domingo, 11 de março de 2012

Vento Zero, Mar Zero

Segundo-dia de Viagem, Dia 08 de Fevereiro de 2012.

Durante a noite, um vento vindo do alto da ilha perturbou um pouco, mas quase não durou, foi apenas o bastante para tornar o sono uma sucessão de deita e levanta para checar a posição, visto que o fundeio não foi lá uma perfeição, ficando abaixo do nosso padrão.
As sete da manhã suspendemos a âncora e seguimos rumo Sul no canal, assim que passamos a linha de travessia das balsas, e não havendo manobra alguma de navios naquele momento, largamos nosso reboque e seguimos com a proa 234 graus verdadeiros, para 24 horas de travessia. Explico que, ao manobrar-mos próximo a outros barcos, levamos nosso bote com cabo curto, largando depois todo o sistema, quando temos mais segurança de manobra. Por se tratar de um canal muito movimentado, principalmente pelo cruzar das balsas, levo o barco do comando situado no Fly, que permite melhor visibilidade. Portanto, após largar o cabo de reboque, desci para o comando interno, devido a maior comodidade, equipamentos e segurança.
O vento e o mar estavam totalmente calmos, e a visibilidade só era prejudicada por uma bruma, normal das manhãs daquela região. No AIS (Automatic Identification System) localizei uma Fragata da Marinha, nas proximidades do Arquipelado dos Alcatrazes, e mais nada em toda a passagem, o que é raro.
Após quase três horas de navegação, só haviamos visto algumas poucas aves solitarias, um ou outro peixe saltando e mais nada, quer seja de trafego marítimo, ou comunicação pelos canais de VHF que fazemos escuta... nada.
Passamos bem próximos a Laje de Santos, um conjunto de pedras, localizado a uns 80 Km para fora do porto de mesmo nome. Confesso que nunca havia passado tão próximo dela, pois geralmente estamos indo e vindo do Guarujá, e a laje fica bem fora de mão para quem vai para terra.
As 16h40 um rebocador de nome Lugos, aparentemente em viagem inaugural, ou realizando provas de mar, veio navegando de terra e de forma inconstante, mudou de rumo varias vezes, realizando giros radicais, e só faltou mesmo é dar piruetas. Por fim, veio em nossa direção e sem dar importancia a nosso reboque, cruzou nossa proa para depois emparelhar com nosso rumo, e seguir com um pouco mais velocidade, também rumo ao Sul.
No final do dia, passamos pela Ilha da Queimada Grande, um imenso viveiro de cobras utilizado pelo Instituto Butantã de São Paulo, onde varias especies de cobra vivem em total liberdade... só faltou a macieira!
No AIS, identificamos pela nossa popa, um navio de nome Mercosul Santos, com mesmo destino e horario de chegada que o nosso, porém algo me chamou a atenção, o prefixo dele: PPUT, é o mesmo do navio que foi meu primeiro embarque, ainda em 1981, o graneleiro Frotargentina, da extinta Frota Oceânica Brasilieira, e que foi desmanchado e derretido em um alto forno chinês no ano passado... Rei morto... me senti um bocado velho!
Seguimos com nosso rumo e velocidade, prevendo chegar ao clarear do dia.


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