terça-feira, 26 de maio de 2015

CICLONES DO CARIBE II

Estrutura física de um Furacão:

Um furacão possui uma arquitetura bastante peculiar. Conforme vimos anteriormente, a  Tempestade Tropical, já previamente organizada, vai girando e ganhando força, seus ventos ao chegarem à casa dos 63 nós formam o chamado Olho do Furacão (Eye), que fica em sua parte central e pode medir entre 2 e 200 Milhas Nauticas, mas na media costumam medir cerca de 16 milhas. O olho é a parte do furacão onde praticamente não venta, permanecendo quente e abafada, mas a condição do mar em seu interior continua uma catasfrofe com vagas vindo de todas as direções, podendo chegar a impressionantes 40 metros de altura! Este olho pode ou não possuir um “chapéu” de nuvens, podendo ficar encoberto nas fotos tiradas do espaço.

No perímetro do Olho encontramos um anel ou parede vertical de nuvens espessas e chuva torrencial, conhecida por Muro do Olho (Eyewall). Os ventos que giram ao redor do olho convergem para esta região, portanto ali encontramos os ventos mais fortes da tormenta, e é onde realmente mora o perigo! Este Muro é constituido por formações densas de nuvens em forma de Torre, chamadas de Torres de Calor (Heat towers), onde ocorrem as precipitações mais fortes e onde o calor do ar sugado se concentra de forma mais sensível.


As nuvens do Muro podem chegar a Tropopausa, que separa a Troposfera da Estratosfera, e que fica aproximadamente a 17 km de altura nas regiões tropicais. Lá o Muro se alarga, abrindo como um cogumelo gigante. Devemos lembrar que o processo é extremamente dinâmico, e que Muros novos podem se formar externamente aos já existentes, absorvendo-os e alargando sua espessura, gerando uma tempestade cada vez mais forte e estavel num ciclo chamado de Ciclo de Reposição do Muro (Eyewall Replacement Cycle)


Concentricamente existem outros aneis como o Muro do Olho, que são aneis formados por nuvens extremamente carregadas que podem ser chamadas de Aneis de Chuva (Rainbands).
O diametro de um furacão pode variar bastante e tem relação com a distância do centro onde são encontrados seus ventos mais fortes, mas teríamos de mergulhar em dados cientificos que escapam nosso objetivo. Porém, se levarmos em consideração apenas o diametro do “cogumelo” ou chapéu de nuvens, os registros mostram que o menor registrado foi o Ciclone Tracy de apenas 60 milhas de diametro, e o maior o Tufão Tip, que apesar do nome pequeno, mediu espantosos 1.133 MN ou 2.100 km de diâmetro.

Perigos complementares:

Como se não bastassem os ventos, os ciclones têm ainda um repertório amplo de “efeitos colaterais” que podem representar riscos aos navegadores;

Ressacas (Swells): podem ocorrer a qualquer momento, causadas por Furacões, ou mesmo pela passagem de uma Frente Fria durante o inverno, o que pode tornar um seguro fundeadouro de sotavento, num pesadelo enorme. Conforme uma depressão avança, devesse acompanhá-la, a fim de identificar o perigo de uma virada brusca nas condições de tempo. Ser apanhado desprevenido pode lhe trazer grandes problemas.

Surge: que podemos compreender como uma maré anormal, ou “cabeça-d’agua”, a massa de agua litoranea é pressionada pela aproximação da tempestade e se ergue (brota) muito acima de seu nivel normal, assim como a propria baixa pressão do Olho faz que a agua suba. Estas marés podem cortar as rotas de fuga cerca de três a cinco horas antes da chegada da tormenta, devido à maré poder subir cerca de três metros (9 a 12 pés), no caso de um Furacão Categoria III. Sabemos que ninguém amarra um barco da forma convencional para uma maré destas, portanto esteja preparado e procure conhecer os acessórios e métodos para melhor ancorar seu barco.


Resultado de uma surge ou maré anormal

Comportamento do Navegador: uma orelha no radio e um olho no barômetro!

Lembra dos navegadores bronzeados e barbados do inicio desta serie de textos? Depois que voltaram para seus respectivos barcos, ligaram seus radios, anotaram todas as posições informadas e depois, abriram uma enorme carta de navegação do bom e velho papel e com auxilio de lapis, regua e compasso começaram a plotar a posição e a possivel tragetória da tempestade, a fim de analisar o risco de serem atingidos, começando assim a se preparar para procurar um abrigo ou fugir enquanto é tempo!

Outra medida tomada por todos é estocar agua e comida, abastecendo o barco com combustivel e mesmo gas de cozinha, para o caso de precisar partir de imediato para o destino que for! Alguns compram pedaços de compensado e lona grossa e praticamente todos procuram por mais cabos de amarração, pesadas âncoras sobressalentes e roupas de mau tempo.

Uma vez que uma tempestade se transforma em Furacão, ela ganha um nome e passa a ser monitorada permanentemente pelo National Hurricane Center da Florida (http://www.nhc.noaa.gov), que emite boletins de previsão a cada seis ou três horas, dependendo da violência do mesmo. Os navegadores da região alertam para que se mantenha o (necessário) radio AM sintonizado na frequência de 780 kHz, pois a radio ZBVI das Ilhas Virgens, costuma manter seus ouvintes informados constantemente. Porém, não é a única emissora a fazê-lo, pois praticamente todas as radios AM, FM e os canais especificos de VHF noticiam a evolução destas tempestades, até quase surtar os ouvintes!

O mais correto é não se aproximar do Caribe durante a Estação de Furacões, pois muitas das companhias de seguros não costumam cobrir avarias em barcos sinistrados entre Junho e Novembro, mesmo que o acidente nada tenha a ver com a passagem de um furacão, portanto é um risco a mais a se assumir.

Caso não tenha opção de rumar em Maio para o Mediterrâneo, Trinidad ou Norte da America do Sul tenha em mente conseguir o melhor abrigo possivel a fim de encarar as tormentas que fatalmente lhe atingirão nesta época, pois como vimos não há tempo facil neste período. Retornar ou rumar para o Brasil a partir do Caribe é péssima opção, pois as correntes e ventos podem transformar esta empreitada em enorme sacrificio para barco e tripulação.

Abrigos de Furacão (Hurricane Hole)

A proteção que um abrigo como um estreito canal no meio do mangue pode lhe proporcionar depende diretamente da trajetoria e da violência do furacão. Mesmo que voce se proteja dos ventos e das ondas, ainda pode sofrer com as ressacas, com os barcos ao seu redor, com os objetos que podem lhe ser arremeçados e ainda pelo “surge”, que como sabemos pode fazer a maré variar rapida e violentamente, oferecendo riscos à amarração e à sua embarcação.

Prefira se possivel, um bom abrigo em terra, numa daquelas vagas cavadas no solo e com boa amarração, desarme o barco, amarre, prenda, guarde tudo, se tranque e reze. Muitos navegadores preferem enfrentar as tempestades longe de terra, onde um barco costuma estar indefeso e sem possibilidade de reação, mas isto vai de cada um e é muitissimo raro alguém de dispor a partir, a fim de encarar a maior força da natureza de peito aberto. Não é aconselhável de forma alguma!

No Hemisferio Norte, os ventos dos Ciclones circulam no sentido anti-horario, e para fins de segurança, são divididos em semi-circulos, onde podemos identificar o de maior periculosidade e ainda adotar estrategias classicas para fugir de seus perigosos ventos.


A tecnica de se enfrentar um furacão dita que ao navegarmos no Semicirculo Perigoso, devemos navegar em um ângulo reto em relação à trajetoria do furacão, recebendo o mar pela bochecha de Boreste, quase capeando, para assim conseguir se afastar do Olho. Porém, ao navegar no Semicirculo menos perigoso, conhecido por “Navegável”, voce deve procurar fugir para o Sul, também em ângulo reto com a trajetoria, procurando receber o mar e o vento pela Alheta de Boreste, fugindo ou correndo com o tempo, se afastando do perigo.

É impressindível plotar numa carta geral a posição do Olho do Furacão a cada boletim que receber, pois as trajetorias podem mudar muito rapidamente e o que parecia ser uma boa posição ou abrigo pode se transformar em uma arapuca letal.

Como já vimos, quanto mais longe do “Muro” melhor!



4 comentários:

  1. Parabéns pelo blog. Pertinente e obrigatório!! Não conhecia....
    Seu livro já tenho há muito e li algumas vezes.
    abraço.

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