recanto em particular não é protegido pela natureza, no sentido de que sua orla interna não é formada por um enrocamento natural, como a maior parte daquela região, ou seja, voces não encontram pedras no perímetro interno e sim um barranco de fragil cobertura vegetal. O que acontece quando uma lancha entra ali em alta velocidade, é a formação de uma marola que vai atingir a orla, destruindo a borda do Saco, fazendo com que o barranco desmorone e o sedimento seja lançado no mar. Depois, este sedimento se acumula no fundo da pequena enseada, turvando suas águas e criando um fundo de lama mole, de péssima tensa. Este fundo não é bom para as nossas âncoras, às vezes nos obrigando a rocegar o fundo, em busca de uma pega melhor e isto faz com que os sedimentos levantem, mantendo as águas turvas como já mencionado.

Nos Estados Unidos existem areas sinalizadas com a seguinte expressão: NO WAKE AREA, ou seja: É Proibido Fazer Marolas! Mas em nossas águas seria impossivel, pois pessoas e até mesmo autoridades, entram até nas marinas em alta velocidade. Fica dificil convencer as pessoas que naquele santuario seria necessário entrar e sair em marcha lenta, sem marolas e sem bigode, e sinceramente não da pra entender como perder apenas uns poucos minutos de baixa velocidade poderiam fazer mal a alguem?!!

Não podemos também, deixar de perceber a enorme quantidade de casas e luzes ao redor do Saco de Céu, que não nos permitem mais observar as estrelas do firmamento refletidas da superficie. Em relação a isto, é fato que a vila de Jericoaquara no Ceará, se orgulha de não possuir iluminação pública, um de seus diferenciais e que ajudam a trazer mais e mais turistas. Se não concordam comigo, tudo bem. Lembremos então que provavelmente a totalidade das propriedades que se espalham pela orla não possuem tratamento de esgoto algum, assim como a imensa maioria dos barcos que ali trafegam e pernoitam, isto talvez lhes faça pensar um pouco.

Voltando a nossa campanha de conscientização geo-ecologica, fica registrado nosso apelo para que estes velozes pilotos reduzam a rotação de seus motores e controlem seus manetes para que mais destruição não seja feita, unindo assim o útil ao agradável, eles diminuiem a velocidade e em (boa) troca desfrutam do incrivel visual, acima ou abaixo da linha d’água!

Nenhum comentário:

Postar um comentário