sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Mordomia Sem Limites

Sabemos que o Iatismo é um dos tipos de lazer mais caros que existem, e a partir de certo ponto passa a ser realmente considerado um luxo. Para que esta forma de lazer lhe traga todo o conforto e bem estar que seu dinheiro possa comprar, é necessário que além do barco, tenha a quantidade de tripulantes que permita a operação não só do barco, no sentido de ir e vir e ser bem conservado, como o serviço de bordo precisa atender a todas suas necessidades, quer seja no dia a dia como no próprio status de possuir um barco, ou que ele represente seu modo de vida, em relação a sua familia, amigos e seus iguais do mundo dos negócios.

Pode parecer algo futil e desnecessário, mas quem não gostaria de estacionar uma bela Ferrari à porta do seu restaurante preferido? Assim é com o iatismo de forma geral. Ou as pessoas vão à conhecida “Praia do Dentista” no sábado de Carnaval apenas pelo lindo visual da Gipóia ou o som das ondas quebrando na praia? Quem conhece o lugar, sabe que o som percebido é apenas o de milhares de decibéis de som emitido por dezenas de barcos diferentes ao mesmo tempo, num quadro de caos total, onde cada um exibe o barco que possui, seu modo de vida, suas belas companhias e o que bebe a bordo.

Portanto, para que se possa desfrutar da vida de bordo, e me refiro a um calmo final de semana, numa enseada tranquila e semi-deserta, onde o canto dos pássaros ainda possa ser ouvido em harmonia com a natureza, necessitamos aproveitar ao máximo nosso tempo a bordo, sem que tenhamos de sair da água para buscar o que comer e beber, ou se resolvermos passear de SUP, que não tenhamos de inflá-lo e carrega-lo até a popa do barco, e para isto a tripulação é a grande ferramenta para que tudo aconteça da melhor maneira possível.

Nas embarcações de menor porte, muitas vezes não existem tripulantes fixos, e o proprietário pilota o próprio barco, utilizando a família e os amigos como tripulantes. Muitas vezes contrata pessoas para realizar a limpeza do barco durante os períodos de inatividade, quando o mesmo não é feito pela marina onde guarda o barco. O serviço de bordo se restringe a uma ou duas geleiras abastecidas de bebida e comida prontas, alguns embutidos e um espumante para o cair da tarde.

Conforme cresce o porte do barco, a necessidade de manutenção e limpeza permanentes obriga que se tenha um responsável, a quem se chama genericamente de “marinheiro”. Este único tripulante cuida de um barco de trinta e poucos pés, mas às vezes alguns bem maiores do que isto, atendendo solitariamente a quantas pessoas vierem a participar do passeio. Portanto, a relação: Passageiro X Tripulante, ainda é negativa.

Conforme o barco passa a ser considerado um Iate, digamos a partir dos 60 pés, um padrão melhor de profissional passa a ser necessário, e os tripulantes “ajudante”, não são mais um luxo e sim uma necessidade, sendo dois o seu número ideal. Portanto, o número de tripulantes mais do que dobra dos 30 para os 60 pés, passando a relação a ficar em torno de seis Passageiros para três tripulantes, ou 2 X 1.

Na casa dos 80 pés, três (bons) tripulantes são minimamente necessários. Um Capitão, um ou dois Auxiliares de Convés e outro Interno, que faça a arrumação de todos os ambientes e cabines e ainda cuide da cozinha.  Quando o barco chega aos 90 ou 100 pés, quatro passa a ser o número mínimo de tripulantes, pois as manobras são mais complexas, o serviço de bordo passa a exigir mais qualidade e eficiência e com um barco mais confortavel, chegam equipamentos mais sofisticados e um homem que atue como “coringa”, cuidando da manutenção e apoiando as outras áreas se torne necessário, a relação se mantem estável, pois um barco destes comporta mais passageiros, e temos 10 ou 12 passageiros para quatro tripulantes, ou simplificando três para cada um, e a piora nos serviços é inevitável a não ser que tenhamos um quinto tripulante, para os dias de barco cheio.

Conforme o barco cresce, e chegamos aos 120 ou 140 pés, a categoria dos Superyachts, este número praticamente dobra e cerca de oito ou nove tripulantes ganham serventia. Um Capitão, um Chefe de Máquinas ou Encarregado de Manutenção, como queira. Um cozinheiro, um Auxiliar de Copa e Bar, duas pessoas para arrumação interna, dois ou três para o Convés e barcos de apoio.

Subindo mais um degrau na escala do Iatismo, chegamos ao Megayachts, algo em torno dos 160 a 180 pés; aqui a relação empata ou se torna positiva, pois apenas doze convidados são atendidos por um mínimo de 16 tripulantes. Devemos levar em consideração, que muitos destes barcos operam em Charter, portanto o grau de exigência é muito maior, e nenhuma falha de serviço pode e será tolerada por alguém que esta pagando uma pequena fortuna por dia de uso de um barco. Mesmo que assim não fosse, não há Armador que invista em seu prazer tanto quanto o necessário para ter um barco destes, que se conforme com nada menos do que a perfeição.

Agora, se quiser saber como os aproximadamente quarenta afortunados do planeta, que possuem barcos acima das 3.000 toneladas de arqueação (>300 pés de comprimento) vivem? Saiba que apesar das dimensões, transportam apenas doze passageiros, e que o número de tripulantes que os atende, bate (fácil) a casa dos cinquenta. Voce leu corretamente, nestes barcos a relação é de quatro (4) tripulantes para cada passageiro, e isto se chama “literalmente” levar uma vida de Rei! Não raramente, este número pode chegar ao dobro, dependendo do calibre do Armador, padrão “Rei da Arábia Saudita”.

Alguns dos proprietários de Gigayachts, não tem apenas um barco e costumam organizar escritórios para administrar sua pequena frota de Iates, que selecionam, contratam e distratam tripulantes. Cuidam das escalas de férias, dos salários, auxílios vários, fornecimento de uniformes, passagens e traslado destes, além de todas as obrigações trabalhistas necessárias. Um exemplo é o da centena de tripulantes contratados pela Golden Fleet, constituida de três barcos, um gigayacht de 80 metros (262 pés), um Trawler de 67 metros (219 pés), que transporta inúmeros brinquedos e barcos de apoio, incluindo um pequeno hidroavião, e um barco de 29 metros (96 pés) destinado exclusivamente a pesca esportiva.

Sabemos porém, que não estamos tratando de uma ciência exata, e que as estruturas variam de barco para barco. O número de tripulantes vai depender do grau de envolvimento do proprietário na dia a dia do barco, do padrão de serviço que ele deseja para si, do número, finalidade e padrão de convidados que pretende receber, o local onde vai navegar e muito mais, sem falar principalmente na disponibilidade de capital para fazê-lo.

Voltarei a este inebriante assunto, e de preferência para nossas próprias águas, onde este tipo de embarcação aparece muitíssimo raramente. Veremos os motivos que levam estes afortunados, a se afastar de nossas águas. Bons e maus motivos não faltam, infelizmente.

Um comentário:

  1. interessante o post, não tenho nenhum super iates infelizmente :(
    mas fiquei curioso em saber porq vc falou que não falta motivos pra não vemos super iates por aqui

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