domingo, 28 de abril de 2013

The Boat is on the Table!


Os estrangeiros estão chegando! Na realidade, estão aqui faz um bom tempo, utilizando estaleiros brasileiros como laboratorios, aprendendo nosso modo de se relacionar com as aguas, e se aprimorando no sentido de tropicalizar seus barcos, adequando-os ao nosso mercado.

De uns tempos para cá, as matrizes europeias e norte-americanas dos estaleiros, começaram a se movimentar, e com a aparente abertura de nosso mercado, desovaram aqui não somente os barcos acumulados no estoque (encalhados é uma expressão que não se deve usar), pela crise financeira internacional, mas também projetos de plantas industriais, que estão em fase de instalação e algumas até de funcionamento no Rio, São Paulo e Santa Catarina, principalmente.

Por outro lado, alguns estaleiros brasileiros – antes dedicados apenas aos barcos de recreio, resolveram atender a demanda de um outro mercado, e estão “batendo quilhas” de barcos de serviço, geralmente encomendados pela gigante estatal Petrobras ou por suas contratadas. São barcos de transporte de tripulantes, rebocadores, lanchas de apoio, barcos de mergulho e todo o tipo de embarcação de trabalho, geralmente de casco metálico e acabamento espartano, o que não colabora muito para que ganhemos conhecimento (Know-how) no competitivo mercado da construção de Super e Mega Iates, dominado pelos estaleiros do Hemisfério Norte, além de alguns poucos da Oceânia.

Esta situação não deve mudar nos próximos tempos, pois o petroleo vem tomando todos os espaços sob e sobre as aguas, visto que até algumas marinas tem tido a infeliz ideia de abrir espaço em suas vagas, para receber Barcos de Serviço ou mesmo de Transporte de Passageiros. A maioria de cascos metálicos, com defensas e balrroas de borracha, manobras às vezes complexas, cabos de amarração desproporcionais e tripulações não adaptadas ao novo ambiente.

Porém, uma segunda leva de barcos deve aparecer por aqui, não demora muito. Os Super e Mega Yachts, dedicados à operação de Charter, algo ainda inexistente, mas que deixa avidos seus operadores, visto que é um mercado quase virgem, e um destino ainda não trabalhado. No passado, recente ou não, vimos varios barcos gigantescos circulando em nossas baias, todos pertencentes a grandes empresarios das comunicações, informática e petroleo estrangeiros, mas poucos se comparados a pequenas ilhas do Caribe, onde marinas acotoveladas umas as outras, recebem estes gigantes multimilionarios, dedicados a mais luxuosa (e talvez cara) forma de turismo jamais criada, o Charter em Super e Megayachts!

Porém, nosso mercado não se manteve virgem por tanto tempo de forma inocente. A legislação brasileira criou uma serie de impecilios à operação deste tipo de barco, e a burocracia praticamente bloqueia sua penetração em nossas aguas. Não levando em consideração o aspecto de entrada, com finalidade comercial, o que já seria um problema a mais relativo à vinda destes barcos, sabemos que o ideal para os operadores, seria entrarem no Brasil como um inocente barco de passeio, ficando por aqui o tempo permitido, e realizando o Charter Comercial clandestino em nossas águas.

Porém, a quilha é mais embaixo, para que possam operar no Brasil, precisam ter uma empresa que os afrete por aqui, somente assim a Receita Federal vai permitir que operem em nosso litoral. Seus tripulantes, sempre estrangeiros, tem de obedecer às nossas regras de imigração e, como aquaviários estrangeiros, terão os sindicatos locais em seu portaló, exigindo uma cota mínima de tripulação brasileira, que infelizmente não tem a menor noção do que é tripular um iate de luxo, e bota muito luxo nisto.

As Marinas, as poucas que temos, não têm em sua maioria, a menor possibilidade de atender a este tipo de embarcação, que demanda um cais seguro, para atracação ao longo do costado (é assim que fazem na America do Norte), precisam de muita água de qualidade e boa pressão, fornecimento de diesel de qualidade e preferencialmente sem impostos. Quanto a energia, são necessarias ao menos duas tomadas de 100 Amp, uma para o ar condicionado e outra para o restante do barco, o que costuma bastar.

Como se isto não fosse o bastante, faltam fornecedores de bebidas, comida, reparos e tudo o mais que envolve uma logistica que precisa ser 100% à proa de falhas, pois o valor pago pelo aluguel, não permite erros. Na Europa e America do Norte, existem varias empresas que entregam em seu portaló todos os melhores rótulos de bebidas, das melhores procedências. Queijos, carnes, trufas frescas, pescados de todos os tipos, caviares, embutidos da melhor qualidade e conservas como pesto de nozes, atum e botarga de Favignana, antepastos de berinjela, além de frutas e verduras premium, que deixariam qualquer cozinheiro feliz.

Enquanto isto não vem, continuaremos alugando (por preços exorbitantes) barcos mal tratados, tripulados por pessoas mal vestidas, invariavelmente mal treinadas, geralmente mal remuneradas e que não falam nenhum outro idioma.

Por fim, esquecemos que estes barcos não irão nos contratar, pois nossos tripulantes raramente possuem habilitações de nível internacional, o que os impedirá de embarcar, restando lavar os barcos e realizar pequenos bicos. Assim, manteremos nosso padrão de destino exótico, quase colonial, onde toda a precariedade e natural simpatia são desculpas aceitas para nossa crônica falta de profissionalismo!

Cabe a Marinha do Brasil, reconhecer a existência do Iatismo Profissional no Brasil, adotando as categorias já existentes no mundo desenvolvido, e nos dando a chance de disputar com os estrangeiros, esta nova “abertura dos portos para as nações amigas”!

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