Estamos às vésperas da Estação de Furacões no Caribe, e irei publicar uma serie de textos a este respeito, segue o primeiro:
Verão
no Caribe, época “deles”
Ao longe se ouve uma steel-band. Voce esta sentado à mesa de um Tiki-bar, aproveitando de um belo Sundowner, o happy-hour
do Caribe, enquanto espera observar o green-flash
no horizonte de aguas azuis turqueza. Com o dedo gira as rodelas de laranja de
um gelado Rhun-punch, enquanto
degusta uma pequena porção de borrachudas conch.
Não mais do que derrepente, a Radio Local interrompe
a programação com um boletim de Gale
Warning ou Hurricane Watch, e o
clima subtamente muda. Rostos barbados e bronzeados se entreolham, gringos com
grandes chapéus de palha matam de uma golada seus aperitivos e um a um se
levantam, rumando para seus botes com um ar visivel de preocupação.
Neste exato momento, cai sua ficha e voce percebe
que esta na hora e local errados. Pego de bermudas na chamada Estação de Furacões, ali não é hora de
estar de bobeira! Nesta época o clima intercala dias de céu claro e brisa
fraca, com outros tantos de chuva torrencial, violentas ressacas e ventos assustadores.
Portanto, escolha bem sua rota, levando em consideração o clima das regiões do
mundo que pretende navegar, principalmente em relação à ocorrência de Ciclones.
Poucos fenômenos naturais são tão intensos e
assustadores como os Ciclones Tropicais, fenômeno que, dependendo da região do
globo pode ganhar o nome de Tufão, Furacão ou mesmo Willy-willy. Aqui, iremos comentar apenas os que ocorrem no
Atlântico Norte e Mar do Caribe, os Furacões.
Apesar de a citada Estação ir oficialmente de 01 de
Junho a 30 de Novembro de cada ano, é fato que não existe data fixa para a
ocorrência destas tempestades, como alguns artigos costumam determinar. Já
foram registrados furacões em Dezembro e Janeiro; por vezes em áreas que nunca
haviam sofrido este tipo de tormenta.
No Brasil, conhecemos as tempestades que precedem e
acompanham as frentes frias, e que podem ser bastante violentas; também
conhecemos as rápidas chuvas de verão que desabam sobre nossos barcos com enorme
violência, mas nada que se compare ao que acontece no Hemisfério Norte.
Ciclones não são tempestades normais, cujos ventos vem de uma direção definida,
como o Sudoeste e Sul das Frentes Frias, mas algo muito mais forte, cujos
ventos giram em espiral no sentido anti-horário em direção ao Olho enquanto este se desloca, a 15 ou
mais nós no sentido Leste-Oeste ou Leste-Noroeste, dependendo da região do
“encontro”.
Durante a Estação dos Furacões, sua atenção deve se
prender a parte Leste e Sul do Atlântico Norte, dos Açores às Ilhas do Cabo
Verde, onde as chamadas Tropical Waves
(Ondas Tropicais), um enorme cavado, formado por massas confusas de nuvens e
grande umidade, partem do Continente Africano a cada três ou quatro dias,
rumando para o distante Caribe com sua carga de umidade e energia, portanto
muita atenção.
Por estatistica, os furacões acontecem em maior
quantidade entre Agosto e Outubro, sendo Setembro o mês de maior ocorrência,
cerca de dois por mês nos últimos cem anos. Porém, em um ano complicado, este
número pode ser muito maior. Em anos bons, furacões podem nem ocorrer, mas em
anos ruins até quinze podem varrer as Ilhas do Caribe, principalmente as
Antilhas, as Virgens e Bahamas. Furacões muito raramente atingem as ilhas mais
ao Sul, como Grenada, as chamadas ABC (Aruba, Bonaire e Curaçao) e até a
propria Venezuela, mas não há como ser categórico quanto a isto.
Trajetoria e comportamento
No inicio e no final da estação, os furacões podem
se formar já muito próximos do Caribe. Notadamente nas imediações de Barbados
no inicio. No final, podem vir a se formar até mesmo na Peninsula mexicana de
Yucatan, o que não permite que sejamos avisados com o tempo necessário para
procurar abrigo. Por vias de regra, fique longe desta região nas épocas de
maior possibilidade. Mesmo que sua ilha não seja atingida diretamente pela
passagem de uma tempestade destas, as chuvas e principalmente as ressacas podem
chegar com grande intensidade, causando problemas.
Os furacões podem nascer próximos da Africa como
uma Depressão ou Tempestade Tropical, ou mesmo a meio caminho de sua viagem
rumo ao Caribe. Depois que se tornam furacões, cruzam o oceano entre os 07°N e
os 15°N e ao se aproximar do Caribe, costumam derivar para Noroeste, raspando
ou cruzando as Antilhas e as Ilhas das Bahamas. Algumas vezes fecham uma curva,
passando ao largo do litoral Norte-Americano, indo dissipar no meio das aguas
frias do Oceano Atlantico Norte. Porém, algumas vezes cruza por sobre as ilhas
ou penetram no continente, causando as tragedias de que já ouvimos falar, como
o Andrew, o Katrina e mais recentemente o Sandy.
Ciclogenese
dos Furacões: de Onda Tropical a Furacão
Pode surpreender, mas o berço das chamadas Ondas Tropicais se situa na Região
Africana do Sahel (ou Sahil), que significa Fronteira, um
cinturão climático localizado entre o Deserto do Saara e as Savanas do Sudão,
possui aproximadamente 600 km de largura e 5.400 km de extensão, cortando cerca
de treze paises. Esta região cruza o Continente Africano do Mar Vermelho ao
Atlantico e é coberto por estepes semi-aridas, onde chove apenas de 150 a 300
mm por ano. Por ser extremamente quente, acreditasse que quando há uma
precipitação fora do comum, ali possam se criar grandes massas de ar quente e
umido, dando origem as Tropical Waves.
Na contramão do Sahel,
atua o nosso já conhecido El Niño,
que é a inversão das correntes no Pacifico Sul, trazendo aquecimento ao litoral
ocidental da America do Sul e criando correntes de ar contrarias as normais (Leste-Oeste).
Este aquecimento de até 4°C, como o registrado em agosto de 1997, ano do mais
forte El Niño do século XX, permitiu
registrar a menor ocorrência de furacões no Atlantico em quase 70 anos, com
apenas um ciclone registrado entre os meses de Agosto e Setembro. Portanto,
quanto mais forte o El Niño, menor é
a possibilidade de furacões. Em 1995, o El
Niño não compareceu e 19 furacões se desenvolveram. Até março de 2015 os meteorologistas anunciaram frustradamente a
formação do fenômeno, mas apenas em Abril ele começou a se confirmar, pois até
então o aumento de temperatura nas aguas do Pacifico, era de apenas 0.6°C, algo
insuficiente para afetar o clima no distante Atlântico.
Sabemos que não há uma Fórmula Mágica para se
determinar quando e como um furacão vai se formar, mas existem condições que
associadas tendem a favorecer a “organização” de uma tempestade, que pode vir a
se tornar um Furacão:
1. A
existência de uma Onda Tropical; sabesse que 85% dos furacões se desenvolvem a
partir de uma delas (leia abaixo);
2. A
temperatura da agua do mar precisa ser maior ou igual a 26°C (79°F);
3. Deve
existir uma area de pressão sensivelmente mais baixa que as massas ao redor;
4. Atividade
convectiva moderada ou forte;
5. Condições
“favoráveis” nas camadas medias e altas da atmosfera (algo dificil de ser
definido ou medido);
6. A
não ocorrência do fenômeno EL Niño no
Pacifico, é compreendida como sinal de Estação agitada, com muitos furacões
(até Março de 2015 ele não havia aparecido);
7. A
ITCZ ou Zona de Convergência
Intertropical deve ser estreita e de grande e até violenta atividade convectiva.
Acreditasse que ao “esbarrar” de uma Onda
Tropical, ocorra o inicio do movimento ciclônico dos ventos, numa mais do
que complexa interação.
Tropical Waves, o berço dos furacões
As Ondas
Tropicais (Tropical Waves) também
conhecidas por Ondas Orientais ou Ondas Orientais Africanas, como citado
acima, são Cavados ou linhas de baixa pressão alinhadas num eixo
Norte-Sul que podem medir cerca de 20° de Latitude, digamos entre os 05°N e
26°N, mas normalmente se situa entre os 10°N e os 20°N. Durante o verão do
Hemisferio Norte, estas ondas se formam a cada três ou quatro dias, já próximas
das Ilhas do Cabo Verde (15°N - 025°W), sendo que sua largura pode ocupar de
quatro a seis graus de longitude. Veja que falamos em algo que pode medir 1.000
milhas no sentido N-S e aproximadamente 300 milhas de largura.
O deslocamento inicial das Ondas Tropicais segue numa direção SW e depois, quando alcança
aproximadamente os 030°W toma o sentido francamente Oeste, rumo à cadeia de
Ilhas do Caribe. Sua velocidade pode variar entre os normais 10 e
surpreendentes 30 nós. Estudos dizem que Ondas
lentas, mas de forte Atividade Convectiva
são mais preocupantes que as rápidas, pois tem maior chance de vir a se tornar
furacões.
Nota: Atividade
Convectiva é a troca de energia entre as camadas mais baixas e mais altas
da atmosfera, que associamos mais facilmente ao movimento interno de uma nuvem,
onde o ar quente e umido sobe até as camadas superiores da atmosfera e se
condensa, e ao se tornar mais frio desce na forma de chuva. Esta circulação
forma nuvens de aspecto de torre, como os Cumulus
Nimbus, também conhecidos por CB’s, e concentra grande quantidade de
energia.
Estas Ondas
Tropicais, como citado, são associadas normalmente a enormes concentrações
de nuvens, que se deslocam em conjunto, mas não apresentam um padrão de
comportamento definido, podendo seus ventos circular internamente de qualquer
direção, são consideradas massas desordenadas. Sua atividade convectiva (troca
de energia entre a base da perturbação e as camadas mais altas da atmosfera)
pode determinar sua pericolosidade, pois quanto maior esta atividade, maior é a
possibilidade de vir a evoluir para uma Tormenta Tropical, depois uma
Tempestade ou até mesmo se tornar um Furacão.
A
Evolução das Tempestades
Quando estas Ondas
chegam as Ilhas do Caribe, sem ter se desenvolvido para uma depressão
organizada, trazem chuvas pesadas e ventos violentos que podem vir de qualquer
direção, normalmente entre os 25 e 45 nós, podendo registrar rajadas de até 60
nós, portanto não se trata de uma instabilidade qualquer, e requer seus
cuidados ao tentar enfrenta-la.
Porém, quando uma Onda Tropical apresenta forte
atividade convectiva, como comentado, ela pode se organizar e tomar uma
orientação ciclônica, começando a rodar no sentido anti-horario, originando uma
Perturbação ou Depressão Tropical (Tropical
Disturbance ou Depression), que
costuma trazer chuva forte e ventos que se sustentam entre os 25 e os 33 nós.
Já a Tempestade Tropical (Tropical Storm ou
Gale) traz muitíssima chuva e ventos
entre os 34 e os 63 nós. Já o Furacão (Hurricane)
traz chuvas torrenciais e seus ventos sopram acima dos 64 nós e pior, não se
conhece o limite máximo de intensidade, pois o maior já registrado chegou a 186
nós, o Supertufão Nancy (veja quadro
abaixo).
Relembrando, Sabemos que os furacões dependem da
temperatura da água do mar para se alimentar, desenvolver e se manter. Esta camada
de agua quente sobre o oceano, nunca é mais fria do que 26 graus centigrados, e
sua espessura chega aos 50 metros de profundidade, portanto, todas as vezes que
um furacão penetra nos continentes, fica sem este principal “combustivel”
fornecido pelo oceano, perdendo rapidamente sua potência, mas não sem antes
causar um enorme estrago.
Tenha o tamanho que tiver, sabemos que se trata de
uma tempestade extremamente perigosa, e como veremos no próximo texto, possui
uma arquitetura muito semelhante a um labirinto em espiral, outra caracteristica
de uma armadilha letal.
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